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quinta-feira, 30 de abril de 2020

COVID 19 - VIGÉSIMA SEGUNDA REFLEXÃO


por Frei Aloísio Fragoso

O PODER DO ESPÍRITO EM TEMPOS DE CORONAVIRUS


    Que poder move o mundo? Esta é, sem dúvida, uma pergunta pretensiosa. Qualquer resposta aceitável teria que resultar de um longo aprofundamento. Aqui ela aparece apenas como uma espécie de ponto de partida, uma referência sequenciada para chegar finalmente ao que importa: que poder move a mim, cidadão deste mundo e filho de Deus?

    Abalados pelos efeitos trágicos da pandemia do coronavirus, talvez alguns mais pessimistas desabafem, dizendo: o poder que move o mundo  é o de seres invisíveis e devastadores como estes vírus assassinos, frente aos quais nós não somos nada.

    Grandes pensadores e grandes santos dão outras respostas inspiradas na ciência ou na Fé, enquanto as pessoas simples não necessitam que lhes façam esta pergunta para  expressar suas intuições não menos sábias que a dos filósofos.

    E os que se deixam guiar pela luz da doutrina cristã? Para estes o Espírito Santo de Deus está presente desde o primeiro até no último momento da História, desde a primeira página da Bíblia  - "O Espírito pairava sobre as águas" Gn.1,2, até a página derradeira - "O Espírito e a  Esposa dizem "Vem"! ... e quem quiser venha beber de graça da Água da Vida" Apoc. 22,17. Por conseguinte, o sopro do Espírito de Deus dá início ao movimento vital, criador de todas as coisas, e conclui a sua obra com um chamado para saciar a sede de todos que habitam a Criação.

    Entre o primeiro e o último momento, entra em cena o Messias, o Cristo Senhor, e usa a mesma linguagem: "quem não nasce da água e do Espírito não entra no Reino de Deus" Jo.4,5. Então o Espírito Santo volta, desta vez em  forma de línguas de fogo sobre a cabeça dos apóstolos.

    Observemos como a ação do Espírito é representada pelos 4 elementos constitutivos do universo: terra, água, fogo e ar. Uma abrangência total do Universo criado.

    Daí nasce outra inevitável pergunta, comum aos que se sentem ameaçados por forças incontroláveis: por que este Poder Supremo não aniquila a ação destruidora do coronavírus?

    Antes de procurar uma resposta, precisamos ajuntar a esta questão algumas outras não menos razoáveis.Tem sido uma tendência sempre repetida na História, esta de cobrar a intervenção de Deus nas horas de grandes tribulações. Os antigos hebreus, esgotados com as exigências da caminhada no deserto, passaram a ter saudade dos tempos da escravidão no Egito. E querem retornar. A mesma conduta se repete hoje nos que vão às ruas gritar pela volta da ditadura militar, por se sentirem incapacitados ou incomodados com as exigências da democracia. Estes poderes do passado, invocados irracionalmente, pois grande parte ignora os fatos então acontecidos e outros preferem cegar os olhos da memória, são sucedâneos do poder divino.

    É hora de perguntar: quem garante que a pandemia do coronavirus não é consequência das nossas graves e contínuas transgressões às leis irrevogáveis da natureza? Quem garante que muitas tragédias que nos pegam de surpresa não são frutos de "sementes venenosas" que, em algum momento, plantamos no útero da mãe terra?

    Lembremos estas palavras do Papa Francisco: "Deus perdoa sempre. Nós perdoamos algumas vezes. A natureza não perdoa nunca." E escutemos com a mesma atenção o que nos diz Wakia un Mani, chefe da tribo Lakota, dos EUA: "Quando o último peixe desaparecer nas águas e a última árvore for removida da terra, então o homem saberá que ele não pode comer dinheiro".

    O que podemos esperar de Deus, neste momento, é que Ele repita o que sempre fez ao longo da nossa História: dê aos seus filhos e filhas inspiração e fortaleza, livrando-os do desespero e não permita que seja destruído o seu Plano de Salvação (palavra que significa originalmente saúde).

    Da nossa parte, o que devemos fazer é acionar todas as forças de reserva guardadas em nossa natureza para as situações insuportáveis e apressar o fim desta catástrofe pelo poder da Fé, através da oração.

    Cada dia mais próximos da festa de Pentecostes, vamos reunir todas as nossas energias espirituais e clamar como os antigos hebreus, nas horas tenebrosas, diante dos muros de Jerusalém: "Se Deus está conosco, quem poderá derrotar-nos?"  Amém!

 FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.

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