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sábado, 6 de novembro de 2021

Sudestinos e Nordestinos

 

                                                             Prof. Martinho Condini


 

Desde que me conheço por gente sempre ouvi falar dos nordestinos, mas dos sudestinos, não. Nos primeiros anos escolares já era percebido o quanto importante foram os nordestinos para a história do Brasil. Os portugueses chegaram no nordeste. Durante mais de duzentos anos o nordeste foi a principal região do Brasil. A primeira capital brasileira, uma cidade nordestina. Economicamente falando nossa primeira produção em grande escala foi produzida no nordeste. Pena que o lucro dessa produção ficava principalmente com a metrópole portuguesa e a Holanda. Durante todo o período colonial o nordeste se fez presente econômica e politicamente. Conflitos com invasores estrangeiros, como também, com a metrópole portuguesa devido à exploração e as altas cobranças de impostos. Os nordestinos lideraram movimentos importantes para tirar o Brasil do jugo de Portugal. E durante a monarquia teve que enfrentar a fúria monárquica contra Canudos, uma macula na história nacional. Após a proclamação da república com a mudança do eixo político e econômico o nordeste e os nordestinos continuaram sendo importantes na história do nosso país, como o são até os dias atuais.    

Em pleno século XXI ainda encontramos muitos sudestinos, e aqui me refiro principalmente na cidade de São Paulo, muitas vezes se referindo aos nordestinos de maneira jocosa, desrespeitosa e preconceituosa.

Se há um lugar neste Brasil onde isso jamais poderia acontecer é na cidade de São Paulo, a maior cidade nordestina do Brasil.

Acredito ser importante relembrar que desde  primeira metade do século XX até hoje, os nordestinos tiveram e continuam tendo um papel preponderante no desenvolvimento e crescimento da cidade de São Paulo em todos os setores possíveis e imagináveis.  Só relembrando que a melhor prefeita da história de São Paulo foi uma nordestina, a paraibana Luiza Erundina, o patrono da educação brasileira e um dos maiores educadores do mundo, foi radicado na cidade de São Paulo após retornar do exílio, era nordestino, pernambucano, o Professor Paulo Freire e o maior presidente da história republicana deste país, nordestino, pernambucano, desde menino veio para São Paulo e aqui se forjou como homem, líder sindical e a principal liderança dos últimos quarenta anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem contar os milhões de nordestinos anônimos que fizeram e fazem de São Paulo a maior cidade da América Latina.

Diante desse relato o que explicaria essa postura de empáfia e prepotência em relação aos nordestinos que constroem a riqueza produzida nessa cidade?

Será que pelo fato desses sudestinos terem sua origem na imigração européia (imigração portuguesa, italiana, espanhola e outras)  - que vieram para cá, para ser tornarem mão de obra  que deveria ser ocupada pelos ex-escravizados afro descentes, -  se acham “superiores” ?

Acredito que é chegado o momento desses sudestinos da cidade de São Paulo darem conta que, se São Paulo tem a grandeza e a pujança que tem hoje, deve e muito ao esforço e suor dos  arretados e arrochados nordestinos e nordestinas que vivem na paulicéia desvairada.  

 O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com 

 

 

2 comentários:

  1. Muito bem lembrado, Martinho! O trabalho de conclusão de curso de minha esposa foi justamente a presença nordestina em São Paulo, com um recorte no Bairro de São Miguel, na zona leste.

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