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sábado, 3 de julho de 2021

ATÉ QUANDO!


Prof. Martinho Condini

 

João Pedro Mattos Pinto, 14 anos, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, Marcelo Guimarães, 38 anos, Lucas Matheus, 10 anos, Alexandre da Silva, 11 anos, Fernando Henrique 12 anos e muitos outros. O que eles têm em comum? São seres humanos, adultos, jovens ou crianças, todos negros que foram espancados, assassinados ou desapareceram e foram encontrados mortos, em diferentes lugares do Brasil. Quantos seres humanos negros, neste momento estão sendo humilhados, espancados ou assassinados? Os números são assustadores, aproximadamente 75% dos assassinatos de adultos no Brasil são de seres humanos negros.

 É indiscutível a luta dos negros ao longo da história desse país para terem seus direitos e sua dignidade reconhecida e respeitada de verdade. Não adianta fazer “leis antiracistas” se não houver um processo de conscientização coletiva em relação a essa questão asquerosa da nossa história. É inconcebível que tenhamos em 2021 programas de TV transmitidos em rede nacional em horário nobre, com manifestações racistas e preconceituosas como maneira de obter audiência de público e para que as pessoas fiquem nas redes sociais comentando o “show real”. Isto é no mínimo insana, uma excrescência humana, de uma sociedade forjada nos valores racistas e preconceituosos advindos da nossa formação histórica ibérica, cristã-judaíca, burguesa capitalista de supremacia branca.

Até quando teremos que refletir sobre a frase do abolicionista Joaquim Nabuco escrita no seu livro “Minha formação” no final do século XIX: ‘A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil’.  Não devemos nos esquecer que o Brasil, em 1888, foi o último país ocidental a oficializar o fim da escravidão. Infelizmente, os mais de 350 anos de escravidão em nosso país, deixou uma cicatriz permanente e incurável e fez dela parte fundante da formação cultural brasileira. Acredito que nem Nabuco tinha noção da profundidade da sua frase e jamais imaginaria que em pleno século XXI, ou seja, 133 anos após a abolição ainda teríamos o racismo como o problema mais grave da nossa sociedade. Como podemos falar de um Estado laico democrático de direito onde ainda vigoram costumes que privilegiam a vontade da supremacia branca, num país onde a maioria da população é afro descente, onde apesar da existência de leis antirracista, nos tribunais o predomínio daqueles que lá estão de toga fazem parte da elite branca.

Acredito que será por meio da educação a maneira mais eficiente de eliminarmos esse “câncer social”, que nos atormenta diuturnamente. Enquanto você está lendo este artigo algum homem, mulher ou jovem negro sofre algum tipo de preconceito ou violência em algum lugar desse país. É preciso dar um basta. Só seremos uma nação democrática, livre e digna quando todos os cidadãos e cidadãs deste país forem tratados e respeitados independente de sua condição econômica, social, étnica e religiosa e a educação tem um papel fundamental nesse processo.

 

 *  O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com      

 

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