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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Igreja Profética. Questionamentos do Papa Francisco

Por JURACY ANDRADE

      


Quando Padre João Pubben voltou para sua Holanda natal por motivo de saúde, pedi a ele que, sempre que possível, me enviasse notícias sobre movimentos cristãos renovadores de lá, similares às nossas CEBs e outros que por aqui vicejam. Muitos dos meus leitores e leitoras o conhecem. Ele é um missionário holandês que viveu aqui uns 40 anos entre os pobres de Dois Unidos e de quem tive o privilégio de me tornar amigo. Há alguns dias me mandou considerações do teólogo basco José Antonio Pagola sobre o papa Francisco, que compartilho com vocês. Ao enviar sua mensagem, Padre João comenta que sem dúvida o papa Francisco deseja voltar aos sonhos de Jesus de Nazaré, que não são exatamente os sonhos da instituição Igreja.

Pagola começa dizendo que acredita que Francisco será o último chefe de Estado do Vaticano. De fato, digo, o Estado do Vaticano é uma excrescência produzida historicamente pelo conluio promíscuo entre a Igreja de Roma e o Império Romano em decadência, corroborado, após a unificação da Itália, pelo conluio entre a mesma Igreja e a ditadura fascista de Mussolini (Tratado de Latrão). E continua dizendo que chegou o momento de “o povo simples reivindicar o Evangelho, do qual a hierarquia se apoderou” e de voltar para Jesus, o Cristo. Para ele, a situação atual é de uma Igreja nervosa e medrosa, que “vê o mundo como adversário e faz da condenação e da denúncia todo um programa pastoral”. “Existe muita gente comprometida, mas a massa de 1,2 bilhão de católicos vive na submissão, obediência e silêncio, em meio a uma religião de autoridade e não de chamado.”

Pagola falou ainda da necessidade e urgência de retornar a Jesus: Não apenas uma reforma religiosa e, sim, uma conversão ao espírito de Jesus. Não apenas adesão doutrinal, mas seguimento. Não apenas mudanças, mas atualização da experiência fundadora”. Para ele, é preciso que isso venha do povo, pois “a hierarquia hoje não pode liderar uma conversão a Jesus”. É preciso reformar a Cúria, claro, e mudar a doutrina, mas, “primeiro, é preciso voltar a Jesus, criar um clima de mais humildade e mais prazeroso. Caso contrário, seremos cada vez mais uma instituição decadente, sectária, triste, mais distante daquilo que Jesus quis”. Para além da crise de vocações ou do sacerdócio para a mulher, falou o teólogo, é preciso entender Jesus como um profeta. E fez questão de, o tempo todo, citar o papa Francisco. “Antes não me atreveria a dizer certas coisas, mas é o papa que as está dizendo diariamente, em suas missas em Santa Marta, como “reconhecer nosso pecado como Igreja, questionar nossas falsas seguranças, a santidade da Igreja, porque santificamos tudo e não vemos as traves que há dentro dela”.

E continua Pagola afirmando que se a Igreja não escutar os clamores dos pobres será surda e, em seguida, ficará surda e muda, não será mais capaz de anunciar a Boa Nova; e insistindo sempre no reavivamento do espírito profético do movimento iniciado por Jesus. Para não me alongar mais e desanimar a leitura (voltarei ao assunto), termino com uma pertinente questão levantada por outro teólogo de renome, colaborador deste Porta-Voz, Eduardo Hoornaert: Será que a Igreja Católica precisa mesmo de um papa?

Juracy Andrade é jornalista, com formação em filosofia e teologia

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