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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

CASA DE DEUS: LUGAR DE COMUNHÃO, ABRIGO DOS POBRES




por Kinno Cerqueira [1]


Cerca de 600 anos antes de Cristo, o Reino da Babilônia invadiu Jerusalém, levou quase todos os seus moradores como escravos e destruiu o Templo que havia sido construído durante o reinado de Salomão. Setenta anos depois, a Pérsia derrotou a Babilônia e liberou os judeus para voltar à sua pátria e reconstruir Jerusalém e o Templo. A princípio, o povo estava animado, mas não durou muito e o ânimo do povo foi por água abaixo. Como havia muito que reconstruir na cidade e nas roças, o povo se viu cansado e preferiu priorizar a reconstrução de suas próprias casas e roças, enquanto a reconstrução do Templo ia ficando para depois.

Foi neste contexto que Ageu profetizou. Em linhas gerais, a Palavra de Deus proferida por Ageu consiste basicamente em denúncia, constatação, chamamento e promessa. Denúncia: o povo está preso no egoísmo e no interesse próprio, preocupando-se tão somente com a reconstrução de suas propriedades privadas (1,2-4). Constatação: a roça do povo não vai bem e a razão para tal é a desunião provocada pelo egoísmo (1,5-7.9-11). Chamamento: o povo é convocado a superar o egoísmo e unir-se em vista de um projeto comum, isto é, a reconstrução do Templo, lugar de vivência comunitária da fé (1,8; 2,4.8). Promessa: se o povo decidir viver a comunhão verdadeira, a roça irá bem e o povo terá paz (2,15-19).

Não se pense, porém, que a reconstrução do Templo era importante em si mesma. A grande questão que está por trás da profecia de Ageu é o refazimento da comunhão do povo e o cuidado para com os pobres. Longe do Templo, o povo facilmente se esqueceria da exigência fundamental de Deus: a prática da justiça que, na Bíblia, significa assegurar a dignidade e o direito dos pobres (Am 5,21-24; Is 1,15-17; 10,1-2; Jr 22,3). Reconstruir o Templo é refazer a vida longe do egoísmo que atrofia os relacionamentos e adoece a sociedade.

Reconstruir o Templo é reatar a comunhão com a vida e com o Deus da vida, com vistas a encontrar força e inspiração para lutar pela justiça para todos, mas especialmente e sobretudo para os empobrecidos, aqueles que Jesus chama de “meus irmãos mais pequeninos” (Mt 25,40).


[1] Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos.

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