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sábado, 5 de janeiro de 2013

SITES DO VATICANO ESCONDEM O BANCO PAPAL

    por Juracy Andrade


 Neste início de ano, dando prosseguimento a meu artigo anterior, lhes apresento o outro livro de que falei, do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, Vaticano SpA (SpA em italiano, sigla de “società per azioni”, é para nós “sociedade anônima”). O livro comentado anteriormente, Sua Santità, do mesmo autor, se baseia em documentos obtidos através de fonte próxima ao pontífice (quase certamente o mordomo do papa Bento 16, Paolo Gabriele, que foi preso, julgado e condenado, e agora no Natal indultado pelo soberano da Cidade do Vaticano). O de que falo hoje se fundamenta também em documentos incontestáveis confiados post mortem ao autor, anotações e papeis do monsenhor Renato Dardozzi, figura importantíssima na gestão das finanças papais entre 1974 e 1990.
      O livro se inicia com a ascensão e queda de monsenhor Paul Casimir Marcinkus, um gigante americano que também funcionou como guarda-costas dos papas Paulo 6º e João Paulo 2º e cuja diretriz era que a Igreja não se governa com Ave Maria”. Meteu-se em grandes falcatruas com Michele Sindona, banqueiro mafioso envenenado mais tarde na prisão, e com o banqueiro Roberto Calvi, do Banco Ambosiano, que faliu fraudulentamente. Posteriormente, Calvi foi encontrado morto sob a ponte Blackfriars em Londres. E termina com a conspiração entre políticos católicos, cardeais e outros grandes e sabidos para criar um partido político católico de centro (esconderijo da direita), em substituição à desmoralizada Democracia Cristiana.
      Os papeis secretos do antenado e organizado monsenhor Renato Dardozzi são muitos e o livro é extenso. O jornalista italiano os recebeu por expressa vontade do prelado curial, que, após a bagunça causada por Marcinkus nas finanças pontifícias e no IOR (Banco do Vaticano), deu grande colaboração para sua limpeza e recuperação Sem sucesso. Talvez daí tenha surgido sua determinação de divulgar a papelada. Segundo as revelações de Nuzzi, com base naqueles documentos, o Vaticano desenvolve seus negócios em absoluto sigilo e as intensas atividades da holding da Santa Sé (não tão santa como se diz) representam  um dos segredos mais bem guardados do mundo.
      Esse silêncio é tutelado proposital e diariamente a qualquer custo, continua escrevendo Nuzzi. O silêncio protege toda a economia e, portanto, também os negócios mais questionáveis que marcam a vida financeira da Igreja de Roma, apropriada e tutelada pelo Estado papal. Esse segredo inclui a suspeita morte do breve papa João Paulo 1º, que não concordava com o envolvimento das finanças papais com a máfia, com a direitona italiana e mais tantas negociatas sem fim. Ele não engolia Marcinkus, que havia abiscoitado um pequeno banco popular ligado à arquidiocese de Veneza, sem consulta ao patriarca, que era o cardeal Albino Luciani, depois João Paulo 1º.        
     O silêncio é indispensável para preservar a imagem daquele que se apresenta como único e legítimo representante de Deus na Terra, e o poder de grupos de cardeais que dominam a Igreja. O Vaticano cerca de silêncio o seu banco, cheio de operações ilegais. Admite a contragosto sua existência. Nos sites oficiais da Santa Sé (santa?) não se fala desse pecado.
Quando escrevo sobre temas como este não me move nenhuma iconoclastia antivaticana ou antipapal. O que me interessa é unicamente deixar bem claro que nada dessa bagunça, dessa hipocrisia, dessa gana de poder e dinheiro tem a ver com Jesus Cristo e seu Evangelho. Desde o maldito momento em que o bispo de Roma, e depois outras igrejas, se deixaram seduzir pelas sereias do poder político, das benesses, dos palácios, das cortes, a Igreja de Cristo se tornou algo secundário, aprisionada numa estrutura para submeter consciências e criar um grande reinado terreno que nada tem a ver aquele Reino de Deus que “não é deste mundo” (ver os evangelhos). Basta olhar para o desenvolvimento da Igreja de Roma, da de Constantinopla e de outras.       
     Inventaram “verdades” que não estão na doutrina de Cristo, submeteram outras igrejas, tornaram-se latifundiárias e feudais. Brigaram e continuam brigando entre si, para escândalo do mundo e negação do desejo de unidade de Cristo expresso na despedida dos apóstolos antes de seu martírio. Vieram os tribunais inquisitoriais, as Cruzadas, primeiro grito do colonialismo e cujo real objetivo era a expansão do poder de príncipes que se diziam cristãos. Nas Américas, por toda parte, aprovaram a escravidão, o latifúndio, as ditaduras, o capitalismo selvagem.
      Dardozzi prestou um precioso serviço a quem procura desvincular a mensagem de Cristo e as igrejas que dela surgiram da estrutura de poder pelo poder que é o Vaticano (isso inclui os diversos vaticanos proprietários de outras igrejas). Sua última vontade: “Tornem públicos todos esses documentos para que todos saibam o que aconteceu”.


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