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segunda-feira, 25 de março de 2013

CINEMANIA – JOGOS VORAZES



por ROSSANA MENEZES


Direção: Gary Ross
 Roteiro: Gary Ross (screenplay, Suzanne Collins (screenplay) ,e Billy Ray (screenplay) e Suzanne Collins (novel)
.


Quando vamos falar de um filme que é adaptação de um livro, não tem como comparar os dois. Quando eu li O Senhor dos Anéis (e os outros livros sobre a Terra Média) eu achei que nunca nenhum outro livro de fantasia fosse prender a minha atenção e me envolver como ele. Mais de dez anos se passaram sem que outra obra tivesse em mim o mesmo efeito. Até Hunger Games.
     Eu sou uma pessoa muito ligada no que está acontecendo no mundo, mas quando o assunto é música e livros eu sou totalmente alienada. Gosto muito de música e leio muito, sempre, mas não sou de seguir tendências. Nem a das músicas e muito menos sei quais são os dez livros mais vendidos do New York Times. Eu leio o que me interessa e não o que está na moda. 

     Hunger Games foi um livro que foi "vendido" como um novo Crepúsculo. A nova febre adolescente. E isso já era motivo mais do que de sobra para que eu o ignorasse totalmente. Até que um amigo meu lá de Recife me ligou e disse que havia acabado de ver um filme que era a minha cara. Eu fui então perguntar a minha irmã mais nova se ela já tinha visto e do que se tratava, por que ler na internet as vezes não é a melhor das opções. Foi então que ela me falou sobre o livro e eu decidi lê-lo antes de ver o filme. 

     O livro me surpreendeu. Trata-se de uma trilogia e cada livro tem, em média, 400 páginas. Eu li os TRÊS livros em 10 dias. Simplesmente devorei. E vi que o livro não é NADA daquilo que disseram nas propagandas. Ele é denso, forte, com um pano de fundo político extremamente presente. Personagens super bem desenvolvidos e profundos, cheios de conflitos pessoais. Ele tem uma trama elaborada, uma mitologia bem desenvolvida e nova. Ele não é nada feito pra adolescentes. Mas foi vendido assim e atingiu o público que queria, pois, aparentemente, pra agradar esses adolescentes de hoje, basta um triângulo amoroso. Isso é a ÚNICA coisa em comum que Hunger Games tem com Crepúsculo. E mesmo assim, em um outro nível.

     Mas falando agora do filme, que foi dirigido por Garry Ross, um diretor que tem pouquíssimos títulos no seu currículo (a praia dele é mais escrever roteiro e produzir filmes do que dirigir), mas deu conta do recado. A adaptação do roteiro não poderia ter sido mais fiel, no entanto ficou rasa. Superficial. O roteiro foi adaptado pelo próprio G. Ross e a autora do livro, Suzanne Collins e eu não sei bem o que aconteceu.  


     Eu não sei se eles tentaram deixar o filme mais simples pra puxar ainda mais o público jovem que não gosta de ler. Ou se simplesmente foi muito conteúdo pra pouco filme, pois, como bem disse o meu amigo Diogo em seu Review, a sensação que passa é que ele daria uma ótima série de TV, com vários episódios, pois tem muito pano pras mangas... mas um filme de 2h20min... foi pouco.

     Hunger Games conta a história de Katniss, uma jovem que vive uma realidade assustadora em um futuro não muito longe do nosso. A história se passa em uma nação chamada Panem, localizada onde hoje é a América do Norte. A ambietação do filme é uma coisa totalmente obscura. Quem viu só o filme não tem a mínima noção desse fato. Depois de uma guerra que praticamente destruiu o mundo como conhecemos hoje, houve uma reformulação e uma nova ordem mundial foi criada. Em Panem existem 12 distritos. Katniss mora no 12o. O governo é totalitário e, em algum ponto da história, houve uma rebelião, que foi desmembrada pelo governo. Para lembrar a população de que rebelar-se não é uma boa ideia, foram criados os Hunger Games. Todo ano, um casal de jovens de cada um dos 12 distritos, entre 12 e 18 anos,  é escolhido para serem levados à uma arena de onde apenas um dos 24 sairá vivo e vitorioso. Esse evento é transmitido para todo o país, e a história começa quando Katniss se oferece como voluntária no lugar de sua irmã mais nova, que havia sido sorteada para os jogos. E é nessa cena que começa o problema da superficialidade.

     Em uma das primeiras cenas do filme Katniss acalma a sua irmã, que acordou de um pesadelo no dia da convocação para os jogos daquele ano, dizendo que como é o primeiro ano dela (ela tinha feito 12 anos), o nome dela só estava no sorteio uma única vez e as chances dela ser chamada eram muito poucas. Em uma cena logo depois, ela está na floresta conversando com Gale, seu amigo e peça importante no livro, mas nem tanto no filme, e pergunta a ele quantas vezes o nome dele está no sorteio, ao que ele responde 42. Ele tem 16 anos. Hã? Como assim produção? Que matemática é essa?

     E a primeira falha do filme é em não explicar uma coisa simples, mas que causa um impacto enorme no livro. O fato de que as pessoas que estão em idade para competir nos jogos, podem por seus nomes mais vezes no sorteio, de modo que aumentaria a sua chance de ser convocado, em troca de COMIDA. Outra cena forte é quando Katniss é escolhida e a apresentadora do "evento" (eles tentam fazer disso um grande evento nos distritos e em alguns realmente é) pede uma salva de palmas para ela. Todo mundo fica calado e simplesmente levantam as mãos em um gesto típico daquele lugar como um sinal de protesto. Isso não é explicado. Em outra situação Katniss ganha um broche com um mockinjay de uma vendedora no mercado. Esse pássaro é de extrema importância na história e isso não fica nem um pouco claro. Tudo isso nos primeiros 17 minutos de filme.

     O filme é visualmente muito bem feito. A falta de cores nas primeiras cenas, quando o distrito 12 está sendo mostrado, em contraste com as cores vibrantes, cabelos e maquiagens das pessoas que moram na capital é fantástico. A idéia de que as pessoas que moram em alguns dos distritos são pobres é muito bem passada. Mas deveria ir muito além.

     Existe um controle do governo, uma alienação da população que o cerca, vivendo muito bem na capital em contraste com quem mora nos distritos, que passam por sérios problemas. O controle da mídia, a vigilância, a coerção política e ideológica. O fato de que alguns distritos aceitam melhor a manipulação do governo e abraçam a idéia dos jogos, vendendo a idéia para seus jovens que participar deles é uma honra, e assim tem um maior apoio do governo, enquanto os distritos mais rebeldes sofrem com a miséria  é mostrado no livro e muito pouco no filme. 

     O conflito interno da personagem principal, a atuação dela durante os jogos, a relação dela com Peeta e com Haymitch, tudo isso é mostrado de forma muito rápida e muito simples no filme. 

     Não é um filme ruim. Está longe de ser isso. É bom, é bem feito, mas não faz jus ao livro. É um filme que faz você refletir sobre que tipo de sociedade estamos criando. É um filme incisivo. Contundente. Mesmo que mascarado por um romance adolescente. É um filme complexo que vale muito a pena ser visto e refletido. 
     MAS, se você gosta de ler, dê preferência aos livros. 

Rossana Menezes é jornalista, fotógrafa e designer gráfica.

Um comentário:

  1. Concordo, o filme poderia ter ido muito mais alem. Sou fa da trilogia e ate hoje foram os unicos livros que repeti a leitura por puro prazer. A segunda vez que li, fiz questao de ler bem devagar, meio que para "saborear" cada situacao, entender melhor o pq de cada frase, cada atitude. O que gostei bastante do filme foi a forma de como eles tentaram abordar o lado de fora da arena, a ideologia e o poder do presidente Snow nos jogos. Como por exemplo a conversa entre o presidente e Seneca (que nao existe no livro) sobre a forca da esperanca. Ou o papel fundamental de Haymitch em construir o romance ate conseguir sinal verde pra ter 2 vencedores no game. Enfim, sou fah e soh pra nao perder a comparacao com o Crepusculo ;) sou team Peeta heheheh
    Carol Xavier

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