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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Opção pela Vida

Por MARCELO BARROS


No Brasil, uma recente pesquisa revelou um dado preocupante. Mais de 60% dos brasileiros se pronunciam favoravelmente à adoção da pena de morte para casos de certos crimes considerados mais cruéis e bárbaros. As pessoas comuns, formadas pelos programas sensacionalistas da televisão brasileira acham que a pena de morte diminuiria a criminalidade e traria mais justiça à sociedade. Ledo engano.

 De 12 a 15 de junho, em Madri, aconteceu o 5º Congresso Mundial contra a pena de norte. Esse encontro reuniu muitos juristas, várias personalidades que receberam prêmios Nobel da Paz e representantes de instituições não governamentais, especializadas no tema. Além disso, assistiram também milhares de pessoas, entre as quais, testemunhas, pessoas ex-condenadas e familiares de sentenciados à pena capital procedentes de 90 países.

 Esse encontro confirmou o que vários estudos revelam: nos países onde a pena de morte foi adotada, o índice de criminalidade piorou e o número de assassinatos aumentou. Por saber que se for preso, a condenação é a morte, o criminoso não quer deixar testemunha viva. É o mesmo tipo de pesquisa que, no Brasil, revelou: o cidadão armado sofre mais risco de morte do que se andar desarmado. Tem sido frequente que, ao ver a arma, o bandido atire.

No mundo atual, a pena de morte não declarada e não legal existe em todos os países do mundo, mas, pelo menos, a lei não aprova. A violência praticada pelo Estado é sempre mais opressiva e desproporcional. Nos Estados Unidos, a cultura da vingança chega a tal ponto que a família da vítima chega a distribuir convite para que as pessoas amigas venham presenciar o espetáculo da morte, em  cadeiras reservadas no auditório para ver o condenado receber a injeção letal ou ser queimado na cadeira elétrica que nem sempre funciona apenas com o primeiro choque.

Na direção oposta dessa barbárie, o mundo civilizado parece caminhar na direção de libertar-se da pena de morte. Em 2007, a ONU propôs uma resolução para abolir a pena capital no mundo inteiro. Vários países assinaram esse acordo. Na América do Sul, nenhum país adota a pena de morte. Do lado oposto, vários estados dos Estados Unidos fazem companhia à China, à Arábia Saudita, ao Iraque, Iemen e a alguns países da África. No ano passado, o Iraque sentenciou à morte 129 pessoas. O Iemen executou jovens que haviam cometido crimes quando tinham 13 ou 14 anos. Na Arábia Saudita, as pessoas condenadas são degoladas em praça pública. Os motivos vão desde roubos, tráfico de drogas e atentados à vida até casos de adultério, acusação de feitiçaria e até homossexualismo.

Em alguns países, alguns funcionários do Estado e encarregados de execuções têm se negado a matar, invocando motivos de consciência e de fé. Nos Estados Unidos, religiosos/as católicos e evangélicos se uniram em uma campanha nacional contra a pena de morte. Eles apontam os diversos casos nos quais, depois que o governo já tinha sentenciado a pessoas condenadas, a justiça descobriu falhas no processo de julgamento e indícios de inocência.

  De fato, é pena que as Igrejas e religiões não tenham sido mais claras e mais fortemente proféticas em negar ao Estado esse pretenso direito de tirar a vida de quem quer que seja. Na Índia, Gandhi lutou para que o Hinduísmo e o Budismo retomassem suas raízes pacifistas e não violentas. E lembrou aos cristãos que a lei fundamental do evangelho é o sermão da montanha. Ali, Jesus propõe uma justiça que tem de ir além da lei e deve criar uma sociedade nova e não responder ao mal com o mal. Ao invés de prolongar a corrente da vingança e do desamor, somos chamados a sermos sal e luz da terra para tornar possível um mundo novo, mais justo e amoroso. Isso se dá quando acreditamos na possibilidade de conversão das pessoas e quando lutamos por uma justiça que não fique apenas na vingança. Muitas vezes, não é possível sanar o mal que foi feito. Não se pode devolver a vida a alguém assassinado, mas é preciso possibilitar que, para os que ficam, a vida continue mais humana. É importante visar não apenas a punição do culpado e sim a restauração da justiça e da vida, na medida do possível. Para a fé cristã, o mandamento divino é perdoar. Isso não significa esquecer, mas ir além do mal cometido para per-donar, isso é, reencontrar o dom divino do amor e da justiça para além do que ocorreu. Na 1ª carta de Pedro, o autor conclui: “Santificai em vossos corações a Cristo como Senhor e estai sempre preparados para responder com mansidão a toda pessoa que vos pedir a razão da esperança que há em vós”  (1 Pd 3, 15 ss).  


Marcelo Barros é monge beneditino e peregrino de Deus

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