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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

AULA NÃO ENSINA, PROVA NÃO AVALIA

 


Prof. Martinho Condini

 

         “Aula não ensina, prova não avalia”, está frase é do Professor José Pacheco, fundador da Escola da Ponte em São Tomé, Portugal, há mais de quarenta anos.

         Muitos professores(as) e diretores(as) estudaram, beberam e respiraram o pensamento e a prática de pensadores da educação como, por exemplo, Vigotsky, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Rubem Alves e outros.

         O mais incrível é que muitos deles continuam a desempenhar os seus trabalhos educacionais na escola do século XIX. Mas a maioria desses profissionais é do século XX e grande parte dos seus alunos (as) é do século XXI.

         Assim sendo, para a maioria desses profissionais em meio a tantas aulas remotas ou on line em plena pandemia, não estiveram tão preocupados com a formação dos seus alunos, mas, como as avaliações e como fazer para evitar as “colas”.

         Prevalece ainda em nossa cultura educacional a avaliação como o êxtase do processo ensino-aprendizagem, às vezes, tenho a impressão que a aplicação de algumas formas de avaliação me parece mais uma atitude sádica do que compassiva por parte dos educadores.

         Então, quando analisamos os dados estatísticos em relação ao aproveitamento naquelas avaliações impostas pelo Estado, verificamos que o aproveitamento dos nossos alunos estão abaixo dos índices satisfatórios para os padrões estabelecidos.

         Uma hipótese para explicar esse dado é que aula não ensina e prova não avalia mesmo, porque o nosso ano letivo é de duzentos dias e muitas avaliações são realizadas durante esse período.

         Outra hipótese seria a qualidade da formação dos nossos professores (isso não significa que o professor(a) seja o culpado pela “aula não ensinar e a prova não avaliar”).

         Mas, o sistema educacional neoliberal que mercantilizou o ensino superior  tem responsabilidade direta com as hipóteses expostas. Desde que os interesses econômicos se sobrepuseram aos interesses educacionais, a qualidade dos cursos de licenciaturas passam a ser menos importante do que o valor das ações dessas instituições na bolsa de valores. E na pandemia isso se agravou mais ainda com dispensa de professores, acentuando a precarização dos cursos de licenciatura e as condições de trabalho do professores formadores dos profissionais da educação.

         Se ao contrário do que afirmou o Professor José Pacheco, “a aula ensina e a prova avalia”, e estamos fazendo isso desde quando os jesuítas aqui chegaram, se em algum momento isso deu certo, hoje não esta dando mais, se estiver dando certo é para uma minoria, e se é  para uma minoria,  alguma coisa está fora de lugar.

         Nós continuamos a ter um sistema educacional que invés de formar oprime. O papel da educação escolar é formar, possibilitar o conhecimento e ser inclusiva.        A meritocracia é para o mercado, o capitalismo impôs suas engrenagens para educação, mas a educação é processo de formação, quem estabelece metas são os banqueiros, os educadores realizam processos de aprendizagem, etapas de desenvolvimento, os  educandos são seres humanos, e por isso, diferenciam-se um dos outros no tempo e jeito de aprender.

         Os jovens no Brasil ficam três anos no ensino médio, mas quem estabelece o  conhecimento adquirido não é o que ele produziu nestes três anos, mas essa vergonha de processo meritocrático denominado vestibular, que tanto lucro já deu e continua dando aos empresários da educação nesse país.

         E o disparate desse vestibular, é que aqueles que o preparam e aplicam, se o fizerem, provavelmente só passarão, se passar, em sua área de conhecimento. E os estudantes têm que provar que sabem tudo sobre todas as áreas para chegar a universidade, apesar terem demonstrado isso quando concluíram o ensino médio.

           O bom de tudo isso é que após esse massacre os estudantes vão esquecer boa parte do que aprenderam, porque nós guardamos apenas o conhecimento que nos interessa.

         Sem contar que uma grande parte de jovens no Brasil são excluídos desse processo elitizante e injusto, pelo fato de ser uma disputa desigual entre jovens em condições sociais e econômicas com diferenças brutais.

         Infelizmente, em nosso país a educação é muito mais um negócio para os capitalistas ganharem dinheiro do que uma política de Estado, que apenas utiliza a educação como ferramenta de controle para atingir seus interesses eleitoreiros.

         A educação escolar deveria ser autogestionária onde educadores e educandos  determinassem o que seria estudado e de que maneira, com normas e regras estabelecidas pelos envolvidos (sem o envolvimento  tiranico do currículo imposto pelo Estado).

         Dessa maneira teríamos a inclusão, o conhecimento e a autonomia de educadores e educandos de verdade sem interferências de interesses escusos.

         Uma educação e uma instituição de ensino (em todos os níveis) se não for libertária ela apenas reproduzirá os interesses dos tiranos que estão por de trás dela: o Capitalismo, o Estado e a Religião.                   

                O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com         

           

 

 

5 comentários:

  1. Tive o prazer de conhecer este grande mestre o professor Martinho, os seus estudos continuam ir ao encontro das minhas idéias, já me utilizei desta frase " a aula não ensina e a prova não avalia" do mestre José Pacheco e desconhecia a sua autoria, parabéns.

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  2. Grande mestre mesmo! Tbem tive a honra de ser sua aluna. Realmente prova, não prova nada!

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  3. Grande mestre mesmo! Tbem tive a honra de ser sua aluna. Realmente prova, não prova nada!

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  4. Grande Condini! Entendo que professores e professoras, presos à estrutura desumana imposta pelo Sistema opressor, despolitizados em grande parte e acusados como responsáveis por todas as mazelas do sistema educativo, em certa medida, ainda continuam entendendo a Avaliação da Aprendizagem como "acerto de contas" com o aluno, tratando-o como eterno irresponsável e displicente. Obrigado, Condini! Abraço!

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  5. Muito bonito o artigo! Escrito com a percepção e a defesa corretas da diferença entre ensinar de modo a permitir a reflexão e a alternativa falsa imposta pelos que nos condenam à miséria.

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