Por Marcelo Barros
Cada
vez mais no Brasil, novembro se torna o mês da consciência negra. As
comemorações do aniversário do martírio de Zumbi dos Palmares, no dia 20 de
novembro, provocam manifestações culturais e religiosas afrodescendentes, entre
as quais, algumas duram todo o mês. Na primeira segunda feira de novembro, em
cidades como Recife e o Rio de Janeiro, o centro urbano é tomado por caminhadas
do povo de terreiros. Ali se juntam membros de várias nações de Candomblé, de
Umbanda e outras tradições locais como a Jurema no Nordeste e a Macumba no Rio.
Um dos principais objetivos dessas manifestações pacíficas é denunciar
agressões que continuam ocorrendo por parte de grupos religiosos fanáticos
contra comunidades religiosas afrodescendentes. Outra reinvindicação é que se
revejam os programas do ensino religioso ecumênico, para que nele haja também
lugar para o conhecimento cultural das religiões de tradição afro. Essas são
pautas mais especificamente religiosas. No entanto, o que essas manifestações
revelam de mais profundo é a vitalidade das comunidades de matriz
afrodescendentes e como elas foram importantes na luta contra o racismo e no
caminho da promoção e da libertação das pessoas empobrecidas no Brasil e em
todo o mundo.
As
homenagens a Zumbi se fazem por sua vida consagrada a acabar com a escravidão
no Brasil. Infelizmente, o Brasil foi um dos últimos países do mundo a abolir
oficialmente a escravidão, já no final do século XIX (1888). Quando isso
ocorreu e de forma extremamente ambígua, (os negros foram mandados à rua sem
nenhuma indenização nem ajuda para sobreviver), a luta contra a escravidão já
tinha mais de cem anos. Dinamarca foi o primeiro país a abolir o comércio de
escravos (1792), seguida do Reino Unido (1807) e Estados Unidos em 1810. É
claro que essas conquistas foram frutos não do senso de justiça ou da bondade
dos patrões e sim da luta dos escravos por sua libertação. Nos países
capitalistas, começava o processo de industrialização e as indústrias pediam operários
capazes de manobrar máquinas e que ganhassem salários para comprar os produtos
produzidos. No mundo industrial, não havia mais interesse em manter escravos da
gleba. Quem lutou contra a escravidão por motivos humanitários e por convicção
ética foram os revolucionários que queriam libertar a América Latina do domínio
europeu. Em outubro de 1810, Miguel Hidalgo proibia a escravidão na Nova Espanha (México). Pouco depois, na
Venezuela, Simon Bolívar proclamava o direito à liberdade para índios e negros.
E propunha educação para todos como caminho de promoção humana e igualdade
social. Somente em 1926, a Sociedade das Nações (atual ONU) assinou a convenção
que declarou ilegal a escravidão. Mesmo assim, ainda agora, em 2013, o relatório
anual da ONU denuncia que, no mundo, 30 milhões de pessoas humanas ainda são vítimas
de escravidão (Cf. Folha de S. Paulo, 17/10/2013).
Nesse relatório internacional, o Brasil é elogiado por sua legislação e pelo
trabalho do Ministério do Trabalho que tem conseguido libertar muitos
lavradores escravizados em latifúndios no campo e em carvoarias. Mas, ainda
existem focos de escravidão nos estados do Norte e na periferia de cidades
grandes como São Paulo.
As tradições religiosas afro descendentes têm
sido as mais fieis guardiães da dignidade e da liberdade das comunidades
negras. Para as comunidades cristãs da primeira geração, Paulo escreveu: “É
para que sejamos livres que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1. 13). “Onde está o
Espírito de Deus, aí tem de haver liberdade” (2 Cor 3, 17).
MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 44 livros publicados, dos
quais “O Espírito vem pelas Águas",
Ed. Rede da Paz e Loyola. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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