O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

domingo, 30 de agosto de 2020

NÃO PRECISA EXPLICAR... SÓ QUERIA ENTENDER!




                                                                           Prof. Martinho Condini

 

Cara amiga e amigo: tudo bem, quero lhes apresentar alguns números para que reflitam comigo. No período de 2003 a 2014, foram criadas, no Brasil, 18 universidades, 173 campus universitários e 360 institutos federais – um número muito expressivo se lembrarmos que a nossa primeira universidade baseada no tripé ensino-pesquisa-extensão fará 100 anos em 2034. Em contra partida, temos vários clubes de futebol no Brasil com mais de 100 anos. Com isso, não quero dizer que no Brasil o futebol tem mais importância que a educação.

Atentem a esse outro dado estatístico: durante os anos de 2010 até 2017, foram abertas no Brasil 67.951 igrejas, o que corresponde a 9.707 igrejas abertas por ano – um número no mínimo assustador. Acredito que o aspecto econômico explica esse número estratosférico. Afinal de contas, para se abrir uma igreja é preciso um CNPJ, um salão, algumas cadeiras de plástico, seguidores e um bom orador. Às vezes nem isso – não se esquecendo que as mesmas não pagam impostos e os lucros advindos do dízimo são sempre muito robustos.

Quero voltar aos números. Neste período de 2010 a 2017, foram criadas no Brasil 2.407 instituições de nível superior, sendo apenas 197 delas universidades. Isto significa que a abertura de igrejas no Brasil neste mesmo período foi 345 vezes maior que a abertura de universidades.

Um último dado estatístico. Em 2012, há oito anos, tínhamos no Brasil 3.481 livrarias, em 2014, o número caiu para 3.095, em 2018 estima-se que haviam aproximadamente 2.500 livrarias.  Isto significa o fechamento de 164 livrarias por ano. Em2001, 2.374 municípios brasileiros contavam com pelo 1 uma livraria, o que já era pouco, em 2018 esse número era de 985 municípios de um total de  5.570.  Aliado a esses números estarrecedores, na semana passada a equipe econômica governista acenou com a possibilidade de taxar os livros em 12% na reforma tributária a ser apresentada ao congresso.

Há mais de 70 anos, ou seja, desde a Constituição Federal de 1946, o livro é isento de impostos por causa de uma emenda constitucional apresentada pelo deputado federal pelo PCB e um dos maiores escritores da literatura brasileira, o baiano, Jorge Amado. Para incentivar a leitura e a educação até hoje, esse dispositivo segue sendo cláusula pétrea da nossa constituição.

Concomitante a esses dados numéricos, tivemos o golpe à presidenta da república com o apoio maciço da bancada da Bala e da Bíblia. Posteriormente, chegou à presidência da república um capitão reformado utilizando-se do discurso de ódio com visões políticas populistas e de extrema-direita demonstrando simpatia pela ditadura militar, defendendo práticas de tortura, apoiando o porte de armas pela população, além de proferir discursos homofóbicos, misóginos e racistas. O núcleo duro do seu governo partilha da ideia do terraplanismo, da descrença na ciência e de uma educação baseada na palavra de Deus (sendo que, no Brasil, o Estado é laico).

Estou convencido que o processo de desvalorização da educação, da cultura, a chegada ao poder de um governo conservador, retrógrado, anti-democrático e miliciano somado ao frenético crescimento no número de igrejas em nosso país pagaremos um preço muito alto, ou melhor, já estamos pagando, principalmente com o atraso no desenvolvimento intelectual da nossa sociedade.

Teremos uma jornada muito difícil pela frente, precisaremos estar ainda mais unidos em prol da liberdade de expressão, da participação política e principalmente da valorização da educação libertadora, ou seja, da educação que transforma o ser humano.

 

O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com

2 comentários:

  1. A educação é o mais poderoso instrumento de luta para que seja feita a justiça social.

    ResponderExcluir
  2. Sem valorização efetiva da Educação não iremos a lugar nenhum.

    ResponderExcluir