O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O mundo via GatoNete



Por ROBERTA BARROS
 
O chão da sala era de terra batida.
No quarto, uma cama de casal, com um colchão de solteiro, deixava algumas taliscas à mostras.
A avó, deitada, já em estado avançado de sua demência, aguardava os netos chegarem.

Um ventilador sem proteção, zunia em sua direção, a ligação improvisada, parecia denunciar mais uma crônica de uma acidente anunciado, onde  moradias são rapidamente devoradas por labaredas de fogos, vinda  de fios  e instalações não legalizadas.

Ali dentro, me pergunto se estamos no Brasil de 2013, ou nas senzalas  de 1880.
É possível ver o azul do céu, pelas brechas abertas nas  telhas, do simplório telhado.

No fogão de quatro bocas, onde só uma funciona, um caldeirão sem tampa, guarda a sopa doada da  tarde, que vai servir de jantar da noite, e que  já foi dividida também com as ratazanas que circulam livremente pela improvisada cozinha.

     Sobre o banheiro não posso comentar, pois como fica do lado de fora da casa, sem energia, á noite as crianças usam o meio do quintal, para fazerem suas necessidades e, no dia seguinte, um é escalado para realizar a “operação limpeza do quintal”.

     Um cão vira-lata, deitado no terraço, assume o papel de cão de guarda,  só trocado pelo movimento feito para espantar as pulgas que lhe importuna, com seu latido forte,  parece proteger o  barraco  e seus moradores.
Em um puxadinho construído recentemente, a filha mais velha, com seu bebê nos braços, instalava os fios da internet, que chegava via gatonete da casebre do vizinho. 

      Só agora acredito: Estamos em 2013.
As crianças estavam eufóricas, o computador tinha chegado!
Elas fizeram  filas em frente ao puxadinho que a irmã construíra, cada um teria direito a uma hora de acesso direto ao mundo virtual, antes só vistos nas casas de vizinhos e lan houses.

     Enquanto estão na fila para entrar no mundo da tecnologia, a avó se levanta e pergunta quem vai fazer limpeza do Quintal, pois no mundo real a vida, sem saneamento básico,  ainda está no primeiro estágio.

Roberta Barros é pedagoga e fundadora da CAMM

Nenhum comentário:

Postar um comentário