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quarta-feira, 19 de maio de 2021

AS PALAVRAS

 


Kinno Cerqueira [1]

 

 

As palavras. Procuro-as como um corpo tremulante de frio busca uma coberta.

 As palavras. Desejo-as com a intensidade com que os meus lábios se apertam quando fitam meus olhos as tesas cumeeiras de seios em dias frios.

 As palavras. Como-as como quem frui o último café no último minuto da última primavera da vida.

 As palavras. Dão-se-me. Na seca, me dessedentam o paladar. Quando de muitas águas, fazem dos meus lábios deserto e do meu existir, divagação.  

 As palavras. Dançam-me. O ritmo imprevisto inaugura à meia-luz o entrelaçar de dedos sem fim, ponteiros que galopam imóveis qual lua pintada nos chaveados diários dos amantes.

 As palavras. Metamorfoseiam-se. Naquele ontem, amargura, amargor. Hoje, esquivas de amargar, apenas amar o mar.

 As palavras. Deslizam-me os sentidos. As travessias eram, na verdade, travessuras. O meu pudor, ah, parece que mo levaram sem dizer para onde.

As palavras. Custa crer que se podem fazer carne, a carne é que se faz palavra.  No princípio era o corpo, e o corpo se fez palavra.

 As palavras. Balanços coloridos sob floridas laranjeiras. A fixidez não lhes é possível – nem as seduz. É seu ir-e-vir que faz irromper chuvas de flores.

 As palavras. Vejo flores a cair, a chover. Eis que brinco sob laranjeiras...

 

[1] Pastor batista, biblista e assessor do CEBI na área de estudos bíblicos.

 

 

5 comentários:

  1. que lindo Kinno, um artista das 'palavras', ciente de sua infinitude... me lembrou Manoel de Barros

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  2. Como uma sopinha de letras que Kinno que Você poeticamente come e se alimenta, transformando-a em no seu coração em palavras de Graças, que nos alimenta. Belo.

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  3. Kinno e sua alma de poeta sempre com os pés no Chao.Poesia rara esta!

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