Por JURACY ANDRADE
Passo
a meus caros leitores e leitoras o conteúdo e algumas observações sobre uma
mensagem do papa Francisco a uma assembleia dos bispos argentinos. São palavras
tão simples que a gente fica sem saber por que tantos de seus antecessores se
esmeraram em expressões difíceis e latinórios estéreis., tão longe das palavras
simples e bem compreensíveis do Evangelho de Jesus Cristo. “Escrevo-lhes estas
linhas de saudação também para me desculpar por não poder participar da
assembleia plenária devido a compromissos assumidos há pouco tempo”, começa ele,
permitindo-se até uma brincadeira sobre o sua repentina e não planejada
elevação ao papado.
E
ele prossegue fazendo um pedido especial para que os bispos de sua terra tenham
uma especial preocupação com a missão de pregação do Evangelho. Ele não ordena,
não faz apelo a prerrogativas acumuladas pelos papas e que lhes eram tão
queridas. “Que toda a pastoral tenha uma dimensão missionária. Devemos sair de
nós mesmos em direção a todas as periferias existenciais”. Para o papa
Bergoglio, “Uma Igreja que não sai de si, mais cedo ou mais tarde adoece por causa da atmosfera viciada de seu
fechamento. É verdade que também com uma Igreja que sai pode acontecer o mesmo
que acontece com qualquer pessoa que vai à rua: ter um acidente. Diante dessa
alternativa, quero vos dizer francamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada
que uma Igreja doente. A doença típica da Igreja fechada é ser
autorreferencial, olhar para si mesma, estar curvada sobre si mesma como aquela
mulher do Evangelho. É uma espécie de narcisismo que nos leva ao mundanismo
espiritual e ao clericalismo sofisticado; e assim nos impede de experimentar a
doce e confortadora alegria de evangelizar”.
Reparem
que linguagem distanciada do autoritarismo inquisitorial do papa emérito Bento
16, cuja ação, desde que presidia a congregação que substituiu o Santo Ofício
medieval, enquanto aguardava a morte do João Paulo 2ª, perseguiu
implacavelmente teólogos como Hans Küng, Leonardo Boff, entre muitos outros,
tentou atropelar a teologia da libertação, as comunidades eclesiais de base e
tantas outras iniciativas que se enquadram naquilo que Francisco chama de “sair
de si mesma”, evitar aquele clericalismo sofisticado.
O atual papa não ordena, não está lançando
raios mortíferos “ex cathedra”. Sugere a àqueles que chama de “irmãos” no
episcopado, e não súditos feudais, toda uma maneira de ser simplesmente
evangélica, apostólica. E ele está apenas começando. Ainda não conseguiu mexer
muito com, a Cúria, desmontar a lavanderia de dinheiro sujo do Banco do
Vaticano.
O papa
oferece uma última palavra sobre a “tristeza do solteirismo clerical”, o que
pode ser um sinal de que ele não deixará de cuidar do grave problema criado
pela Igreja Romana com a exigência jurídica, e não carismática, do celibato dos
padres. E conclui falando da necessidade de uma “conversão pastoral” e
condenando “as bijuterias do mundanismo”. Um vento novo sopra da colina romana
do Vaticano.
Juracy Andrade é jornalista, com formação em
filosofia e teologia
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