O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

CIDADANIA CONTINENTAL, RESPOSTA AO NEOFASCISMO

 


Marcelo Barros

 

Entre as propostas mais desafiadoras que vivemos na América Latina e Caribe, está a retomada do sonho de profetas, como Simon Bolívar na Venezuela, José Martí em Cuba, assim como outros e outras que nos propõem fazer da América Latina e Caribe uma pátria grande ou retomar para hoje a antiga expressão dos povos originários a Abya Yala, no idioma do povo Kuna, “terra madura”, ou “terra em florescimento”.  

Entre os grupos e iniciativas da sociedade civil, em diversos países, se formam núcleos do coletivo que se denomina “Ágora dos/das Habitantes da Terra”. Eles suscitam como plataforma básica de ação a consciência da cidadania universal, que vai além da humanidade e abarca a todos os seres que formam conosco a “comunidade da Vida” no planeta.

Como concretização desse programa urgente, o grupo da Ágora Brasil se sente convocado pelo apelo latino-americano e caribenho, relançado nesses dias por um grupo grande de ministros de países latino-americanos no México para reforçar os organismos de integração da nossa pátria grande.

Este julho de 2021 foi marcado por novas agressões que o bloqueio e a guerra midiática que o Império dos Estados Unidos provocam contra o povo e o governo de Cuba e da Venezuela. As respostas de grande parte da sociedade civil e dos movimentos sociais organizados nos dois países foram de solidariedade, resistência e unidade. Mesmo se em ambos os países, os mais pobres e vulneráveis sofrem carências e têm críticas a seus governos, a maior parte dessas pessoas tem consciência de que tais situações realmente lastimáveis são provocadas pelo Império que quer dominar o continente e o mundo.

Nessa conjuntura, há pouco mais de uma semana, no México, diversos representantes de governos da América Latina e Caribe se comprometeram a revitalizar organismos de cooperação e diálogo como a UNASUL e a CELAC que na última década foram praticamente ignoradas ou mesmo descartadas por governos como os que agora dominam o Brasil, o Uruguai, o Chile e a Colômbia (Ver sobre isso a entrevista do presidente Nicolas Maduro na Telesur Internacional, 24/ 07/ 2021).

Por trás de tudo isso, existe uma ampliação e democratização do  conceito de cidadania. Onde há discriminação econômica, não se consegue realizar uma democracia social e política, verdadeira e completa. Apesar de que, em quase todo o mundo, homens e mulheres, das mais diferentes raças, conquistaram, ao menos juridicamente, a igualdade perante a lei e o reconhecimento de sua dignidade e seus direitos humanos, na atual forma como o mundo está organizado, a vida de alguém branco e com documentos de identidade da Europa Ocidental ou dos Estados Unidos vale mais do que a vida de cem africanos ou latino-americanos. Além disso, em quase toda a América Latina, os povos originários são socialmente marginalizados. É urgente libertar muitos trabalhadores e trabalhadoras, urbanas/os e rurais, ainda mantidos em regimes equivalentes à escravidão. Em quase todos os países, ser negro significa também ser pobre. Além disso, a mulher, por ser mulher, ainda sofre discriminações.

Transformar essa realidade só é possível através de lutas em várias instâncias, desde as políticas de base e a educação popular, até o apoio à autonomia dos países e o direito de cada povo escolher o governo que quiser para ser governado, seja o Socialismo em Cuba, o Bolivarianismo na Venezuela e um Sandinismo novo e e mais autêntico na Nicarágua, como o direito do povo peruano que acaba de eleger como presidente um professor de escola elementar do interior do país.

O desafio ecológico e a sustentabilidade do planeta exigem mudanças civilizatórias e isso também está sendo assumido e discutido pelos grupos de base, movimentos sociais e setores mais conscientes da sociedade civil.

Muitas pessoas e grupos ligam estes processos sociais transformadores à busca de uma espiritualidade que contempla no universo e em cada ser humano a presença divina do Espírito que é Amor e fonte de amor. Para quem busca viver a mensagem profética vinda da tradição judaica e cristã, fortalecer núcleos locais ou regionais da Ágora dos/das Habitantes da Terra é um modo atual e laical de atualizar o primeiro movimento do profeta Jesus e contaminar o mundo de pequenos núcleos de amorosidade e justiça transformadoras, testemunhas do projeto divino de paz, justiça e libertação para a humanidade e todos os seres vivos.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário