Por JURACY ANDRADE
Há um mês, a renúncia do
papa Ratzinger e a eleição de seu sucessor constituem tema obssessivo da
imprensa ocidental. Foi de fato uma surpresa a abdicação de Bento 16. Ele teve
tanta gana para ocupar o indevidamente chamado trono de Pedro (São Pedro nunca
teve trono, era um pescador simples do Mar da Galileia e não pretendia ser
chefe absoluto das comunidades cristãs espalhadas pelo Oriente Médio e o mundo
greco-romano) e, de repente, joga a toalha. Ele, após a morte do papa Wojtyla,
ocupou todos os espaços disponíveis, proibiu que cardeais dessem entrevistas e,
no conclave, sua escolha foi tão rápida que, para alguns críticos, não deu
tempo nem de o Espírito Santo, que supostamente inspira a escolha dos bispos de
Roma, chegar e agir. De repente, larga tudo.
O motivo dessa virada está
sendo buscado no acúmulo incessante de escândalos envolvendo clérigos que são
obrigados a um celibato forçado, mas se acham no direito de abusar sexualmente
de menores enquanto, para todos os efeitos, estão devidamente enquadrados nas
exigências do direito canônico, que, ao longo dos séculos, tomou o lugar do
Evangelho. E buscado também na impossibilidade de, mesmo com toda a sua energia
germânica, ele conseguir tourear a dissidência da Cúria Romana, aquela mais
visível encarnada pelo cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do
Vaticano. Dois livros do jornalista Gianluigi Nuzzi, que eu comentei no jornal
virtual O Porta-Voz (rejane.edite@gmail.com), trazem uma vasta a arrasadora
documentação sobre segredos nunca antes revelados do império papal, inclusive
provas da especialização do IOR (Banco do Vaticano) em lavagem de dinheiro do
crime organizado. Trata-se de Sua Santità
- le carte segrete di Benedettto XVI e Vaticano SpA (SpA = sociedade
anônima).
Quem ainda acredita que a
renovação da Igreja Católica Romana, sua volta aos Atos dos Apóstolos, se dará
por iniciativa de algum papa pode apostar na escolha de um homem de Deus para o
papado, uma figura como João 23 ou João Paulo 1º, e rezar fervorosamente para
que, antes de ser eliminado, ele consiga desmantelar a Cúria Romana.
PS – Saiu a segunda edição
de Direita Volver – O golpe de 1964 em Pernambuco, trabalha de fôlego do
professor Fernando Coelho, com ampla documentação sobre os reais objetivos dos golpistas.
Além dessa reedição, o atualmente coordenador da Comissão da Verdade de
Pernambuco lançou um trabalho de memórias em dois volumes, sob o título Tempo
de faculdade e outros tempos. Vale a pena conferir. Como deputado federal e
presidente da OAB-PE, Fernando Coelho, junto com tantos outros resistentes,
como o recém-falecido Fernando Lyra, lutou pela volta da democracia, sem medo
de careta.
Juracy Andrade é jornalista
"Este artigo saiu originalmente no Jornal do Commercio".
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