por MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER
Há
quem sustente que a liberdade é mais importante que o pão. Há
controvérsias. Mas que ser livre é sinônimo de “ser humano”, não se pode
negar. Todos os pensadores, poetas, artistas do mundo desde que ele
existe cantaram a liberdade em prosa e verso.
Recentemente fui a Israel visitar os lugares santos. Foi uma viagem inesquecível com um grupo inesquecível também, que me fez entender a profundidade e o alcance de certas palavras bíblicas: “como poderia esquecer-me de ti Jerusalém?” ou “em Jerusalém todo homem nasceu” etc.
Recentemente fui a Israel visitar os lugares santos. Foi uma viagem inesquecível com um grupo inesquecível também, que me fez entender a profundidade e o alcance de certas palavras bíblicas: “como poderia esquecer-me de ti Jerusalém?” ou “em Jerusalém todo homem nasceu” etc.
Foi
parte da viagem a visita à fortaleza de Massada. Palavra que, provavelmente,
significa "lugar seguro" ou "fortaleza", é um imponente
planalto escarpado, situado no litoral sudoeste do Mar Morto. O local é uma
fortaleza natural, com penhascos íngremes e terreno acidentado. O acesso só é
possível através de uma difícil trilha que serpenteia pela montanha. O platô de
Massada tem a forma aproximada de um losango, com cerca de 600 metros de comprimento
e 300 metros na parte mais larga.
Massada
tornou-se uma fortaleza judaica em cerca de 150-76 a.C.. Mais tarde, o rei
Herodes fez ampliações e reforçou suas defesas (37-31 a.C.). Como era de se
esperar, as reformas de Herodes foram impressionantes e deram a Massada a
imponência e a inexpugnabilidade que a tornou famosa.
Após
a morte de Herodes, a fortaleza de Massada foi ocupada por uma guarnição romana
que ficou aquartelada ali por quase cem anos. No ano de 66 d.C., um grupo de
sicários, radicais que defendiam a rebelião contra Roma e não reconheciam
nenhuma autoridade senão a divina, entrou furtivamente na fortaleza de Massada
e dizimou a guarnição romana aquartelada ali. Quando Jerusalém foi finalmente
destruída pelos romanos, no ano 70 de nossa era, um pequeno punhado de
sobreviventes dirigiu-se para Massada. Na época em que os romanos atacaram a
fortaleza na montanha, no final de 72 d.C., a população judaica que ali vivia
já somava 967 pessoas.
Foi
então que um sentinela judeu, que montava guarda num posto avançado nas
montanhas, avistou uma nuvem de poeira aproximando-se no horizonte. Ele sabia
que aquilo só podia significar uma coisa: os romanos estavam chegando. Foi dado
o alarme. A última fortaleza da resistência judaica despertou. A guerra havia
chegado a Massada.
O
cerco romano foi mais longo do que se esperava, e a resistência dos sicários
impressionantemente forte e duradoura. Até que, muito superiores em
número e armamentos, os legionários sob o comando do general romano
Flavius Silva fizeram o cerco definitivo a Massada e se prepararam para o
ataque final que renderia a fortaleza e seus habitantes.
Drante
a noite que antecedeu tal ataque, Eleazar ben Jair – chefe dos sicários -
convenceu seus compatriotas que havia três saídas para a situação em que
estavam: 1. fugir e ser capturados e escravizados; 2. lutar e serem dizimados e
terem suas mulheres estupradas e seus filhos torturados; 3. matarem-se por suas
próprias mãos e morrerem como homens livres. Assim tirariam das mãos dos
romanos sua vitória e a liberdade de Israel seria sempre recordada na memória
do povo.
Cada
chefe de família matou sua mulher e seus filhos. Em seguida, foram sorteados
dez homens para matar os restantes. Desses, um foi selecionado para matar os
outros nove, incendiar o palácio onde todos haviam tombado e, depois,
suicidar-se. Com o raiar do sol, as tropas romanas precipitaram-se pelas fendas
da muralha, preparadas para entrar em combate contra a resistência, mas tudo o
que encontraram foi o silêncio, a morte e muitos cadáveres empilhados.
Nas mesas postas havia comida farta para mostrar que a comunidade não
optou pela morte porque não tinha recursos ou víveres, mas porque não queria
ser escravizada. As mulheres se ataviaram com seus melhores vestidos e
adereços e morreram abraçadas a seus filhos.
Atualmente,
o moderno Estado de Israel – a única verdadeira democracia do Oriente Médio –
homenageia Massada, não necessariamente por seus defensores, mas por seus
ideais. As palavras do hino nacional israelense expressam o anseio do coração
de todo judeu, desde que os romanos romperam as defesas de Massada: "Viver
em liberdade na terra de Sião e Jerusalém".
Maria Clara Lucchetti Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio. A teóloga é autora de “O mistério e o mundo – Paixão por Deus em tempo de descrença”, Editora Rocco.
Copyright 2013 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
Maria Clara Lucchetti Bingemer é professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio. A teóloga é autora de “O mistério e o mundo – Paixão por Deus em tempo de descrença”, Editora Rocco.
Copyright 2013 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)
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