Quando Padre
João Pubben voltou para sua Holanda natal por motivo de saúde, pedi a ele que,
sempre que possível, me enviasse notícias sobre movimentos cristãos renovadores
de lá, similares às nossas CEBs e outros que por aqui vicejam. Muitos dos meus
leitores e leitoras o conhecem. Ele é um missionário holandês que viveu aqui
uns 40 anos entre os pobres de Dois Unidos e de quem tive o privilégio de me
tornar amigo. Há alguns dias me mandou considerações do teólogo basco José
Antonio Pagola sobre o papa Francisco, que compartilho com vocês. Ao enviar sua
mensagem, Padre João comenta que sem dúvida o papa Francisco deseja voltar aos
sonhos de Jesus de Nazaré, que não são exatamente os sonhos da instituição
Igreja.
Pagola começa
dizendo que acredita que Francisco será o último chefe de Estado do Vaticano.
De fato, digo, o Estado do Vaticano é uma excrescência produzida historicamente
pelo conluio promíscuo entre a Igreja de Roma e o Império Romano em decadência,
corroborado, após a unificação da Itália, pelo conluio entre a mesma Igreja e a
ditadura fascista de Mussolini (Tratado de Latrão). E continua dizendo que
chegou o momento de “o povo simples reivindicar o Evangelho, do qual a
hierarquia se apoderou” e de voltar para Jesus, o Cristo. Para ele, a situação
atual é de uma Igreja nervosa e medrosa, que “vê o mundo como adversário e faz
da condenação e da denúncia todo um programa pastoral”. “Existe muita gente
comprometida, mas a massa de 1,2 bilhão de católicos vive na submissão,
obediência e silêncio, em meio a uma religião de autoridade e não de chamado.”
Pagola falou
ainda da necessidade e urgência de retornar a Jesus: Não apenas uma reforma
religiosa e, sim, uma conversão ao espírito de Jesus. Não apenas adesão
doutrinal, mas seguimento. Não apenas mudanças, mas atualização da experiência
fundadora”. Para ele, é preciso que isso venha do povo, pois “a hierarquia hoje
não pode liderar uma conversão a Jesus”. É preciso reformar a Cúria, claro, e
mudar a doutrina, mas, “primeiro, é preciso voltar a Jesus, criar um clima de
mais humildade e mais prazeroso. Caso contrário, seremos cada vez mais uma
instituição decadente, sectária, triste, mais distante daquilo que Jesus quis”.
Para além da crise de vocações ou do sacerdócio para a mulher, falou o teólogo,
é preciso entender Jesus como um profeta. E fez questão de, o tempo todo, citar
o papa Francisco. “Antes não me atreveria a dizer certas coisas, mas é o papa
que as está dizendo diariamente, em suas missas em Santa Marta, como
“reconhecer nosso pecado como Igreja, questionar nossas falsas seguranças, a
santidade da Igreja, porque santificamos tudo e não vemos as traves que há
dentro dela”.
E continua
Pagola afirmando que se a Igreja não escutar os clamores dos pobres será surda
e, em seguida, ficará surda e muda, não será mais capaz de anunciar a Boa Nova;
e insistindo sempre no reavivamento do espírito profético do movimento iniciado
por Jesus. Para não me alongar mais e desanimar a leitura (voltarei ao
assunto), termino com uma pertinente questão levantada por outro teólogo de
renome, colaborador deste Porta-Voz, Eduardo Hoornaert: Será que a Igreja
Católica precisa mesmo de um papa?
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