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terça-feira, 14 de outubro de 2014

A IGREJA SE FAZ FÓRUM DE IRMANDADE



Por Marcelo Barros


Nesses dias, a Igreja Católica entra no 50o ano do encerramento do Concílio Vaticano II, em Roma, em 1965. Até o próximo ano, no mundo inteiro, diversos eventos recordarão o Concílio que deu início a uma grande renovação da Igreja. Ele a pôs em diálogo respeitoso e construtivo com o mundo contemporâneo. O papa Francisco tem insistido: para ser fiel ao que, hoje, o Espírito diz às Igrejas, essas devem prosseguir, com coragem e determinação, o diálogo com a humanidade. Só assim cumprirão o exigente trabalho da sua renovação interna para melhor servir ao projeto divino de justiça, paz e comunhão com o universo.  
Na celebração desse jubileu do Concílio, ministros e fieis avaliam o caminho feito desde então. Quando o papa João XXIII convocou todos os bispos do mundo para renovar a Igreja Católica, tinha em vista preparar o caminho para a unidade com outras Igrejas cristãs. Agora, 50 anos depois, apesar de muitas experiências de diálogo e serviço em comum, as Igrejas continuam divididas. E a mística da unidade, pela qual João XXIII deu a vida, não se converteu em preocupação fundamental da maior parte dos ministros e fiéis da Igreja Católica e de outras Igrejas. 

Desde esta época, o mundo viveu grandes transformações. Em todo o mundo, sociedades de cultura agrária se urbanizaram. O mundo atual se caracteriza por rápidas e incessantes mudanças, não apenas no campo tecnológico, mas também no plano da cultura e dos costumes. Dentro desse contexto, as religiões continuam se definindo como sociedades que se caracterizam pelo apego a suas tradições e pela imensa dificuldade de mudar a linguagem e o modo de ser. Isso é um obstáculo sério ao diálogo das instituições religiosas com a humanidade e a sua inserção na construção de um novo mundo possível.    
No Evangelho, Jesus propõe: “Não adianta colocar remendo novo em roupa velha. O remendo repuxa o pano e rasgão fica maior ainda. Ninguém coloca vinho novo em barris velhos porque o vinho novo arrebenta os barris velhos e tanto o vinho como os barris se perdem. Para vinho novo (que é o evangelho), temos de ter barris novos” (Mc 2, 21- 22). Essa palavra ressoa hoje para cristãos e não cristãos como um apelo para à permanente transformação inspirada pelo Espírito nas Igrejas e no mundo. Atualmente, muitos cristãos desejam um novo concílio, dessa vez, reunindo não somente bispos católicos, mas pastores e fiéis de várias Igrejas cristãs. Apesar de, hoje, contarmos com a proposta renovadora do papa Francisco, o estilo de Igreja que ainda persiste na maioria dos lugares é o modelo medieval dogmático  e autoritário. Por isso, mais do que um grande evento, a ser realizado em Roma ou em outra parte do mundo, um grande grupo de bispos, padres e fieis preparam uma proposta que se chama de “novo processo conciliar”. Seria um fórum permanente de diálogo e busca em comum. As comunidades locais são convidadas a  aprofundar os  grandes desafios do mundo atual e a missão das igrejas em relação a eles. O tema de uma civilização ecologicamente sustentável e baseada na paz e na justiça seria o pano de fundo. A partir dessa missão, é preciso renovar o modo de expressar a fé e inserir-se no mundo. Isso fará os cristãos superarem uma concepção de Igreja voltada sobre si mesma para o caminho proposto por Jesus. Em 1971 na França, (Taizé), um Concílio de jovens propunha: “uma Igreja missionária e pascal, pobre e despojada dos meios de poder que se coloque como espaço de comunhão amorosa para toda a humanidade”.



 Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.  


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