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quarta-feira, 7 de abril de 2021

"PÁSCOA DEPOIS DA PÁSCOA, EM TEMPOS DE CORONAVIRUS"

 


FREI ALOÍSIO FRAGOSO

(06/04/2021)

 

     Terminada a festa da Páscoa, na liturgia da Fé, retornamos de imediato ao drama da Paixão, ao cenário pandêmico de dores e medos, sem prazo definido de encerrar-se. Na Páscoa revivemos a ressurreição de Jesus, penhor da nossa ressurreição. Mas fica no ar uma pergunta para todos os tempos: quem removerá a pedra do túmulo, tornando visível o renascer da vida, a supremacia da vida?

     Dos que ocupam os poderes constituídos neste país, nada mais temos a esperar. Cansamos do circo, cansamos de oportunistas e prestigitadores (eles parecem querer dançar sobre 330.000 caixões mortuários).

      Quem removerá a pedra do túmulo? - Nós, nós o faremos, armados de ousadia, criatividade, inconformismo, rebeldia, paciência, guiados pelo poder revolucionário da Fé.

      Sinais vivos da ressurreição é o que não  falta, eles se espalham por toda parte, ao alcance de quem tem olhos para ver:

     São as crianças que trouxemos para habitar este mundo infectado. Elas clamam por vida, exigem as garantias para o seu futuro. Seu olhar evidencia que a vida já venceu a morte.

     São pais e mães que se sacrificam ao extremo, a fim de assegurar a unidade e a feliz convivência familiar, neste tempo de quarentena compulsória.

      São profissionais da saúde de todas as categorias que, sem pensar duas vezes, oferecem suas vidas no cuidado de outras vidas.

     São cientistas e pesquisadores que se fecham em seus laboratórios, impelidos pela obsessão de aperfeiçoar a arma confiável de vencer o vírus exterminador.

     São trabalhadores e trabalhadoras humildes, coveiros, zeladores, maqueiros, e outros mais, cumprindo sua missão de preservar visualmente a dignidade da pessoa humana.

      São pensadores geniais pondo ao nosso dispor idéias profundas que dão fundamento ideológico e místico às nossas lutas (Leonardo Boff, Jessé de Souza, Boaventura de Souza Santos, Marilena Chauí, Noam Chomsky, Djanira Ribeiro, José Mujica, Márcia Tiburi e outros tantos).

      São cantores clássicos e populares, poetas e repentistas que     nutrem nosso espírito de poesia e ternura ("hay que endurecer-se, pero sin perder la ternura, jamás").

     É a voz profética de um homem do povo, que ecoa universalmente, acompanhada de um refrão cada dia mais retumbante: "brilha uma estrela, cresce a esperança".

      São milhões de vozes de todas as crenças elevando-se ao Criador em súplicas incessantes: "Vinde, o' Deus, em nosso auxílio!"

     É o testemunho, que comove e convence, de um ancião que se tornou a referência moral da humanidade, o Papa Francisco.

      São claros sinais de que esta pandemia, e outras do passado e a previsão de outras no futuro, não conseguem deter a marcha da humanidade na execução do seu destino.

      E Deus, onde fica Deus neste palco, que Ele mesmo montou, desde o início da Criação? Se Ele estivese alheio a tudo isso, não mereceria o título de Deus, desabitaria nossas almas para sempre, mas não, nem pensar, Ele está presente e atuante, não como um pai "bonzinho" que faz os deveres de casa dos filhos e filhas, e sim como o Pai sensato, que aguarda, enquanto eles aprendem as lições de seus desacertos, e chega na hora oportuna com a sua misericórdia.

      Considerados no seu conjunto, estes sinais abrem o nosso entendimento para o mistério insondável da Cruz: a morte que carrega em si a imortalidade. Este mistério transfere-se para nossa experiência,

pois ao grito de uns "meu Deus, por que me abandonaste?" sucede-se o holocausto de outros que se sacrificam amorosamente. Aí está o derradeiro e supremo anúncio pascal: "Mais forte do que a morte é o amor" Ct.8,6.

     Só assim poderemos entender a morte de um Deus. E teremos razões suficientes de exclamar, neste tempo de Páscoa depois da Páscoa: FELIZ  PÁSCOA!

Frei Aloísio Fragoso é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.

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