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sexta-feira, 29 de março de 2013

A Igreja e a alegria Pascal



Por MARIA CLARA LUCCHETTI BINGERMER

Mais uma vez celebrando a Páscoa, a Igreja cantará e se alegrará com a ressurreição do Crucificado Jesus de Nazaré, arrancado às garras da morte pelo Pai, que enfim revela-se como Deus dos vivos e não dos mortos.  Mais uma vez a comunidade eclesial reunida acenderá suas velas no Círio que simboliza a luz de Cristo e todo o recinto antes escuro se iluminará.
     O mestre de canto entoará o Exsultet com júbilo e deslumbramento, constatando que seu Senhor cumpriu todas as promessas que fez e não permitiu que seu Eleito conhecesse a corrupção e a derrota da morte.  E neste canto litúrgico proclamará: Que a Mãe Igreja alegre-se igualmente, erguendo as velas deste fogo novo, / E escutem reboando de repente o aleluia cantado pelo povo.

      E talvez há muito tempo este canto não seja tão verdadeiro quanto nesta Páscoa que em 2013 celebramos.  Porque talvez nunca uma Quaresma tenha sido tão intensa e por isso mesmo seu pascal desfecho excede em alegria e esperança.  A Igreja Católica vem vivendo um verdadeiro processo pascal e agora celebrará com maior e renovado júbilo este momento de Ressurreição.

     No dia 11 de fevereiro, ainda em pleno Carnaval, Bento XVI renunciou a seu cargo de Bispo de Roma que preside todas as Igrejas.  A cátedra de Pedro ficou vazia enquanto a perplexidade tomava conta de mentes e corações pelo mundo afora.  Os dias que se seguiram foram de desolação ao conhecer muitas das razões do corajoso gesto do Papa hoje emérito. Mas também de especulações tateantes e conjeturas sobre quem seria seu sucessor e o que representaria neste momento difícil da Igreja.

     A comunidade eclesial no mundo inteiro voltava seus olhos para Roma onde uma situação nunca antes vivida acontecia.  Tornava-se ciente das sombras que se haviam abatido sobre esta instituição que é a mais antiga da história da humanidade e que parecia a muitos inexpugnável a fatos dolorosos e obscuros como os que a mídia trazia à luz.  A sociedade secular também se interessava.  E multiplicavam-se ao redor do mundo as perguntas, o espanto, a espera.

      Ao terminar o conclave, a fumaça branca foi festejada não apenas pelos católicos, mas por todos os que sabem a importância que tem o Cristianismo na história e na cultura do Ocidente.  Todos os homens e mulheres de boa vontade que ainda que não se sintam membros plenos desta Igreja percebiam dentro de si um sentimento de orfandade com todas as vicissitudes que a golpeavam. A fumaça branca anunciava que havia novo Papa, que a sé de Pedro já não estava vazia.  Mas quem a ocuparia.

     O anúncio da alegria foi feito com voz trêmula pelo cardeal francês. O nome pronunciado – Jorge Mario Bergoglio – intrigou a muitos, surpreendeu a tantos.  O silêncio desceu sobre o mundo enquanto se esperava que o novo Papa se apresentasse.  E Francisco chegou ao balcão do Vaticano. Com voz acolhedora e alegre saudou: “Boa noite”. E, antes de abençoar, pediu oração e bênção para si próprio.  Estava proclamado um novo tempo pascal para a Igreja que voltava a respirar esperança e júbilo.

     A partir daí, a simplicidade e o estilo despojado do novo Papa têm encantado a todos.  Suas palavras são pontuadas por uma preocupação central: os pobres.  E todos que o ouvimos descobrimos que saudades tínhamos de ouvir essa palavra presente e reincidente nos lábios do Pastor. Vindo do Sul, “do fim do mundo”, onde a pobreza e a injustiça fazem seu trabalho predatório a cada dia sobre as vidas humanas, Francisco não esquece e não deixa esquecer a serviço de quem está a Igreja que preside na caridade.  E sua fé proclama que estes que o mundo considera últimos são e devem ser, na verdade, os mais queridos de Deus, os preferidos. E, portanto devem ser a opção primeira e preferencial da Igreja de Cristo.

      Com ele e por causa dele, podemos na vigília pascal cantar com verdade e alegria autênticas: Ó noite de alegria verdadeira, Que prostra o Faraó e ergue os hebreus, Que une de novo ao céu a terra inteira, Pondo na treva humana a luz de Deus. Francisco até agora não tem deixado de nos lembrar que o Evangelho que professamos nos leva necessariamente a erguer os caídos e cuidar das vítimas.  As três palavras que disse aos cardeais como um programa – caminhar, edificar, confessar – necessariamente levarão a Igreja de volta à primavera do Concílio.

     E a Mãe Igreja então se alegrará e cantará aleluia! porque redescobrirá sua vocação de ser uma Igreja pobre e para os pobres.  Feliz Páscoa para todos e todas! 

Maria Clara Lucchetti Bingemer é professora do  Departamento de Teologia da PUC-Rio,  teóloga e autora de “Crônicas de cá e de lá” (editora Subiaco), que  pode ser  encomendado diretamente à escritora pelo e-mail –  agape@puc-rio.br – R$ 20,00


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