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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Votos para um próximo papa

por MARCELO BARROS




Desde que o papa Bento XVI anunciou sua renúncia ao papado, os meios de comunicação se apressam em antecipar candidatos ao trono, ou tentam descobrir em que ponto estão, no Vaticano, os acordos que, nos bastidores e com a elegância exigida pelos meios eclesiásticos, já há tempos, preparam o próximo conclave. Sem dúvida, a coragem e humildade com que o papa declara: “Não tenho mais força para exercer o papado” merecem toda a admiração. De fato, nas últimas décadas, enquanto o mundo se tornou cada vez mais complexo e plural, o Vaticano ignorou a orientação do Concilio Vaticano II sobre a colegialidade dos bispos, diminuiu a função das conferências episcopais e concentrou o seu poder. Por isso, o ministério papal deve ter ficado muito mais pesado.
     Os cardeais que escolherão o próximo papa serão em sua maioria os mesmos que, em 2005, acharam que o cardeal Ratzinger seria a pessoa indicada para conduzir a Igreja Católica nesse início de século. Agora, aos eleitores de antes, se acrescentam alguns outros, também escolhidos pelo mesmo papa. Isso faz com que a lista de candidatos ao cargo pontifício não tenha importância. Seja quem for, afirmam vozes do episcopado brasileiro, “nada de profundo mudará”. Sem dúvida, eles dizem isso como quem dá uma boa notícia. A maioria dos fiéis católicos, se pudesse se expressar, não estaria de acordo com isso.
     Pessoalmente, não sou cardeal e, portanto, não participo dessa eleição. Mas, penso na multidão silenciosa de mais de um bilhão de fiéis católicos no mundo. Mesmo sem representar nenhum grupo ou ter deles algum mandato, quero expressar aqui o voto que penso ser da maioria dos leigos e leigas, engajados nas pastorais e grupos missionários, formados a partir do Concilio, assim como de muitos religiosos, religiosas e presbíteros que amam a Igreja e desejam que, o Espírito sopre novamente sobre ela um novo Pentecostes.
      A primeira coisa que gostaria de esclarecer é que, ao contrário do pensamento aqui e ali expresso nos meios de comunicação, quem é formado pelo espírito do Concílio pode aceitar que se eleja um papa latino-americano, africano ou coreano, como etapa no momento atual, dentro do sistema em que vivemos. Entretanto, em termos de princípio, o queremos é um papa italiano, o mais romano possível, que seja bispo de Roma e, de acordo com o Concílio Vaticano II, respeite uma maior autonomia das Igrejas locais, como sacramentos da comunhão universal.
     Pedimos a Deus que dê à Igreja de Roma, mãe da unidade de todas as Igrejas, um pastor simples e modesto que não precise mais de uma áurea institucional de santidade, nem que se chame de santa a sua pessoa, a sé de Roma, as congregações da cúria e tudo o que cerca o seu ministério. Aí, no Glória de cada missa, cantaremos com mais sinceridade: Só tu és santo, só tu és Deus!”. Se esse irmão se assumir verdadeiramente como servo dos servos de Deus, como nos primeiros séculos, a Igreja será novamente  mais do que democrática, sacramento de comunhão da humanidade e ensaio de um mundo novo possível. Um dia, Dom Hélder Câmara, então arcebispo de Olinda e Recife, escreveu: “Sonhei que o papa enlouquecia. E ateou fogo ao Vaticano e à Basílica de São Pedro. Loucura sagrada, porque Deus atiçava o fogo que os bombeiros, em vão, tentavam extinguir. O papa, louco, saía pelas ruas de Roma, dizendo adeus aos embaixadores, credenciados junto a ele; e espalhando pelos pobres o dinheiro todo do Banco do Vaticano. Que vergonha para os cristãos! Para que um papa viva o Evangelho, temos que imaginá-lo em plena loucura”[1].   


[1] - Poema recitado no filme de ÉRIKA BAUER, Dom Helder Câmara, o Santo Rebelde, citado no Jornal Igreja Nova, janeiro-março 2010, p. 1.

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