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terça-feira, 18 de julho de 2023

O Caminho espiritual da solidariedade compassiva


Marcelo Barros 


Para os povos da América Latina e movimentos populares, o mês de julho traz recordações importantes. No dia 24 de julho de 1783, nasceuSimon Bolívar, o libertador. Em julho, países como Cuba e Nicaráguacelebram dias importantes no processo de sua libertação. No 17 de julho,recordamos a páscoa de Bartolomeu de las Casas, que, no século XVI,atuou no Caribe, no sul do México e na América Central. Era fradedominicano que, ao ver o sofrimento dos índios se converteu e se tornoumissionário e teólogo para lutar contra a escravidão. Defendeu a dignidadedos índios junto ao rei da Espanha e escreveu o primeiro tratado de teologiae espiritualidade que ensina: nos corpos dos índios escravizados, é o próprio Jesus Cristo que é explorado pelos que se dizem cristãos.

Atualmente, quase cinco séculos depois, podemos lamentar queao protestar contra a escravidão indígena, Las Casas não tenha sabido denunciar o próprio sistema colonizador em si mesmo. E há quem o acuse de ter aceito o tráfico e a escravidão dos africanos para substituir os índios nas minas e engenhos da colonização. Não há provas disso. De fato, ao morrer em 1566, Las Casas não chegou a antever esse problema. O tráfico de africanos sequestrados para ser escravos na América floresceu mais em época posterior, a partir das últimas décadas do século XVI. Seja como for mesmo com suas contradições, os escritos desse grande missionário são referência para nova concepção intercultural de missão e de leitura da história a partir das vítimas e não dos vencedores.

A espiritualidade lascasiana sustenta que a missão cristã não pode ter como objetivo conquistar adeptos para a fé. Deve valorizar a presença divina em toda realidade humana e respeitar a diversidade das culturas. Se não for assim, as missões católicas e evangélicas levam às comunidades indígenas não a boa notícia do evangelho de Jesus e sim destruição das culturas, colonialismo e morte.

Ainda em nossos dias, no Brasil, povos indígenas continuam massacrados, vítimas de um modelo de progresso que olha os índios como estorvo para a concentração de terras, o agronegócio e os lucros das grandes empresas. Na Amazônia, os Ianomami e vários outros povos continuam perseguidos e massacrados.

A memória de Las Casas nos chama a defender a vida e a liberdade dos índios pelas razões humanas e sociais, mas também como exigência espiritual da nossa fé. Não podemos aceitar projetos como o Marco Temporal que nega aos povos originários o direito a suas terras ancestrais. Em 1815, em sua “Carta a Jamaica”, Simon Bolívar considera o elemento religioso como aglutinante da alma americana e formula “a necessidade urgente de uma união de nossos povos, ligados por elementos culturais e religiosos comuns”.

Nestes dias, de 18 a 22 de julho, em Rondonópolis, MT, se reúne o XV Encontro intereclesial de comunidades eclesiais de base com o tema: CEBs; Igreja em saída, na busca da vida plena para todos e todas!” O lema do encontro é a palavra bíblica: “Vejam! Eu vou criar Novo Céu e uma Nova Terra” (Is 65, 17). O Amor Divino quer realizar essa renovação da vida e do mundo através de nós. Essa deve ser a nossa espiritualidade.

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