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domingo, 18 de abril de 2021

"A LINGUAGEM, EM TEMPOS DE CORONAVIRUS"

  

FREI ALOÍSIO FRAGOSO


(16/04/2021)

 

     Confesso que titubeei na hora de escolher um título para encabeçar este artigo. "Mudança de linguagem", "colapso de linguagem", "corrupção de linguagem", "nova linguagem"? -  O primeiro pareceu-me óbvio, o segundo, drástico, o terceiro, vulgar e o quarto, pretensioso. Optei pelo substantivo sem adjetivo, deixando a cargo do leitor qualificá-lo, ao final.

 

     Trata-se, no entanto, de um fenômeno merecedor de pesquisas  e análises de filólogos e sociólogos. O que se esconde por trás dessa linguagem chula que sai da boca e da pena dos que ocupam a mais alta cúpula do poder político, nesta nossa "pátria amada Brasil"?  Desde que me entendo de gente, nunca ouvira um Presidente da República chamar palavrões propositadamente, ostensivamente, para os ouvidos de crianças, adolescentes, jovens e adultos de toda a nação.  E que palavrões! Alguns deles, dos mais fracos, se eu os pronunciasse lá em casa, tomava uma tapa na boca, seguida de uma ameaça típica de mãe: "da próxima vez corto sua língua!"

 

     O que diria D. Felicidade ao Mandatário supremo do país, e aos seus filhos, e aos seus ministros, e ao seu guru, e aos seus prosélitos, e aos seus acólitos, e ao seu gado?

 

     É preciso ir a fundo na compreensão deste fenômeno.

     Talvez esta linguagem seja uma fotografia do que se esconde no âmago destas pessoas e elas a reproduzem consciente ou subconscientemente. Tavez seja um sucedâneo para sua incapacidade intelectual de interpretar a realidade. Talvez uma linguagem apropriada para quem se nutre de preconceitos, mentiras, racismo, discriminação. (A sequência de "talvez" é uma confissão do meu pouco conhecimento deste assunto e um convite aos leitores e leitoras para buscar respostas).

 

     Ou será uma fórmula de liberar cólera e ódio como armas de construir qualquer tipo de operação política? Um meio de transformar o ódio em uma fonte de energias irracionais e, a seguir, explorá-las na execução de projetos visionários?

 

     Vale lembrar aqui a legenda que levou o candidato mais improvável da História a ocupar a Casa Branca. "DEIXEM-ME SER O PORTA-VOZ DA SUA RAIVA", foi o slogan da campanha presidencial de Donald Trump.

 

     Será que chegamos ao ponto de ter que ouvir palavrões, vulgaridades, termos chulos, pornofonias, não  mais como tabus e sim como um meio de comunicação tão legítimo quanto a linguagem dos clássicos, e politicamente mais eficaz?

 

     De certa maneira esta linguagem pode tornar-se ferramenta para a organização de grupos marginais. A Verdade é transparente, qualquer pessoa pode crer nela, enquanto crer no absurdo vira uma demonstração de lealdade grupal, miliciana. Se o meu chefe chama seus adversários de "filhos da puta", é assim que devo chamá-los também. Somos uma "nação,". Temos um idioma. Este é o nosso idioma. Desta forma, este modo de comunicar-se se agrega a uma visão própria do mundo, diferenciada

das elites tradicionais politicamente corretas (e, de alguma forma, fracassadas).

 

     Contudo, o que a mim causa maior perplexidade é a sensação de que estamos assistindo a uma batalha aberta entre a  inteligência e a irracionalidade. Estes indivíduos não possuem idéias elaboradas, não conseguem desenvolver um pensamento com sujeito, verbo e predicado, não suportam qualquer contestação que os obrigue a  raciocinar, não admitem nenhum tipo de intermediação, situam-se todos no mesmo plano, possuem um único parâmetro de avaliação, visam uma adesão cega e imediata e, se confrontados com argumentos que escancaram sua ignorância, calam o adversário com palavras de ordem: comunistas! Petistas! Deus acima de tudo!

 

     Em suma, parece que estamos diante de um novo exército constituído de peças humanas robotizadas, comandadas por um cérebro supra-nacional, com um projeto global de dominação. Acontece que este  enredo nós já vimos muitas vezes em filmes de ficção científica.

 

     Não tenho dúvida de compará-lo a uma estátua descrita na Bíblia, em Daniel, 2,30-34: "cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre de bronze, pernas de ferro, e pés de barro". Infalivelmente desabará. Para a glória de Deus e o bem do seu Povo. Amém.

Frei Aloísio Fragoso é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor

 

 

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