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sábado, 30 de abril de 2011

O JARDIM DAS RELIGIOÕES



por ASSUERO G0MES


A religião é um belo jardim, onde várias culturas colocaram suas sementes através dos tempos. Vieram outros e o regaram, ora com água pura, ora com lágrimas, ora com sangue. Devemos caminhar sobre ele com cuidado e carinho, pois é nos sonhos que pisamos.
Pisamos também nos pesadelos.
É verdade que no jardim das religiões muito sangue e intolerância foram derramados. É verdade também que alguns esconderam sob suas flores e sua terra semeada, algumas minas. Alguns líderes que não eram jardineiros nem pastores colocaram túmulos e não contentes os cercaram com grades do conservadorismo, pois o túmulo vazio da ressurreição reflete seu próprio vazio religioso, então preferem administrar os panos dobrados que ficaram dentro.
No jardim temos então flores, arbustos, árvores, túmulos, minas escondidas, poças d´água que refletem as estrelas, espinheiros e belas folhagens. A vida brota. Nos momentos mais solitários e mais angustiados a humanidade vem caminhar nele.
O jardim continua belo apesar de perigoso. O jardim continua ensolarado apesar das sombras do crepúsculo de várias religiões. O jardim continua regado pelo Senhor, que manda sua chuva tanto sobre as flores quanto sobre os túmulos e aguarda o retorno da chuva até que ela tenha cumprido sua tarefa, pois a primavera não respeita cercas.
O jardim não tem dono apesar de tantos posseiros e grileiros, pois o vento sopra onde e quando quer sobre suas folhagens e espalha as sementes por onde lhe apraz. O jardim sonha com o amanhã, pois os sonhos que foram semeados nele, especialmente pelos pobres, pelos aflitos, pelos injustiçados, foram sonhos de esperança, belos sonhos do amanhã. Quando andarmos nele, pisemos com cuidado, pois é sobre o sonho dos pobres que pisamos. Cuidado para não nos distrairmos com o brilho de falso ouro que trouxeram para adorná-lo, pois nada se compara ao sol que não se pode comprar, nem tampouco nos deixemos seduzir por longas cerimônias rituais, nem pelas poças por mais que reflitam as luzes das estrelas, porque na verdade são apenas poças e as estrelas não estão lá, antes procuremos a fonte que está no âmago do jardim, dela é que brota toda a água viva que rega o jardim e que ilumina até o sol.
O jardim é belo, perigoso, essencial. Revolvamos a terra com cuidado e paixão, semeemos com bondade e ternura, sementes profundas. Aguemos com parcimônia com a água da fonte que está no meio do jardim, escondida dentro de nós. Espalhemos a Palavra em cada sulco, em cada canto, em cada grota, da periferia para o centro, e não caiamos em tentação de ceifar a erva daninha nem os espinhos para que não aconteça, que assim procedendo arranquemos sem querer o broto que ainda germina ou a flor que fenece, mas tem aroma.
A religião é um belo jardim, devemos caminhar sobre ele com cuidado e carinho, pois é nos sonhos que pisamos.


Assuero Gomes

assuerogomes@terra.com.br

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