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sábado, 25 de abril de 2020

COVID 19 - 25 /04/2020 - VIGÉSIMA REFLEXÃO



por Frei Aloísio Fragoso

A VERDADE EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS



    Desde algum tempo, o Papa Francisco vem alertando a consciência do mundo para o fato de que a Terceira Guerra Mundial já está sendo travada. Não se trata de uma guerra convencional, igual a tantas outras conhecidas da História. Ela se dá por meio de batalhas fragmentadas e reincidentes, que explodem aqui e ali, sem campos pré-determinados, ceifando milhões de vidas, sob o olhar calculista de seus autores e a ignorância das massas adormecidas  pelo que o Papa chama de "cultura da indiferença".

    A pandemia não estava nas previsões deles, chegou do nada virulentamente, mas logo enquadrou-se nos seus propósitos políticos: os Estados Unidos acusaram a China de ter produzido o coronavírus em seus laboratórios. A China, por sua vez, rebateu com a mesma virulência, e os demais países poderosos trataram de contribuir com um lado ou outro, de acordo com seus interesses políticos e econômicos. Cada um fez seus cálculos: quem primeiro encontrar uma evidência para o que deseja provar, terá descoberto uma nova bomba nuclear, de efeitos  incalculáveis. Não importa que sejam provas reais ou forjadas, basta que sejam "convincentes". Foi assim que o Presidente George Bush convenceu os países aliados da urgência de invadir o Iraque, com o argumento irrefutável de que Sadam Hussein escondia arsenais nucleares. Milhares de vidas jovens, iraquianas e norte-americanas, foram sacrificadas, enquanto nenhum indício destes arsenais foi encontrado até hoje.

    Com esta "prova" em mãos, Bush ou Trump estaria legitimado para contra-atacar com as mesmas armas, a saber, novos vírus letais produzidos em seus laboratórios (lembram do napalm, durante a guerra do Vietnam?). Se daí resultarem milhões de mortes inocentes, não haverá culpados, pois já se conhece um nome capaz de isentá-los da culpa. Chamam-se "efeitos colaterais".

    Costuma-se dizer que, em toda guerra, a primeira vítima fatal é a Verdade. Certamente, como sugere Jesus, quem faz o papel do lobo, procura  proteger-se com a pele do cordeiro. Daí nasce o pior dos sacrilégios: criar inimigos em nome de Deus. Cobrir de bençãos os que tem na boca o discurso do ódio. Usar as Escrituras Sagradas para disfarçar a mentira com aparências de Verdade.

    Quem diria que, passados 4 séculos, Maquiavel ainda seria seu principal conselheiro!  É para eles que o filósofo medieval escreve em sua obra "O Principe": "um governante hábil não pode e não deve guardar sua palavra quando isso é contrário a seus interesses.... Ele precisa ser um perfeito simulador e dissimulador. Os homens são tão simplórios e se deixam de tal modo dominar pela necessidade do momento, que, aquele que saiba enganar achará sempre quem queira ser enganado.... Importa que ele se conserve no bem, enquanto possível, mas saiba recorrer ao mal, se necessário."

    As cenas grotescas dos que foram às ruas gritar contra o isolamento social, nos dias em que a pandemia alcançava seu pic,  pareciam refletir um outro pensamento de Maquiavel: "a pessoa esquece mais facilmente a morte do pai do que a perca do seu patrimônio".

    Em situações assim tão graves, onde encontrar porta-vozes autênticos da Verdade? - Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o Papa Francisco, em suas homilias mais recentes. Ele abre as comportas e libera muitas verdades aprisionadas: "Fechamos os ouvidos aos gritos dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos destemidos, pensando que avançaríamos saudáveis, em um mundo doente". Agora "O risco é que podemos ser atingidos por um vírus ainda pior, o da indiferença egoísta. Um vírus que se infiltra no pensamento de que a vida é melhor se for melhor para mim e tudo ficará bem, se for bom para mim."

    Tantas vezes já ouvimos dizer que crise é oportunidade. E também que a Verdade é um dom em movimento, a ser conquistado passo a passo.

    Aproveitemos esta oportunidade única para pensar e repensar os valores sobre os quais se assentam nossa vida individual, nossas relações comunitárias e nossa consciência política. Não cansemos do silêncio que a quarentena nos impõe. Muitas vezes é de dentro do silêncio que irrompem  as verdades reprimidas.

   Está próxima a festa de Pentecostes. Que o Espírito Santo, Patrono da Verdade, nos ilumine!  Amém.


FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.


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