O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Em um País que se diz tão cristão ........



            por JURACY ANDRADE

Vamos fazer uma pausa nas observações sobre o IOR, banco do Vaticano conhecido como grande lavanderia de dinheiro do crime organizado. Interessante notar que a sigla significa Istituto per le Opere di Religione.
Pretendo neste artigo fazer uma reflexão sobre a desgraça da nossa política em um país que se diz tão cristão. Renan Calheiros, que há poucos anos renunciou à Presidência do Senado e ao seu mandato para escapar à cassação, é reconduzido ao mesmo cargo, triunfalmente, pelos mesmos senadores que queriam pegá-lo naquela época. O presidente que entrega o cargo, o inefável José Ribamar Sarney, chora ao se despedir. 
     Com mais de 80 anos, acha difícil continuar sustentando indefinidamente sua satrapia no infeliz Maranhão e continuar mandando e desmandando no Senado, na Justiça, no governo do país. E chora, pois sabe que todos os impérios do mundo ruíram e a sua numerosa prole talvez não seja capaz de manter um mando tão ruinoso para o Maranhão e para o Brasil.
     Muito católico, ele é de ir à missa, rezar, comungar, mas nem o procurador-geral da República, o Gurgel, faz muita fé nesse ilibado personagem. O Gurgel é aquele que engaveta processos contra quem ele quer proteger e acaba de dar estranha prioridade ao processo do dito Mensalão, para coincidir com as eleições municipais. Tutti buona gente (tradução livre: tudo farinha do mesmo saco). Na Câmara, o eleito para a Presidência também é suspeito e acusado de privatização de dinheiro público.
     É o Henrique Eduardo Alves, do clã fundado por Aluísio Alves ainda antes do golpe de 1964.
     Aqui no Recife, o deputado Guilherme Uchoa se eterniza na Presidência da Assembleia Legislativa, que também não está assim tão interessada em representar o povo pernambucano, e sim, com honrosas exceções, interesses particulares e paroquiais de Suas Excelências. Na Câmara Municipal, as coisas não vão melhor. É auxílio paletó, são outros expedientes para viver às custas do dinheiro público. Essa designação de auxílio paletó é de um cinismo repelente. O cara ganha um pagamento pelo tempo gasto na representação popular (não deveria, pois supõe-se que tenha uma profissão; deveria ser um serviço prestado gratuitamente, como o é em outros cantos mais civilizados). Mas, mesmo bem remunerado, precisaria de uma verba extra para comprar um reles paletó?! É gozação. É deboche. Breve veremos auxílio cueca, auxílio bermuda, auxílio sapato ...
      O cronista Mário Melo, que tinha uma língua ferina, chamava a Câmara Municipal do Recife de “o parlamento da Rua da Guia”, já nos longínquos anos 50, 60. A Rua da Guia era conhecida na época como espaço do baixo meretrício. Depois ela mudou-se para o prédio onde havia funcionado a antiga Escola Normal, no Treze de Maio. E agora está achando o prédio pequeno e quer construir um novo.
     Quando se criticam os procedimentos delituosos do Poder Legislativo, logo alguém se escandaliza afirmando que o crítico está querendo um governo arbitrário, é contra a democracia. Conversa fiada. Democracia não é usar imunidades e atribuições legais para extorquir o dinheiro público e defender interesses que não são os da imensa maioria do povo.
      É de admirar que Suas Excelências, seja em Brasília, na Rua da Aurora, ou no Treze de Maio, em sua grande maioria se dizem religiosos e cristãos. Tem até uma bancada evangélica, contrariando a laicidade republicana. Um partido político não pode se dizer de tal ou tal igreja ou religião. Pode até dizer, mas a Justiça deveria cuidar de sanar essa aberração anticonstitucional.
Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia

Nenhum comentário:

Postar um comentário