Por Marcelo Barros
Contam
os quadrinhos de Asterix que os antigos gauleses só tinham medo de uma coisa:
que o céu caísse sobre as suas cabeças. Hoje, essa ameaça parece mais possível
e concreta, não por alguma hecatombe cósmica desconhecida, mas porque a camada
de ozônio que protege a atmosfera terrestre está sendo destruída. Com esse
fenômeno, o céu cai sobre nossas cabeças na forma de raios ultravioletas do sol
que geram enfermidades e problemas de todo tipo.
No
início de dezembro, as Igrejas cristãs entram no novo ano litúrgico recordando
a meta da história. Ouvem-se trechos dos evangelhos que muitos cristãos
interpretam como anúncios do fim do mundo. No ano passado, isso coincidiu com o
fato de que, segundo a cultura maia, o dia 21 de dezembro marcava o final de
uma era. Muita gente logo associou isso com a destruição do planeta Terra. Quem
se preocupa com o aquecimento global, viu a aproximação desse final dos tempos
na crise ecológica que abala a convivência da humanidade com a natureza. Ao
contrário, conforme notícias veiculadas pela grande imprensa, algumas agências
de turismo programaram viagens e passeios nas ruínas do império maia para que
as pessoas curtissem melhor o clima de expectativa e medo que as profecias
podem gerar.
Sem
dúvida, as armas nucleares e também o agravamento da poluição ecológica, assim
como o aquecimento do planeta podem destruir o nosso planeta. E o que então acontecer
dessa vez, nova era do gelo ou do fogo, não ocorrerá por um fenômeno natural e
sim como resultado da ação da sociedade humana. Por isso, é urgente estabelecer
novas relações de respeito e cuidado com a natureza. No entanto, não tem
sentido pensar que profecias bíblicas ou maias tenham previsto futuro e menos
ainda anunciem o fim de mundo. Textos religiosos antigos são poemas simbólicos
e têm muito mais o objetivo de convidar a humanidade a se engajar em uma nova
esperança do que em ameaçá-la com o fim de tudo. Conforme o discurso atribuído
pelos evangelhos a Jesus, vários dos sinais no céu que deveriam anunciar aqueles
dias, de fato ocorreram na tarde em que Jesus morreu na cruz. A morte de Jesus
determinou o fim de um mundo e o começo de outro. A profecia maia, ao dividir a
história em etapas, previu a mesma coisa que, em outra linguagem e de modo
diferente, o evangelho tinha profetizado: a história humana está grávida de uma
vida nova. Mesmo se nesse plano cósmico e histórico, não existe parto sem dor,
o anúncio dessa nova forma de organizar o mundo e viver as relações sociais é o
próprio grito do processo atual dos fóruns sociais mundiais: Outro mundo é
possível! O Evangelho de Lucas chega a dizer: “Quando virem essas coisas
acontecerem, alegrem-se e levantem a cabeça. É a libertação de vocês que se
aproxima” (Lc 21, 28).
MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos
quais “O Espírito vem pelas Águas",
Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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