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sexta-feira, 10 de abril de 2020

SEXTA-FEIRA SANTA: UMA REFLEXÃO




por Kinno Cerqueira [1]

Hoje é Sexta-feira Santa, dia em que as igrejas fazem memória da Paixão de Jesus, quer dizer, de seu “sofrimento” cujo ponto alto é a crucifixão. Num dia como hoje, ganham relevo dois gestos religiosos: gratidão a Deus por Jesus haver morrido em nosso lugar e petição pelo perdão de nossos pecados. A meu ver, tais gestos revelam uma imagem/concepção de Deus que habita a mentalidade cristã.

O primeiro gesto é alimentado por uma liturgia na qual quase tudo gira em torno do assassinato de Jesus, comumente explicado como sendo o resultado de Deus haver enviado seu filho Jesus Cristo para morrer em nosso lugar, levando sobre si o martírio que se abateria sobre nós em virtude dos nossos pecados. O segundo gesto, intimamente vinculado ao primeiro, deita suas raízes na compreensão de que o assassinato de Jesus lhe outorgou o status de aliviador de consciências e garantidor de vida eterna para quem nele deposita a sua fé.

Ambos os gestos, porém, encaminham-nos para uma questão mais profunda, que é aquela que nos interroga pela imagem de Deus que subjaz a tudo isso. Em linhas gerais, podemos ver aí a imagem de um Deus sádico e perverso, cujos caprichos chegam ao ponto de exigir um assassinato bárbaro como condição para refazer as pazes com a humanidade. Tal imagem de Deus não poderia gerar outro cristianismo que não fosse o do tipo sacrificial, sádico e perverso, cujos reflexos lesam e alienam todas as dimensões da vida humana.

A vida de Jesus, quando lida atentamente, revela-nos uma perspectiva diametralmente oposta à assinalada acima. Jesus, no mundo, assumiu a missão de ensinar-nos a viver. Com suas opções de vida e suas palavras, anunciou não um outro mundo, mas um mundo outro, quer dizer, fez de sua vida um testemunho incontestável de que é possível vivermos irmanados num projeto de “amor cósmico” que ele chamou de Reino de Deus.

Como o projeto de Jesus traria como consequência a dissolução de todos os poderes opressores, quer religiosos quer políticos, chefes da religião de seu país uniram-se ao império para pôr um fim à sua vida. Jesus sabia que sua maneira de viver determinaria seu modo de morrer. A cruz era o destino comum de sonhadores! Sua morte não se explica a partir de Deus, mas a partir de sua opção pessoal de assumir o amor como princípio vida até as últimas consequências.

A vida de Jesus revela uma genuína imagem de Deus: o Deus crucificado com os crucificados, indignado com as injustiças e partidário inarredável do amor. Esse Deus não está nos altares, mas nos corpos abandonados e hostilizados, nas vozes fracas e cansadas de tanto sofrer, como também nos corações de todas as pessoas que, assim como Jesus, fazem de suas vidas testemunho do amor que abraça o cosmos. O Deus revelado na vida de Jesus pede de nós somente um sacrifício: fazer morrer o egoísmo para que o amor nasça como uma flor em tempo primaveril.

[1] Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos.

2 comentários:

  1. Obrigada, pastor Kinno. Sempre preciso e sensível com as palavras.🙏🏽👏🏽

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  2. Obrigado amigo e irmão ! Estamos em comunhão desde Brasília onde estamos com Maria nossa filha que está esperando gêmeas. A Páscoa abençoada para você . Abraço grande!

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