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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

FELIZ ANO NOVO PARA O POVO BRASILEIRO


Por Marcelo Barros


Os votos de feliz ano novo que, nesses dias, costumamos dar uns aos outros, dificilmente se tornarão reais, se o Brasil não conseguir superar a crise social, política, econômica, ecológica e cultural que  o ameaça. Esperamos que nesse ano que passou, nossa presidenta tenha aprendido que governo não é instrumento musical que se pega com a mão esquerda e se toca com a direita. Quem vem da esquerda e faz isso corre o risco de ser abandonada pela esquerda que a apoiou. Ao mesmo tempo, mesmo com todos os seus agrados, não consegue conquistar a direita que jamais aceita perder o poder. 

No caso da elite brasileira, por sua natureza, essencialmente, depredadora, sempre rejeitará qualquer pessoa que vier de uma tradição mais popular. Mesmo sem ter muitas perspectivas pela frente, os movimentos sociais e as pessoas mais conscientes sabem que solução nenhuma virá do impedimento da presidente, nem da substituição do governo por algum ato induzido de renúncia. Mesmo se a presidente continuar incapaz de dialogar, as alternativas legais não parecem melhores. Se quisermos mudanças reais para melhor, teremos de fazer um trabalho imenso nesse ano novo. Uma luta maior do que a do pequeno Davi contra o gigante Golias. No nosso caso, se trata de vencer os grandes meios de comunicação, dominados pela elite. O Congresso Nacional é formado por uma maioria de parlamentares que tiveram suas campanhas financiadas por grandes empresas. Eles só participarão em um projeto de Brasil justo e verdadeiramente democrático se forem pressionados pelos movimentos sociais e pelas manifestações de massa. É urgente retomarmos a luta por uma verdadeira reforma política. Ela deveria ser feita por uma Constituinte exclusiva e soberana, eleita para isso pelo povo. No entanto, na atual conjuntura, isso é impossível. 

Quando era possível, os governantes do momento, seja Lula, seja Dilma, não deram o apoio necessário a essa causa. Agora, só um milagre. Esse milagre é possível e depende de nós. Temos de recomeçar o trabalho de formiguinha e ajudar a sociedade a se dar conta de que o clamor do povo organizado será capaz de exigir as transformações das quais o Brasil precisa.

Para esse 1o de janeiro de 2016, o papa Francisco escolheu como tema para o 49o Dia Mundial da Paz o lema: “Vence a indiferença e conquista a paz”. Se aplicarmos isso à realidade brasileira, compreenderemos que temos de vencer a inércia e o acomodamento de quem pensa que não pode mudar a situação e confiar novamente na força do povo organizado que não tem poder de lei, mas pode fazer pressão e criar as condições para a mudança que a tradição bíblica chama de paz, justiça e verdade.

O nosso voto de feliz ano novo não será o do comércio que propõe prosperidade. Preferimos felicidade para todos . Ela nos vem da promessa de um mundo novo e uma terra renovada. Essa palavra nos vem de Deus. Como diz a Bíblia, é como uma espada de dois gumes que penetra até as entranhas (Hb 4). “É como a chuva que cai, molha a terra. E não volta ao céu sem ter cumprido sua missão de fecundar e produzir o grão” (Is 55). Desejar feliz ano novo não garante força para transformar organizações e sistemas do mundo. No entanto, podemos colaborar para que ocorram as condições necessárias para as mudanças. Então, expresse para os seus e para todos o desejo de um feliz ano novo que seja não apenas para os seus familiares e amigos e sim para toda a humanidade. No Brasil, desejar feliz ano novo pede de nós um verdadeiro compromisso social, solidário e renovador. Então se tornarão verdadeiras em sua vida, as palavras de uma antiga bênção celta: “O vento sopre suave em teus ombros. Que o sol brilhe suavemente sobre o teu rosto, as chuvas caiam serenas onde vives. E até que eu te encontre de novo, Deus te guarde na palma de sua mão”.


Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.

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