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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Francisco pede conversão pastoral, sem bijuterias mundanas



                                                                         
Por JURACY ANDRADE



     Passo a meus caros leitores e leitoras o conteúdo e algumas observações sobre uma mensagem do papa Francisco a uma assembleia dos bispos argentinos. São palavras tão simples que a gente fica sem saber por que tantos de seus antecessores se esmeraram em expressões difíceis e latinórios estéreis., tão longe das palavras simples e bem compreensíveis do Evangelho de Jesus Cristo. “Escrevo-lhes estas linhas de saudação também para me desculpar por não poder participar da assembleia plenária devido a compromissos assumidos há pouco tempo”, começa ele, permitindo-se até uma brincadeira sobre o sua repentina e não planejada elevação ao papado.

     E ele prossegue fazendo um pedido especial para que os bispos de sua terra tenham uma especial preocupação com a missão de pregação do Evangelho. Ele não ordena, não faz apelo a prerrogativas acumuladas pelos papas e que lhes eram tão queridas. “Que toda a pastoral tenha uma dimensão missionária. Devemos sair de nós mesmos em direção a todas as periferias existenciais”. Para o papa Bergoglio, “Uma Igreja que não sai de si, mais cedo ou mais tarde adoece  por causa da atmosfera viciada de seu fechamento. É verdade que também com uma Igreja que sai pode acontecer o mesmo que acontece com qualquer pessoa que vai à rua: ter um acidente. Diante dessa alternativa, quero vos dizer francamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada que uma Igreja doente. A doença típica da Igreja fechada é ser autorreferencial, olhar para si mesma, estar curvada sobre si mesma como aquela mulher do Evangelho. É uma espécie de narcisismo que nos leva ao mundanismo espiritual e ao clericalismo sofisticado; e assim nos impede de experimentar a doce e confortadora alegria de evangelizar”.

     Reparem que linguagem distanciada do autoritarismo inquisitorial do papa emérito Bento 16, cuja ação, desde que presidia a congregação que substituiu o Santo Ofício medieval, enquanto aguardava a morte do João Paulo 2ª, perseguiu implacavelmente teólogos como Hans Küng, Leonardo Boff, entre muitos outros, tentou atropelar a teologia da libertação, as comunidades eclesiais de base e tantas outras iniciativas que se enquadram naquilo que Francisco chama de “sair de si mesma”, evitar aquele clericalismo sofisticado.  

      O atual papa não ordena, não está lançando raios mortíferos “ex cathedra”. Sugere a àqueles que chama de “irmãos” no episcopado, e não súditos feudais, toda uma maneira de ser simplesmente evangélica, apostólica. E ele está apenas começando. Ainda não conseguiu mexer muito com, a Cúria, desmontar a lavanderia de dinheiro sujo do Banco do Vaticano.

     O papa oferece uma última palavra sobre a “tristeza do solteirismo clerical”, o que pode ser um sinal de que ele não deixará de cuidar do grave problema criado pela Igreja Romana com a exigência jurídica, e não carismática, do celibato dos padres. E conclui falando da necessidade de uma “conversão pastoral” e condenando “as bijuterias do mundanismo”. Um vento novo sopra da colina romana do Vaticano.


Juracy Andrade é jornalista, com formação em filosofia e teologia

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