O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Juventude transviada revista aumentada




Por Maria Clara Bingemer



    Quando éramos jovens, os da minha geração ouviam falar muito em juventude transviada.  Vinha o conceito do famoso filme lançado em 1955, “Rebel without a cause”, com o prematuramente falecido grande artista James Dean.  E incluía moto (ou lambreta), casaco de couro, comportamento rebelde, prisão etc.

          No filme, Jim Stark (James Dean) é um jovem que se mete em várias encrencas, a ponto de obrigar os pais a mudarem de cidade.  Devido a seu comportamento transviado (ou seja, desviado do rumo certo) é preso de madrugada por embriaguez e desordem.  Na prisão encontra Judy (Natalie Wood), com quem vai tentar um relacionamento mais próximo, sendo interceptado pelo noivo da moça.  O filme acaba, é óbvio, com trágicas consequências.

          James Dean criou um estilo imorredouro em termos de moda, perfil e estilo, para os jovens de várias gerações como o ícone da juventude rebelde que contestava os padrões da sociedade burguesa estabelecida dos Estados Unidos bem comportados. Esse padrão foi exportado mundo afora na medida em que as diversas sociedades, sobretudo a ocidental em que vivemos, mimetizava tudo o que vinha das terras do tio Sam.

          Lembro-me da preocupação dos pais de minha geração de que suas filhas namorassem rapazes que se enquadrassem no modelo transviado de lambreta, casaco de couro e cigarrinho na boca.  Assim como de que os filhos adotassem esse perfil.  Mal sabiam eles que a juventude transviada de James Dean, embora se autointitulasse rebelde sem causa, tinha - e como! – causas profundas para ser como era.  Era uma rebeldia  profundamente subjetiva, deixando emergir as frustrações e descaminhos de uma geração que começava a querer um modelo alternativo de sociedade e que pouco mais de uma década após o filme faria acontecer o grande evento sociocultural de maio de 1968.

          Certamente James Dean não poderia imaginar que seu transvio pareceria brincadeira de criança diante dos novos ídolos da juventude hodierna.  Que suas confusões pareceriam inocentes e mínimas diante, por exemplo, do comportamento do astro canadense Justin Bieber, de cabelinho louro e carinha de anjo barroco que acaba de fazer tournée artística pela América do Sul. Depois de ofender e destratar fãs que pagaram 3 mil reais para vê-lo emitir seus sons no palco, ser fotografado saindo de uma casa de massagem e filmado por uma desconhecida enquanto dormia, o queridinho teen ainda se deu o desplante de pichar muros no Rio de Janeiro sendo então autuado pela polícia.

          Mas isso era pouco e Bieber foi além.  Em São Paulo foi atingido por uma garrafa d´água e abandonou o palco em meio ao show.  Azar de quem pagou os absurdos 3 mil reais.  E na Argentina simplesmente “varreu” com o pé do microfone a bandeira nacional para fora do palco. Ou seja, seu desrespeito não é somente por seres humanos, mas também por símbolos nacionais.  Portanto, não se deve deixar nada que mereça respeito perto de Bieber, porque corre o risco de receber uma pichação, uma varredura inesperada ou sabe-se lá o que mais.

          Dá muita tristeza ver que o comportamento desse jovem artista, que deveria estar motivando e encantando os jovens que o escutam com sua arte, se “transvia” em um vandalismo totalmente sem fundamentos ou objetivos.  O que quer Justin com o que faz?  Nada.  Nada além de fazer o que lhe dá na telha, como se o resto da humanidade não existisse.  Nada além de reafirmar-se diante de si mesmo como o astro das multidões teen que enlouquecem diante de seu canto. 

          Nós nos perguntamos que modelos, que referências as novas gerações estão buscando e encontrando.  Se é alguém como Justin Bieber...valha-nos Nossa Senhora da Penha! Vibrar com o artista que admiramos, cantar com ele, ir aos shows...tudo bem, tudo ótimo.  Quem é que já não fez isto na vida?  Mas legitimar o comportamento transviado e equivocado do ídolo já é outra coisa.

          Já dizia a Bíblia que os ídolos não são nada.  São menores que nós, pois fabricados por nós mesmos ou por algum ourives, artesão que lhes põe ouro, pedras preciosas e outros adereços que o façam atrativo.  No caso de Justin Bieber, a mídia e a publicidade o adereçaram bastante.  Mas seu comportamento o mostra tal qual ele é.  Tão transviado que faz James Dean parecer um inocente garoto de subúrbio americano.
         
    Maria Clara Bingemer é professora do departamento de teologia da PUC-Rio. A   teóloga é autora de “Ser cristão hoje" (Editora Ave Maria).
 Copyright 2013 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato: agape@puc-rio.br>

CLIQUE AQUI - PARA LER OS TEXTOS MAIS ANTIGOS  ANTERIORES AO BLOG

Nenhum comentário:

Postar um comentário