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terça-feira, 20 de julho de 2021

FALAR EM NOME DA VIDA

 Marcelo Barros


 

A vida é o que há de mais sagrado e está acima seja dos interesses econômicos, seja mesmo dos preceitos religiosos.

Após quase um ano e meio da Covid-19, já está evidente que Bolsonaro e seu governo colocaram a população brasileira para se contaminar pelo coronavírus e fizeram isso de propósito, cientes do risco à vida das pessoas. Durante meses e meses com o Brasil mergulhado na pandemia, Bolsonaro boicotou a estratégia nacional de vacinação. Apostou na infundada imunidade de rebanho por contágio. Nestes dias mais recentes, ainda em meio a toda a tragédia desta pandemia, sem usar máscara,  o presidente do Brasil passeia e promove “motociatas” com seus apoiadores por algumas capitais do país.  

A consciência da dignidade e da igualdade de todos os seres humanos, assim como a compreensão de uma cidadania universal é, de certa forma, recente. Para que tais conquistas possam ter ocorrido, foi importante uma evolução da cultura. Hegel dizia que nós não somos donos das nossas ideias. São as ideias que entram em nós e, então, têm um poder transformador. A luta pelas ideias está na base das grandes lutas emancipatórias da sociedade.

Uma das tragédias atuais é ver que muitas vezes, as pautas mais retrógradas e claramente contrárias ao interesse dos pobres chegam a ser apoiadas e defendidas até por parcelas mais pobres da população. Ao se deixar orientar por meios de comunicação, controlados pela elite, os pobres tendem a ser conservadores. Nos tempos antigos, as massas defendiam a escravidão e o racismo. Hoje, muitos brasileiros apoiam governos neofascistas. Revelam-se favoráveis à pena de morte, ao uso livre de armas de fogo e à violência policial contra pobres e negros.

Esta realidade só mudará quando a sociedade conseguir se organizar por grupos e comunidades que busquem compreender com mais profundidade a realidade social. Movimentos sociais e comunidades humanas de base são grupos que ajudam o povo a se tornar mais consciente de ser povo como conjunto unido. No mundo romano antigo, o latim fazia a distinção entre plebs (massa) e populus (povo organizado). O Concílio Vaticano II define que a Igreja é uma porção do povo de Deus (populus Dei) e não massa de fieis.

Infelizmente, na história, muitas vezes, Igrejas e religiões foram contrárias aos grandes movimentos de libertação e promoção humana. Nos séculos passados, muitos pastores e ministros cristãos defenderam a monarquia contra a república. Consideravam a superioridade masculina sobre as mulheres como vinda do próprio Deus. Eram contra a igualdade de gêneros e contra a liberdade de expressão e de religião. Atualmente, em todo o mundo, pastores e ministros ainda organizam cruzadas contra o direito das pessoas à diversidade sexual. Acima de tudo, acham que religião deve estar sempre ligada à direita política. Nos Estados Unidos, um presidente promove golpes agitações sociais em outro país, mantém um bloqueio contra Cuba que já dura mais de sessenta anos e decide o grau de tensão em países da Ásia. Se esse presidente se pronunciar contra o aborto e contra a união gay contará com o apoio explícito de muitos bispos, padres católicos e pastores evangélicos.

No Brasil, cristãos católicos e evangélicos continuam dando apoio apoio político ao presidente da República, em troca de benesses para as suas Igrejas. No evangelho, falou Jesus dos escribas e fariseus: vestem roupas religiosas, fazem longas orações, enquanto exploram as viúvas pobres (Mc 12, 39- 40). Hoje, esses doutores da  religião nem precisam explorar diretamente pobres e viúvas. Podem se beneficiar de verbas que vêm diretamente da exploração dos pobres. Para eles, mais vale uma boa reza do que a ética humana e social.  

Precisamos com urgência voltar ao evangelho de Jesus que afirmou: “O sábado foi feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado”. Mesmo as leis mais sagradas devem servir à vida e à felicidade das pessoas. Ao afirmar isso, Jesus enfrenta a tensão entre pessoa e sociedade. Claramente, optou pelas pessoas. Revelou o amor divino aos pecadores públicos que eram discriminados. Paulo escreveu: “Onde está o Espírito Divino, aí há liberdade” (2 Cor 3, 17).

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