por ROBERTA BARROS
Dona Maria mau
olhado.
Três vezes
seguidas, quem não andou por estas casas com suas crianças no colo, quase
desfalecida.
Assim éramos
criados e na falta de médicos e remédios nos valíamos dos chás, xaropes e
pomadas de Dona Graciema.
Era fácil
diagnosticar o olhado: olho triste, fraqueza, falta de apetite, quando já se contava
os ossinhos.
“Será que foi
na boniteza, ou na feiura”, assim a reza seguia.
Quanto mais se
abria a boca, mais o anjinho estava carregado e o olhado era forte.
No caminho
para as casas das benzedeiras, procurávamos pião roxo.
Nos becos estreitos, as touceiras de capim santo, roçava nossas
pernas, e a erva cidreira, exalava um perfume, quase
como os saídos dos vidrinhos das seivas de alfazema.
E a
vassourinha de botão, rastejava portão adentro, nos pequenos casebres.
As rua onde moravam as benzedeiras eram quase
sagradas, senhoras velhas, sentadas com seus vestidos forrados. Vozes calmas,
baixas, professando dizeres e saberes milenares.
Nos portais de
seus quase templo, se perduravam homens, meninos, meninas e senhoras, assim
curavam dores nas costas.
Tudo sem pagamento,
só era necessário chegar antes do sol esquentar e à tarde antes do sol se por, e também não deixar de oferecer na terceira vez.
Assim crescíamos em uma comunidade mística, encravada nos subúrbios e
arrabaldes da cidade.
Hoje, encontrei uma menina com olhado e dos brabos, pedir pra mãe lhe
levar pra rezar com dona Helena (benzedeira da rua). Qual não foi minha surpresa:
“Ela deixou de rezar, sua nova religião não lhe permite”.
Agora
preciso de chá de camomila para me acalmar e pensar: qual o mal que as benzedeiras e suas rezas trarão
a esta nova religião? Penso que o
maior mal, é o que
esta religião fará ao nosso povo,
banido mais uma vez de disseminar sua cultura e seus milenares conhecimentos.
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