por Marcelo Barros
A ONU considera
30 de janeiro como o dia internacional da não violência e da paz. Nesse dia, em
1948, na Índia, o Mahatma Gandhi foi assassinado por consagrar sua vida à paz e
à não violência. Foi morto por um conterrâneo seu, insatisfeito pelo fato de
que Gandhi, hinduísta, passou a morar em um bairro muçulmano para dialogar com
crentes de outra tradição religiosa.
Tantos anos
depois de sua morte, a paz ainda não chegou ao mundo. A violência entre
culturas e principalmente entre religiões continua forte e ameaçadora.
Entretanto, nos dias atuais, um elemento que a humanidade toma cada vez mais
consciência é de que a paz e a não violência precisam ser estabelecidas entre povos
e culturas, mas também entre o ser humano e a Terra, mãe comum de todos nós. De
fato, ao fazer da terra e da natureza uma mercadoria a mais para ser vendida e
comprada, o sistema social e econômico dominante no mundo deflagra uma guerra
contínua e insensata contra a terra e o equilíbrio da vida no planeta.
Infelizmente, nem as religiões têm sido atentas a esse problema e não conseguiram
impedir a crise ecológica que cada dia se agrava mais. Um relatório recente da
ONU, ao avaliar os ecossistemas existentes na terra, revela que dos 24
elementos considerados fundamentais para a conservação da vida no planeta, 15
registram elevado grau de degeneração. A natureza inteira está doente e a
própria Terra ferida pela ambição humana.
Nestes dias, na
Itália, um jornal de circulação nacional noticiou que neste ano, pela primeira
vez, ao final do inverno, as neves dos Alpes diminuirão a tal ponto que não
permitirão aos turistas esquiarem na neve natural. E alertava que ao ser
derretido o permafrost, ou seja, a superfície antes permanentemente gelada dos
Alpes como do norte do Canadá e da Rússia, libera na atmosfera da terra milhões
de toneladas de metano, elemento 23 vezes mais prejudicial à camada de ozônio que
o carbono emitido pelos poluentes até aqui conhecidos (La Stampa, 15/ 01/ 2013).
A isso se junta o óxido nitroso, liberado pelos fertilizantes químicos, usados
na agricultura. Esse elemento, dizem os cientistas, é 40 vezes mais nocivo e
provocador do aquecimento da terra. O livro mais recente da pacifista Vandana
Shiva nos convida a “fazer paz com a terra”.
Nessa guerra que o sistema social e econômico dominante move
implacavelmente contra o planeta, é urgente que tomemos a defesa da terra
agredida e ameaçada de morte. Atualmente, os fóruns sociais e os movimentos
sociais, junto com as comunidades indígenas e grupos afro-descendentes, tomam
como prioridade a defesa da Terra Mãe e a cura da natureza. Para isso, propõem
novas medidas sociais e políticas de defesa da Terra, mas sabem: a base de tudo
é uma mudança cultural na forma do ser humano se relacionar com a terra e a
natureza. Pessoas e comunidades das mais diversas tradições religiosas
desenvolvem uma espiritualidade ecológica que nos faz contemplar o mistério
mais profundo, latente em cada ser vivo e em todos os elementos da criação. Na
Bíblia, o livro do Apocalipse revela que, quando a Mulher, símbolo da
humanidade nova, dá a luz ao ser humano novo, as forças do mal (o dragão) se colocam
em guerra contra a mulher e a perseguem. Então, a Terra vem em defesa da mulher
e a abriga no deserto pelo tempo necessário (Apoc 12). É uma visão simbólica
dessa aliança de amor que precisamos ter com a terra e toda a natureza para
viver e testemunhar o projeto divino em ação, no mundo e em nós, até que, como
diz Paulo, Deus seja tudo em todos.
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