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quarta-feira, 5 de junho de 2013

O desafio do diálogo



Por MARCELO BARROS


     Quando os cristaos afirmam que Deus é comunhao, atestam que o diàlogo é a forma de comunicaçao mais profunda que a humanidade tem para caminhar para a unidade. Em sua primeira carta enciclica, o papa Paulo VI dizia que o diàlogo é um ato divino porque foi Deus que iniciou o diàlogo com a humanidade. Quando nos colocamos em uma postura de acolhimento e diàlogo com alguém diferente de nòs, estamos fazendo algo que recebemos como vocaçao do proprio Criador. 

      Durante a sua historia, as Igrejas sempre tiveram dificuldade de conjugar a convicçao de terem a revelaçao divina com a abertura necessaria ao pensamento e modo de crer dos outros grupos e pessoas. Francisco, o novo bispo de Roma e primaz das Igrejas em comunhao com a Igreja Catolica Romana, chama a atençao do mundo pela sua forma simples de se comunicar. Ele parece retomar um dialogo da hierarquia da Igreja com a humanidade que, no inicio dos anos 60, o papa Joao XXIII iniciou. Nessa semana, o mundo recorda que, hà exatamente 50 anos, no dia 03 de junho de 1963, Joao XXIII partia para Deus. O mundo o chamou de “o papa bom”. Era um homem interiormente livre e evangélico. Fazia questao de se apresentar assim. Conhecia bem a estrutura historica do Vaticano com a qual devia sempre lidar.
     Quando anunciou ao mundo que Deus lhe inspirara a ideia de convocar todos os bispos do mundo para um concilio ecumenico, seus auxiliares diretos nao compreenderam e manifestaram sua estranheza. O papa insistiu que queria renovar a Igreja Catolica e prepara-la melhor para a unidade com as outras Igrejas. Precisou mais de tres anos (de janeiro de 1959 a outubro de 1962) para ver se realizar o seu sonho. Quando o Concilio começou, dirigiu a primeira sessao do Concilio e alguns meses depois partiu, deixando-nos uma herança maravilhosa que nem sempre foi bem valorizada.

     Foi o primeiro papa a receber no Vaticano o primeiro ministro da Uniao Soviética comunista e atuou como mediador de paz entre Estados Unidos e Russia na crise dos misseis nucleares. Em 2012 passava a ser o unico papa na historia a ganhar o premio Nobel da Paz.  

     Graças a Deus, Paulo VI, o papa que o sucedeu, compreendeu o seu espirito. Embora fosse um homem timido e com outro temperamento e sensibilidade diferente de Joao XXIII, soube prosseguir o trabalho e continuar o concilio iniciado. Afirmou que a epoca das condenacoes e do dogmatismo tinha acabado. A missao da Igreja deve ser sempre dialogar e conviver com a diversidade sem se impor. Para o diàlogo ser sincero e profundo, cada parte do diàlogo deve assumir sua identidade propria e tem toda liberdade de expressar seus pontos de vista, desde que aceite escutar a outra parte e o diàlogo possibilite uma evoluçao de todas as partes na direçao de um ponto comum e de descoberta sempre mais ampla da verdade. Ha uma agenda imensa para o dialogo entre as hierarquias religiosas e a sociedade civil: a relaçao da fé com ciencia, as novas questoes da bioética, a abertura pastoral às situaçoes concretas da ética sexual, o compromisso da fé com uma politica justa e comprometida com a transformaçao do mundo e assim por diante. 

     O aniversario da partida de Joao XXIII nos recorda: durante a sua longa agonia, o papa bom revelou que desejava oferecer a Deus os seus sofrimentos e sua propria vida pela unidade dos cristaos. Agora, 50 anos depois, apesar de que as Igrejas historicas fizeram um bom caminho, ainda falta muito para chegarmos à plena unidade visivel das Igrejas. Essa uniao na diversidade pode ser muito fortalecida pelo diàlogo fraterno. Pode ser que, nesse diàlogo, a Igreja nao tenha resposta para muitos problemas, mas ela pode sim ajudar a humanidade a abrir-se mais à diversidade das culturas, a tornar o mundo mais humano e a aprofundar a vocaçao humana para uma amorizaçao sempre maior que em nòs é conduzida e feita pelo Espirito de Deus. 

Marcelo Barros é monge benedito e peregrino de Deus.
  

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