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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sobre Rezas e Benzedeiras


 por ROBERTA BARROS


Dona Biu, rezava espinhela caída.
Dona Maria mau olhado.
Três vezes seguidas, quem não andou por estas casas com suas crianças no colo, quase desfalecida.
Assim éramos criados e na falta de médicos e remédios nos valíamos dos chás, xaropes e pomadas de Dona Graciema.
Era fácil diagnosticar o olhado: olho triste, fraqueza, falta de apetite, quando já se contava os ossinhos.
“Será que foi na boniteza, ou na feiura”, assim a reza seguia.
Quanto  mais  se abria a boca, mais o anjinho estava carregado e o olhado era forte.
No caminho para as casas das benzedeiras, procurávamos pião roxo.
Nos becos  estreitos,  as touceiras de capim santo,  roçava nossas   pernas, e  a erva cidreira, exalava um perfume, quase como os saídos dos vidrinhos das seivas de alfazema.
E a vassourinha de botão, rastejava portão adentro, nos pequenos casebres.
As  rua onde moravam as benzedeiras eram quase sagradas, senhoras velhas, sentadas com seus vestidos forrados. Vozes calmas, baixas, professando dizeres e saberes milenares.
Nos portais de seus quase templo, se perduravam homens, meninos, meninas e senhoras, assim curavam dores nas costas.
Tudo sem pagamento, só era necessário chegar antes do sol esquentar e à tarde antes do sol  se por, e também   não deixar de oferecer na terceira vez.
                            Assim crescíamos em uma comunidade mística, encravada nos subúrbios e arrabaldes da cidade.
                           Hoje, encontrei uma menina com olhado e dos brabos, pedir pra mãe lhe levar pra rezar com dona Helena (benzedeira da rua). Qual não foi minha surpresa: “Ela deixou de rezar, sua nova religião não lhe permite”.
                        Agora preciso de chá de camomila para me acalmar e pensar:  qual o mal que as benzedeiras e suas rezas trarão a esta nova religião? Penso  que o maior  mal,  é o que   esta religião fará  ao nosso povo, banido mais uma vez de disseminar sua cultura e seus milenares conhecimentos.  

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