por Marcelo Barros
O
24 de outubro de cada ano, aniversário da fundação da ONU, é estabelecido como
o “dia internacional de informação sobre o desenvolvimento”. Também nesse dia,
começa a Semana mundial para o Desarmamento que vai até o dia 30. Nesse ano, iniciamos
as comemorações para a celebração dos 70 anos da assinatura da “Carta da ONU”,
assinada no 24 de outubro de 1945. Tantos anos depois, grande parte da
humanidade reconhece a grande contribuição da ONU para o diálogo entre os povos
e o estabelecimento de uma ordem internacional que ajude a paz e a justiça. Ao
mesmo tempo, percebe as limitações de uma organização internacional, até hoje
controlada pelas grandes potências mundiais. O Conselho de Segurança tem postos
fixos para os países ricos do mundo, enquanto os outros ficam a depender de
suas decisões.
Há
um mês, a presidente Dilma falou na assembleia geral da ONU. Em seu discurso,
se pronunciou contra a política militarista e os ataques dos Estados Unidos e
seus parceiros à Síria e ao chamado Estado Islâmico. Suas palavras foram
violentamente criticadas pelas agencias de notícias e por formadores de opinião.
Segundo essas pessoas, com terroristas não se dialoga.
A única linguagem que
eles conhecem é a guerra. Por isso, é preciso eliminá-los. A presidente do
Brasil tentou argumentar que a humanidade precisa entrar em outro paradigma e
buscar o convencimento e a paz através de uma linguagem que não seja apenas a
das armas. Ninguém defende insurgentes islâmicos fundamentalistas que
assassinam civis e fazem terrorismo. No entanto, os Estados que os atacam
invadem outros países, matam civis e inclusive crianças e ninguém os chama de terroristas. Conforme a
Organização Internacional Opinion Resarch
Business, o governo dos Estados
Unidos foi responsável pela morte de um milhão e duzentos mil iraquianos. Mais
de um milhão de mortos. Isso para depois, o governo Bush reconhecer que mentira
deslavadamente ao afirmar que o Iraque tinha armas de destruição de massa. Ele
confessou a mentira que provocou esse genocídio e nada ocorreu com ele.
Atualmente,
conforme investigação conduzida pelos jornalistas Gleen Greenwald e Murtaza
Hussain, o tal Estado Islâmico é uma farsa criada para servir aos propósitos do
governo dos EUA que desejava ter uma justificativa para iniciar os bombardeios
na Síria. Essa reportagem foi censurada e retirada de todos os meios de
comunicação norte-americanos. (Cf. artigo de Reginaldo Nasser em
www.cartamaior.com.br).
Em
um mundo de alianças continentais como a União Europeia (UE), a União dos
Estados Africanos (UEA), a Confederação dos Estados Latino-americanos e do
Caribe (CELAC) e outras, a ONU também precisa ser mais descentralizada. Em um
mundo que continua dominado por novas formas de colonialismo, a ONU só poderá
cumprir sua missão se se organizar a partir dos povos da periferia do mundo. Se
não conseguir mudar de lado, continuará a ser apenas o braço legitimador dos
cruéis impérios do século XXI. Desde sua publicação, a Carta da ONU foi
complementada por muitos documentos. Já temos cartas e acordos sobre direitos
humanos, direitos do trabalho, das crianças, dos povos indígenas, dos migrantes
e de outras categorias que ainda precisam ver reconhecidos seus direitos e a
sua dignidade humana. Embora esses documentos sejam fundamentais e necessários,
atualmente, é importante a ONU ir além dos seus textos e dar um testemunho de
serviço à paz e à justiça a partir dos pequenos do mundo.
Há
décadas na Europa, alguns grupos da sociedade civil tentaram criar uma “ONU dos
povos”, não para substituir a dos chefes de Estados, mas para se colocar juntos
no trabalho pela justiça e pela paz. Desde o início do século XXI, o Fórum
Social Mundial realiza um processo de encontros e diálogos entre cidadãos/ãs do
mundo inteiro para a construção de um
“novo mundo possível”.
Também
as religiões e tradições espirituais têm se unido em um “Parlamento das
Religiões pela Paz” e em outros
organismos semelhantes para dar sua contribuição cultural e positiva à humanidade.
Quase todos os caminhos espirituais mostram que, para além de todas as
fronteiras e limites, toda a humanidade tem a vocação de se constituir como uma
só família humana na qual todos/as são irmãos/ãs.
Conforme
um conto judaico, um rabino reuniu a comunidade e deu a notícia de que,
finalmente, o Messias, o enviado de Deus, iria chegar ao mundo e ele chegaria
naquela cidade no momento exato em que as trevas da noite dessem lugar ao dia.
Um fiel perguntou como conheceria esse momento exato no qual a escuridão da
noite dá lugar ao dia. O rabino respondeu: “Quando formos capazes de reconhecer
no vulto de qualquer desconhecido o rosto de um irmão, a escuridão dará lugar à
luz de um novo dia e o Messias estará chegando”.
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