por Marcelo Barros
A partir dessa segunda-feira, a ONU reúne em Paris,
representantes de governos e de entidades internacionais para deliberar sobre
medidas a tomar em relação às mudanças climáticas que ameaçam a Terra e
comprometem o futuro da vida no planeta. A maior parte da humanidade tem
consciência de que a Terra está doente, porque uma pequena minoria de seres
humanos monopoliza a maior parte das riquezas do planeta. E eles fazem isso,
não a serviço da vida e sim apenas para o lucro de suas finanças. A agressão
contra a natureza é a mesma com a qual, no Brasil, deputados, representantes,
não do povo brasileiro e sim do latifúndio, de madeireiras e mineradoras decidem
retirar do Executivo a responsabilidade de demarcação das terras indígenas para
passa-la às mãos do Congresso e, assim, ameaçar mais ainda a sobrevivência dos
povos originários.
Já na primeira parte do século XX, declarava o padre
Theillard de Chardin, filósofo e cientista: “Para um observador clarividente e
que, do alto, olhe a Terra, ela aparece antes de tudo azul, por causa do
oxigênio que a envolve. Depois, ela se torna
verde, por causa da vegetação que a recobre. Finalmente, ela se revela luminosa
– sempre mais luminosa – pelo pensamento que se intensifica em sua superfície.
Entretanto, ao mesmo tempo, o planeta aparece sombrio. Essas sombras vêm de um
sofrimento que cresce em quantidade e densidade no mesmo ritmo que, no decorrer
dos tempos, se eleva a consciência humana diante de uma organização iníqua que
oprime a Terra e a humanidade”.
A atual Conferência de Paris sobre o clima (COP 21), como
tantas outras reuniões de cúpula, também falhará se os representantes dos
governos continuam se negando a apontar claramente as causas estruturais do
desequilíbrio ambiental. Enquanto não denunciarem de modo claro os responsáveis
pela destruição ecológica, nunca aceitarão implementar as soluções adequadas. Contentam-se
em assinar acordos simbólicos que não mudam as situações estruturais provocadoras
da destruição das florestas, da escassez de água potável e de desastres como o
que, há poucos dias, vimos ocorrer em Mariana e que acarretou a morte de um rio
importante como o Rio Doce. Em outubro desse ano, em Cochabamba, Bolívia,
representantes de povos indígenas, movimentos sociais e de organismos da
sociedade civil realizaram a 2ª Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança
Climática e a Defesa da Vida. Ali se reuniram representantes de 54 países. Ali
esteve presente o secretário-geral da ONU. Ali foi proposto oficialmente que a
ONU crie um Tribunal Internacional de Justiça Climática e da Vida e formule uma
Declaração Universal dos Direitos da Terra, assim como, em 1949, se aprovou a
Declaração Universal dos Direitos Humanos. É na caminhada dos povos da terra em
busca do Bem Viver e da Ecologia Integral, proposta pelo papa Francisco na sua
encíclica Laudatum sii que está a esperança da Terra e do futuro da vida no
planeta.
Nesse domingo, 29, as Igrejas cristãs mais antigas do
Ocidente começaram a celebrar o tempo do Advento. Nas celebrações se proclamam
os textos evangélicos que falam na parábola do “fim do mundo”. Lidos ao pé da letra, esses textos
da Bíblia provocam medo. Há quem interprete as guerras e desastres ecológicos
atuais como se tivessem sido previstos na Bíblia.
Por outro lado, muitos crentes sabem que a história
tem sua autonomia. A presença divina não é para destruir e sim para renovar.
Se, por acaso, Deus nos livre, o mundo vier a sofrer um cataclismo e se acabar,
isso acontecerá não por decisão divina e sim por culpa da sociedade dominante
que destrói o planeta para lucrar mais e, para garantir seus privilégios, fabrica
artefatos nucleares capazes de destruir a humanidade e todo o planeta. Jesus nunca
falou do fim do mundo e sim de um mundo. Profetizou o fim de uma sociedade injusta
e decadente que precisa mesmo ser vencida. Para quem, nessa sociedade, é
oprimido, o anúncio da destruição da velha ordem e a instauração de uma nova realidade
mais justa e amorosa só pode ser uma boa notícia. É um verdadeiro evangelho.
Por isso, Jesus conclui o anúncio do fim daquele mundo de opressão quando
afirma: “Quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se, ergam a cabeça
e se alegrem, porque é a libertação de vocês que se aproxima” (Lc 21, 28). O
amor divino inspira, mas não realizará essa transformação estrutural do mundo e
da sociedade sem ser através de nós e de nossa ação solidária.
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