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sexta-feira, 8 de março de 2013

Hoje




Por ROBERTA BARROS

Os degraus das escadarias que davam acesso àquele morro viravam ruínas. O cimento desgastado pelo tempo, fazia nossos pés bobear exigindo equilíbrio, o lodo verde musgo que escorria pelo corrimão, contrastava com o cinza das fardas dos policiais que faziam varredura na área, suas ações rotineiras.
Os homens eram colocados contra as paredes, suas bermudas já sem marcas ou sem cor, eram sacolejadas.
As crianças que estavam na rua assistiam a tudo, com direito à reprise, logo mais na televisão, uma espécie de programa social,  ritual  obrigatório  das favelas.
      As mães escondiam os filhos pequenos dentro de casa, por traz dos portões de ferros enferrujados.
Os bêbados, arriados nas calçadas das biroscas, aplaudiam a ação, afinal, o álcool já tinha lhe subido a cabeça e toda  aquela movimentação já era constante aos seus embriagados olhos.
Dentro dos barracos, com as portas entreaberta as pessoas esperavam tudo acontecer, alguns sofás com os forros já gastos, e espumas à mostra, serviam  de barricadas.
Valia até se esconder das balas perdidas, se deitando no chão até tudo voltar ao normal.
     Mas que normalidade esperamos quando se vive  em casebres nas beiras das encostas, sem sanitários, onde as mangueiras que levam água potável faz seu caminho junto as águas poluídas  e infectas   dos esgotos?
Onde homens e cães disputam lugar para dormir em casas de terra batida, e onde também meninas e meninos são usados como mercadorias e famílias inteiras são dizimadas pela força de uma Pedra, assim como na idade da Pedra.
     A degradação nestes bairros, nos salta a vista. É uma parcela inteira da população que vive a mercê de sua própria sorte.
Driblando a AIDS, leptospirose, tuberculose, em uma corda bamba, guiados apenas pelo sangue que ainda pulsa em suas veias.  

Roberta Barros é pedagoga e fundadora da CAMM
  

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