Por Marcelo
Barros
Nesses
dias, as comunidades cristãs e o mundo já estão no clima da festa de Natal. Até
a vigília da festa no dia 24, a liturgia antiga da Igreja nos convida a pedir a
vinda, não apenas do menino que, um dia, Jesus foi, mas do Cristo atual, ressuscitado
e que se manifesta vivo como energia de renovação para o planeta Terra. Em suas
cartas, o apóstolo Paulo escreve sobre o Cristo: “Ele sujeitará a si todas as
coisas. Tudo o que existe no universo tem sua subsistência nele (no Cristo).
Ele recapitula tudo o que existe (Col 1, 15 – 22). Sua ressurreição inaugurou
uma “criação nova” como parto de um universo reconciliado (Gl 6, 2 e 2 Cor 5,
14 ss).
A conclusão
disso é que o Natal não deve ser apenas uma recordação nostálgica, como se se
tratasse de um simples aniversário do nascimento de Jesus. Essa festa do 25 de
dezembro foi criada no século IV. Quando os antigos romanos celebravam o
solstício do inverno, os cristãos quiseram lembrar que o Cristo é o sol da
justiça que vem do alto para renovar nossas vidas. Nos primeiros tempos, o nome
da festa do Natal era “A Páscoa do novo Nascimento”. Assim, os antigos cristãos
afirmavam que o Natal celebra uma manifestação do Cristo Ressuscitado. Até
hoje, em algumas Igrejas Orientais, se chama a festa de “Teofania”,
manifestação divina. E, tanto no Oriente, como no Ocidente, no dia 06 de
janeiro se celebra a Epifania, a manifestação do Cristo em nossa carne.
A cada ano,
falamos de uma nova vinda porque os efeitos de sua ressurreição em todo o
universo ainda não são visíveis. Sua manifestação é um processo no qual Deus
quer que participemos como testemunhas e instrumentos de sua presença amorosa
no universo. Em cada Natal, pedimos que essa realidade nova do universo
cristificado, (ou seja, totalmente assumido pela presença do Cristo
ressuscitado) se manifeste logo e de forma total. Apesar de que o nosso mundo
parece cada vez mais doente e dividido, celebramos a confiança de que a
manifestação do Cristo Cósmico venha salvar a nós e ao universo.
Nesse mês
de dezembro, por ocasião da Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, todas
as grandes religiões do mundo se mostraram conscientes da sua responsabilidade
para salvar o planeta Terra da ambição humana que o condena à morte.
Há poucos dias,
as comunidades judaicas celebraram a festa de Hanuká. Antigamente, nessa festa,
se acendiam as lâmpadas do templo. Atualmente, não existe mais o templo de
Jerusalém e não se podem mais acender suas lâmpadas para trazer luz à escuridão
do inverno. Agora, o templo de Deus é o universo. Então, as luzes de Hanuká são
acesas nas casas judaicas para iluminar a humanidade e libertar o mundo da
escuridão do desamor e da indiferença.
Na
Amazônia, o povo Yanomami tenta escutar de novo os Xamãs que fazem ressuscitar
os cânticos dos Xariris, espíritos da floresta que é viva. Ela está ferida
pelas queimadas provocadas pelos fazendeiros. Ela é destruída pelas máquinas
dos garimpos e das mineradoras que provocam destruições e podem ocasionar
desastres como o de Mariana.
É
importante que as comunidades cristãs liguem essa celebração do Natal com o
cuidado da terra, da água e de toda a natureza. Hoje, o universo é o verdadeiro
presépio do Cristo Cósmico. Embora de forma ainda invisível, ele vem, hoje a esse mundo. A liturgia dos últimos
dias antes do Natal invoca Jesus como Salvador para o mundo de hoje. Com sua profunda
formação litúrgica e grande sensibilidade artística, Reginaldo Veloso traduziu
de forma adaptada as invocações das antífonas Ó. A cada dia, uma nova invocação
chama o Cristo Ressuscitado, um dia como Libertação, no outro como Sabedoria.
Um dia, o contempla como nova Sarça Ardente, na qual Deus se revela aos Moisés
de hoje. Finalmente, ele é chamado de Emanuel, presença divina no meio de nós. Todos
os dias, a versão das comunidades conclui com um refrão que canta: “Vem, ó filho
de Maria, vem trazer-nos alegria. Quanta sede, quanta espera, quando chega,
quando chega aquele dia?”
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
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