Por Marcelo Barros
Nesses dias, a Igreja
Católica entra no 50o ano do encerramento do Concílio Vaticano II, em Roma, em
1965. Até o próximo ano, no mundo inteiro, diversos eventos recordarão o
Concílio que deu início a uma grande renovação da Igreja. Ele a pôs em diálogo
respeitoso e construtivo com o mundo contemporâneo. O papa Francisco tem
insistido: para ser fiel ao que, hoje, o Espírito diz às Igrejas, essas devem
prosseguir, com coragem e determinação, o diálogo com a humanidade. Só assim
cumprirão o exigente trabalho da sua renovação interna para melhor servir ao projeto
divino de justiça, paz e comunhão com o universo.
Na celebração desse
jubileu do Concílio, ministros e fieis avaliam o caminho feito desde então. Quando
o papa João XXIII convocou todos os bispos do mundo para renovar a Igreja
Católica, tinha em vista preparar o caminho para a unidade com outras Igrejas
cristãs. Agora, 50 anos depois, apesar de muitas experiências de diálogo e
serviço em comum, as Igrejas continuam divididas. E a mística da unidade, pela
qual João XXIII deu a vida, não se converteu em preocupação fundamental da
maior parte dos ministros e fiéis da Igreja Católica e de outras Igrejas.
Desde esta época, o mundo
viveu grandes transformações. Em todo o mundo, sociedades de cultura agrária se
urbanizaram. O mundo atual se caracteriza por rápidas e incessantes mudanças,
não apenas no campo tecnológico, mas também no plano da cultura e dos costumes.
Dentro desse contexto, as religiões continuam se definindo como sociedades que
se caracterizam pelo apego a suas tradições e pela imensa dificuldade de mudar
a linguagem e o modo de ser. Isso é um obstáculo sério ao diálogo das instituições
religiosas com a humanidade e a sua inserção na construção de um novo mundo
possível.
No Evangelho, Jesus propõe:
“Não adianta colocar remendo novo em roupa velha. O remendo repuxa o pano e
rasgão fica maior ainda. Ninguém coloca vinho novo em barris velhos porque o
vinho novo arrebenta os barris velhos e tanto o vinho como os barris se perdem.
Para vinho novo (que é o evangelho), temos de ter barris novos” (Mc 2, 21- 22).
Essa palavra ressoa hoje para cristãos e não cristãos como um apelo para à
permanente transformação inspirada pelo Espírito nas Igrejas e no mundo. Atualmente,
muitos cristãos desejam um novo concílio, dessa vez, reunindo não somente
bispos católicos, mas pastores e fiéis de várias Igrejas cristãs. Apesar de,
hoje, contarmos com a proposta renovadora do papa Francisco, o estilo de Igreja
que ainda persiste na maioria dos lugares é o modelo medieval dogmático e autoritário. Por isso, mais do que um
grande evento, a ser realizado em Roma ou em outra parte do mundo, um grande
grupo de bispos, padres e fieis preparam uma proposta que se chama de “novo
processo conciliar”. Seria um fórum permanente de diálogo e busca em comum. As
comunidades locais são convidadas a
aprofundar os grandes desafios do
mundo atual e a missão das igrejas em relação a eles. O tema de uma civilização
ecologicamente sustentável e baseada na paz e na justiça seria o pano de fundo.
A partir dessa missão, é preciso renovar o modo de expressar a fé e inserir-se
no mundo. Isso fará os cristãos superarem uma concepção de Igreja voltada sobre
si mesma para o caminho proposto por Jesus. Em 1971 na França, (Taizé), um
Concílio de jovens propunha: “uma Igreja missionária e pascal, pobre e
despojada dos meios de poder que se coloque como espaço de comunhão amorosa
para toda a humanidade”.
Marcelo
Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e
assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades
eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da
ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45
livros publicados no Brasil e em outros países.
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