No Brasil, uma recente pesquisa revelou um dado
preocupante. Mais de 60% dos brasileiros se pronunciam favoravelmente à adoção
da pena de morte para casos de certos crimes considerados mais cruéis e
bárbaros. As pessoas comuns, formadas pelos programas sensacionalistas da
televisão brasileira acham que a pena de morte diminuiria a criminalidade e traria
mais justiça à sociedade. Ledo engano.
No mundo atual, a pena de morte não declarada e
não legal existe em todos os países do mundo, mas, pelo menos, a lei não aprova.
A violência praticada pelo Estado é sempre mais opressiva e desproporcional.
Nos Estados Unidos, a cultura da vingança chega a tal ponto que a família da
vítima chega a distribuir convite para que as pessoas amigas venham presenciar
o espetáculo da morte, em cadeiras
reservadas no auditório para ver o condenado receber a injeção letal ou ser
queimado na cadeira elétrica que nem sempre funciona apenas com o primeiro
choque.
Na direção oposta dessa barbárie, o mundo
civilizado parece caminhar na direção de libertar-se da pena de morte. Em 2007,
a ONU propôs uma resolução para abolir a pena capital no mundo inteiro. Vários
países assinaram esse acordo. Na América do Sul, nenhum país adota a pena de
morte. Do lado oposto, vários estados dos Estados Unidos fazem companhia à
China, à Arábia Saudita, ao Iraque, Iemen e a alguns países da África. No ano
passado, o Iraque sentenciou à morte 129 pessoas. O Iemen executou jovens que
haviam cometido crimes quando tinham 13 ou 14 anos. Na Arábia Saudita, as
pessoas condenadas são degoladas em praça pública. Os motivos vão desde roubos,
tráfico de drogas e atentados à vida até casos de adultério, acusação de feitiçaria
e até homossexualismo.
Em alguns países, alguns funcionários do Estado e
encarregados de execuções têm se negado a matar, invocando motivos de
consciência e de fé. Nos Estados Unidos, religiosos/as católicos e evangélicos
se uniram em uma campanha nacional contra a pena de morte. Eles apontam os
diversos casos nos quais, depois que o governo já tinha sentenciado a pessoas
condenadas, a justiça descobriu falhas no processo de julgamento e indícios de
inocência.
De fato,
é pena que as Igrejas e religiões não tenham sido mais claras e mais fortemente
proféticas em negar ao Estado esse pretenso direito de tirar a vida de quem
quer que seja. Na Índia, Gandhi lutou para que o Hinduísmo e o Budismo
retomassem suas raízes pacifistas e não violentas. E lembrou aos cristãos que a
lei fundamental do evangelho é o sermão da montanha. Ali, Jesus propõe uma
justiça que tem de ir além da lei e deve criar uma sociedade nova e não
responder ao mal com o mal. Ao invés de prolongar a corrente da vingança e do
desamor, somos chamados a sermos sal e luz da terra para tornar possível um
mundo novo, mais justo e amoroso. Isso se dá quando acreditamos na
possibilidade de conversão das pessoas e quando lutamos por uma justiça que não
fique apenas na vingança. Muitas vezes, não é possível sanar o mal que foi
feito. Não se pode devolver a vida a alguém assassinado, mas é preciso
possibilitar que, para os que ficam, a vida continue mais humana. É importante
visar não apenas a punição do culpado e sim a restauração da justiça e da vida,
na medida do possível. Para a fé cristã, o mandamento divino é perdoar. Isso
não significa esquecer, mas ir além do mal cometido para per-donar, isso é,
reencontrar o dom divino do amor e da justiça para além do que ocorreu. Na 1ª
carta de Pedro, o autor conclui: “Santificai em vossos corações a Cristo como
Senhor e estai sempre preparados para responder com mansidão a toda pessoa que
vos pedir a razão da esperança que há em vós”
(1 Pd 3, 15 ss).
Marcelo
Barros é monge beneditino e peregrino de Deus
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