O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

PALAVRAS DE PEDRO - DIA DA RESISTÊNCIA INDÍGENA

 Dom Pedro Casaldáliga 




      Mas, claro, para assumir assim a causa indígena, é preciso despojar-se de todo etnocentrismo pastoral, de todo colonialismo. Mas “despojar-se”. Despojamento que deve ser sumamente lúcido, inclusive cientificamente, e talvez heroico. Como não, se isso implica deixar muitas coisas, pensar de outra maneira, renunciar, em parte, até à própria religião?

     Já não é renunciar simplesmente a costumes, a modos de comer e de vestir, ou de ver e de sentir. Sequer se trata de renunciar somente às filosofias. É renunciar inclusive à própria “religião”. Não digo à fé, claro. . .

     Para falar do momento atual da luta pela causa indígena seria bom partir de uma visão mais global, continental. Depois de superar uma primeira fase colonialista (que não descrevo; aí estão os livros de História), na qual um Las Casas disse grandes coisas muito bem ditas, não é?. . . Este é um santo de minha devoção, ao qual eu levantaria um monumento — embora não faça falta — em todas as aldeias indígenas do Continente, e diante de todos os conventos de frades missionários e de todos os bispados, para que nos entrasse pelos olhos, feito pedra e feito grito, o Las Casas que nos avisou a tempo e parece que só depois de quatro séculos começamos a despertar. . .

     Com uma visão assim, um pouco continental, haveria que destacar algumas figuras em vários lugares. No México está dom Ruiz; Samuel Ruiz, que foi secretário do Departamento de Missões do CELAM, figura extraordinária que merece muito dos povos indígenas e da Igreja da América Latina. Poder-se-ia destacar também o padre Meliá, catalão no Paraguai, antropólogo e missionário, que trabalha com os índios Guarani. E outros antropólogos missionários, outros núcleos de missão que, em vários lugares da América Latina, já há alguns anos partiram para uma autocrítica, despojaram-se do preconceito religioso latino, romano, ocidental etc. e souberam distinguir bem entre religião e fé, assumiram as descobertas da Antropologia, da Etnografía e superaram inclusive o neocolonialismo que houve no próprio Concilio e que se deu no pós-Concílio. Medellín mesmo, praticamente, sequer pensou nos índios; apesar da lucidez com que Medellín soube enfrentar o Continente e seus problemas maiores, não é? E são 50 milhões de índios na América Latina. . . E são povos que estão para morrer, com essas raízes e potencialidades evangélicas. . .

 

Pedro Casaldáliga, Na Procura do Reino

#Casaldàliga!

#PedroCasaldáligaPresente!

#NãoQueremosGuerraQueremosPaz!

Nenhum comentário:

Postar um comentário