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sábado, 13 de julho de 2013

Viver em Liberdade



por MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER

             Há quem sustente que a liberdade é mais importante que o pão.  Há controvérsias.  Mas que ser livre é sinônimo de “ser humano”, não se pode negar.  Todos os pensadores, poetas, artistas do mundo desde que ele existe cantaram a liberdade em prosa e verso.
            Recentemente fui a Israel visitar os lugares santos.  Foi uma viagem inesquecível com um grupo inesquecível também, que me fez entender a profundidade e o alcance de certas palavras bíblicas:  “como poderia esquecer-me de ti Jerusalém?” ou “em Jerusalém todo homem nasceu” etc.
            Foi parte da viagem a visita à fortaleza de Massada. Palavra que, provavelmente, significa "lugar seguro" ou "fortaleza", é um imponente planalto escarpado, situado no litoral sudoeste do Mar Morto. O local é uma fortaleza natural, com penhascos íngremes e terreno acidentado. O acesso só é possível através de uma difícil trilha que serpenteia pela montanha. O platô de Massada tem a forma aproximada de um losango, com cerca de 600 metros de comprimento e 300 metros na parte mais larga.
            Massada tornou-se uma fortaleza judaica em cerca de 150-76 a.C.. Mais tarde, o rei Herodes fez ampliações e reforçou suas defesas (37-31 a.C.). Como era de se esperar, as reformas de Herodes foram impressionantes e deram a Massada a imponência e a inexpugnabilidade que a tornou famosa.
            Após a morte de Herodes, a fortaleza de Massada foi ocupada por uma guarnição romana que ficou aquartelada ali por quase cem anos. No ano de 66 d.C., um grupo de sicários, radicais que defendiam a rebelião contra Roma e não reconheciam nenhuma autoridade senão a divina, entrou furtivamente na fortaleza de Massada e dizimou a guarnição romana aquartelada ali. Quando Jerusalém foi finalmente destruída pelos romanos, no ano 70 de nossa era, um pequeno punhado de sobreviventes dirigiu-se para Massada. Na época em que os romanos atacaram a fortaleza na montanha, no final de 72 d.C., a população judaica que ali vivia já somava 967 pessoas.
            Foi então que um sentinela judeu, que montava guarda num posto avançado nas montanhas, avistou uma nuvem de poeira aproximando-se no horizonte. Ele sabia que aquilo só podia significar uma coisa: os romanos estavam chegando. Foi dado o alarme. A última fortaleza da resistência judaica despertou. A guerra havia chegado a Massada.
            O cerco romano foi mais longo do que se esperava, e a resistência dos sicários impressionantemente forte e duradoura.  Até que, muito superiores em número e armamentos,  os legionários  sob o comando do general romano Flavius Silva fizeram o cerco definitivo a Massada e se prepararam para o ataque final que renderia a fortaleza e seus habitantes.
            Drante a noite que antecedeu tal ataque, Eleazar ben Jair – chefe dos sicários - convenceu seus compatriotas que havia três saídas para a situação em que estavam: 1. fugir e ser capturados e escravizados; 2. lutar e serem dizimados e terem suas mulheres estupradas e seus filhos torturados; 3. matarem-se por suas próprias mãos e morrerem como homens livres.  Assim tirariam das mãos dos romanos sua vitória e a liberdade de Israel seria sempre recordada na memória do povo.
            Cada chefe de família matou sua mulher e seus filhos. Em seguida, foram sorteados dez homens para matar os restantes. Desses, um foi selecionado para matar os outros nove, incendiar o palácio onde todos haviam tombado e, depois, suicidar-se. Com o raiar do sol, as tropas romanas precipitaram-se pelas fendas da muralha, preparadas para entrar em combate contra a resistência, mas tudo o que encontraram foi o silêncio, a morte e muitos cadáveres empilhados.  Nas mesas postas havia comida farta para mostrar que a comunidade não optou pela morte porque não tinha recursos ou víveres, mas porque não queria ser escravizada.  As mulheres se ataviaram com seus melhores vestidos e adereços e morreram abraçadas a seus filhos.
            Atualmente, o moderno Estado de Israel – a única verdadeira democracia do Oriente Médio – homenageia Massada, não necessariamente por seus defensores, mas por seus ideais. As palavras do hino nacional israelense expressam o anseio do coração de todo judeu, desde que os romanos romperam as defesas de Massada: "Viver em liberdade na terra de Sião e Jerusalém".

Maria Clara Lucchetti Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio. A   teóloga é autora de “O  mistério e o mundo – Paixão por Deus em tempo de descrença”, Editora Rocco. 

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