Por MARIA
CLARA LUCCHETTI BINGEMER
Como diz Maurizio Chierici, no jornal Il Fatto Quotidiano: “É difícil remar contra quem comove o mundo.” Sem dúvida, este é o caso do Papa Francisco: ele comove o mundo com suas atitudes, seus gestos, suas escolhas. Ou como diz o grande teólogo galego Andrés Torres Queiruga, é impossível não sentir, com o atual Papa, o sopro do Concílio refrescando o rosto.
Como diz Maurizio Chierici, no jornal Il Fatto Quotidiano: “É difícil remar contra quem comove o mundo.” Sem dúvida, este é o caso do Papa Francisco: ele comove o mundo com suas atitudes, seus gestos, suas escolhas. Ou como diz o grande teólogo galego Andrés Torres Queiruga, é impossível não sentir, com o atual Papa, o sopro do Concílio refrescando o rosto.
Talvez
não haja instituição no mundo mais estável do que a Igreja Católica, com
dois mil anos de idade. E, no entanto, desde o último mês de abril, a
mesma Igreja tem apresentado várias surpresas ao mundo na pessoa do Papa
Francisco. Surpresas que vão sobretudo na contramão da face vetusta e
previsível da Igreja Católica Romana. A começar pela saudação inicial
quando de sua eleição, totalmente diferente das habituais, Francisco tem
surpreendido e desconcertado o mundo.
Não
é habitual um Papa, que é também chefe de Estado, voltar ao hotel para
pagar sua conta; usar apenas as vestes brancas e uma cruz simples;
celebrar a liturgia com simplicidade e despojamento, dando mais atenção
ao calor humano com os fiéis que às rubricas; fazer pronunciamentos
cheios de bom senso e em linguagem coloquial e prática que todos
entendem. Deveria ser a regra geral, mas não é. Revestiu-se o
Papado e os líderes religiosos, durante muito tempo, de uma solenidade
além da medida que muitas vezes afastou os fiéis. O Concílio chamou
a atenção para isso. Parecia que esta diretriz se havia perdido no
horizonte. Agora Francisco traz esse “novo” de volta com suas informalidades
que desconcertam cerimoniais e jornalistas.
A
próxima semana traz a presença de Francisco direto ao Rio de Janeiro, sob
nossos olhos. E certamente durante sua passagem o pontífice nos reserva
muitas surpresas. Começou recusando o papa móvel e pedindo um jipe
aberto para estar mais ao alcance dos sentidos dos fiéis. A
segurança grunhe e se queixa, todos ficam perplexos e não entendem.
É preciso saber ler a mensagem: quer ser visto mais como pastor que
como chefe de Estado. Um pastor tem que estar próximo aos seus
fiéis, diferente do chefe de Estado, que se protege com vidros blindados
e um exército de seguranças.
Seguiu
adiante recusando a cama no avião que o trará, argumentando que a
poltrona de primeira classe é mais do que suficiente para repousar
durante o voo. Com isso, dá coerente continuidade à sua postura de
recusar luxos e adereços que não condizem com seu estilo austero e
simples. Nova surpresa da mídia, da segurança e de várias
instâncias.
Em
Roma, Francisco promove importantes reformas: financeira, administrativa,
moral. Em todas elas tem mostrado que não pretende tratar com
leveza ou ligeireza questões sérias. A pena para os padres e
religiosos pedófilos endureceu e se intensificou. A reforma da cúria
parece avançar com firmeza. O monsenhor que trazia da Suíça vários
milhões de euros está preso e não obteve indulto por sua condição de
sacerdote.
Francisco
deve passar pela rua São Clemente. Talvez se detenha – e parece que
o fará – na igreja do colégio Santo Inácio para rezar diante da imagem do
fundador da ordem religiosa à qual sempre pertenceu e pela qual foi
formado. Certamente outras surpresas estarão a nós reservadas com sua
passagem pelo Rio.
Oxalá
possamos aprender de Francisco esta capacidade de a todos surpreender com
as surpresas do Espírito, que é o eterno artífice da novidade maior da
presença de Deus no mundo. Tomara que estejamos abertos para assimilar o
que ele dirá aos jovens, mas a todos nós igualmente - adultos,
idosos ou jovens há mais tempo – sobre a necessidade de despojar-se do
que é supérfluo e acessório e concentrar-se apenas no que é essencial:
buscar e encontrar a vontade de Deus e fazê-la acontecer neste mundo dos
homens e mulheres que buscam sentido para suas vidas.
Que
possamos aprender com sua alegre coragem que pelo simples fato de existir
e se visibilizar neste mundo tão consumista e mercantilista, a
simplicidade é eloquente como um grito de alerta e convoca mais que mil
enfadonhos discursos. Porque tem a força do testemunho.
Continue a surpreender-nos Francisco! E que Deus o inspire e
ilumine. Amém.
Maria Clara Lucchetti Bingemer,
professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio. A teóloga é autora de “O mistério e o mundo – Paixão por
Deus em tempo de descrença”, Editora Rocco.
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