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quarta-feira, 19 de agosto de 2020

COVID 19 -UINQUAGÉSIMA SÉTIMA REFLEXÃO - PROFETAS E PROFECIAS EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

 


FREI ALOÍSIO FRAGOSO

 

      Com a morte de Pedro Casaldáliga, partiu o último de uma geração de bispos-profetas da Igreja no Brasil. Partiu Pedro e foi encontrar-se com Paulo, Paulo Evaristo, Helder Câmara, Luciano Mendes, Antônio Fragoso, Tomás Balduíno, Aloísio Lorscheider....

     Tiveram todos a mesma sorte dos grandes profetas bíblicos, desde Isaías até João Batista:  foram amados e odiados, aplaudidos e perseguidos.

     Nestes tempos sombrios de pandemia, causada não só pelo coronavirus, mas também pelos vírus letais de políticas nefastas, sentimos a sua partida. Que falta vocês nos fazem!

     Cremos, no entanto, que eles são imortais, assim na terra como no céu, sua memória será semente de novas profecias. Por isso sentimos deles uma saudade diferenciada, não a que fica chorando sua morte e sim a que se apronta para refazer a sua missão.

     Olhando seu exemplo, entendemos melhor o que disse Jesus, o Profeta Divino: "Ai de vós quando todos falarem bem a vosso respeito, pois assim trataram os falsos profetas" Lc.6,26. Falsos profetas são os que dizem o que lhes convém, o que seus ouvintes querem ouvir, o que agrada a gregos e troianos, por isso "todos falam bem a seu respeito". São falsos até mesmo no nome que usurparam e que não lhes cabe. Não são profetas.

     E os verdadeiros, como distingui-los ? Onde se encontram?

     Imaginemos alguém que assume um compromisso irrevogável com a Verdade. Que não se deixa enquadrar nem controlar por poderes constituídos. Que distingue com clareza entre o caos e o fingimento, a situação real e manipulação das aparências. Que levanta o véu das hipocrisias e revela o que está em jogo por trás dos fatos. Que vislumbra o perigo de morte antes que ele seja visível aos olhos dos demais. Que aponta o que está morrendo e o que está nascendo, o que deve morrer e o que há de nascer. Que não teme anunciar tragédias para uma platéia distraída com belos espetáculos. Que não tem complacência frente aos opressores. Que abala as evidências e as certezas tranquilas. Que abre os olhos dos que se fingem de cegos. Que encara os sofrimentos sem deixar-se intimidar. Que interpreta os acontecimentos da História e lhes dá a resposta de Deus. Que não descansa jamais, sabendo que só será reconhecido depois que tiver sido ultrapassado.

     Os que mais se aproximam destas virtudes são os verdadeiros profetas.

     Deus permite que morram os profetas, mas não que se extingam as profecias. Por isso quando faltam vocações proféticas em sua seara, Ele as busca em outras paragens.

    Por esta razão devemos estar atentos às vozes que falam profeticamente em todos os campos da História.

     Vozes de advertência: "As pessoas só vão se dar conta da gravidade da situação quando os números se converterem em nomes, um pai, uma mãe, um irmão, um amigo, um colega de trabalho".

     Vozes de protesto frente à insensibilidade: "Eu entendo o anti-petismo, mas não entendo o bolsonarismo. É como a pessoa gritar para o mundo que odeia coentro e tempera a comida com fezes" (Leandro Karnal).

     Vozes de sabedoria: "Quando o último peixe desaparecer nas águas e a última árvore for removida da terra, então o homem compreenderá que não é capaz de comer dinheiro" (Wakia Mani, chefe da tribo Lakota, EUA).

     Vozes de dircernimento: "É a primeira vez, possivelmente, em que há uma sensação de que somos uma única humanidade e o que acontece com um acontece com todos".

     O que distingue o verdadeiro profeta, no entanto, é o anúncio da Esperança, a despeito de todas as calamidades. O êxito final do trabalho humano tem a garantia antecipada pela nossa filiação divina. Como escreve Pedro Casaldáliga: "Acredito no Deus da vida e acredito também que a humanidade é filha de Deus. Por isso ela nunca será destruída porque possui a genética divina".

     Terminada sua missão, o profeta só precisa para se eternizar do que Casaldáliga pediu para seu túmulo : "sete palmos de terra, uma cruz de pau e a RESSURREIÇÃO". Amém.

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