Por Maria Clara Bingemer
Quando éramos jovens, os da minha geração
ouviam falar muito em juventude transviada. Vinha o conceito do famoso
filme lançado em 1955, “Rebel without a cause”, com o prematuramente falecido
grande artista James Dean. E incluía moto (ou lambreta), casaco de couro,
comportamento rebelde, prisão etc.
No
filme, Jim Stark (James Dean) é um jovem que se mete em várias encrencas, a
ponto de obrigar os pais a mudarem de cidade. Devido a seu comportamento
transviado (ou seja, desviado do rumo certo) é preso de madrugada por
embriaguez e desordem. Na prisão encontra Judy (Natalie Wood), com quem
vai tentar um relacionamento mais próximo, sendo interceptado pelo noivo da
moça. O filme acaba, é óbvio, com trágicas consequências.
James
Dean criou um estilo imorredouro em termos de moda, perfil e estilo, para os
jovens de várias gerações como o ícone da juventude rebelde que contestava os
padrões da sociedade burguesa estabelecida dos Estados Unidos bem comportados.
Esse padrão foi exportado mundo afora na medida em que as diversas sociedades,
sobretudo a ocidental em que vivemos, mimetizava tudo o que vinha das terras do
tio Sam.
Lembro-me da preocupação dos pais de minha geração de que suas filhas
namorassem rapazes que se enquadrassem no modelo transviado de lambreta, casaco
de couro e cigarrinho na boca. Assim como de que os filhos adotassem esse
perfil. Mal sabiam eles que a juventude transviada de James Dean, embora
se autointitulasse rebelde sem causa, tinha - e como! – causas profundas para
ser como era. Era uma rebeldia
profundamente subjetiva, deixando emergir as frustrações e descaminhos
de uma geração que começava a querer um modelo alternativo de sociedade e que
pouco mais de uma década após o filme faria acontecer o grande evento
sociocultural de maio de 1968.
Certamente James Dean não poderia imaginar que seu transvio pareceria
brincadeira de criança diante dos novos ídolos da juventude hodierna. Que
suas confusões pareceriam inocentes e mínimas diante, por exemplo, do
comportamento do astro canadense Justin Bieber, de cabelinho louro e carinha de
anjo barroco que acaba de fazer tournée artística pela América do Sul. Depois
de ofender e destratar fãs que pagaram 3 mil reais para vê-lo emitir seus sons
no palco, ser fotografado saindo de uma casa de massagem e filmado por uma
desconhecida enquanto dormia, o queridinho teen ainda se deu o desplante de
pichar muros no Rio de Janeiro sendo então autuado pela polícia.
Mas
isso era pouco e Bieber foi além. Em São Paulo foi atingido por uma
garrafa d´água e abandonou o palco em meio ao show. Azar de quem pagou os
absurdos 3 mil reais. E na Argentina simplesmente “varreu” com o pé do
microfone a bandeira nacional para fora do palco. Ou seja, seu desrespeito não
é somente por seres humanos, mas também por símbolos nacionais. Portanto,
não se deve deixar nada que mereça respeito perto de Bieber, porque corre o
risco de receber uma pichação, uma varredura inesperada ou sabe-se lá o que
mais.
Dá
muita tristeza ver que o comportamento desse jovem artista, que deveria estar
motivando e encantando os jovens que o escutam com sua arte, se “transvia” em
um vandalismo totalmente sem fundamentos ou objetivos. O que quer Justin
com o que faz? Nada. Nada além de fazer o que lhe dá na telha, como
se o resto da humanidade não existisse. Nada além de reafirmar-se diante
de si mesmo como o astro das multidões teen que enlouquecem diante de seu
canto.
Nós
nos perguntamos que modelos, que referências as novas gerações estão buscando e
encontrando. Se é alguém como Justin Bieber...valha-nos Nossa Senhora da
Penha! Vibrar com o artista que admiramos, cantar com ele, ir aos shows...tudo
bem, tudo ótimo. Quem é que já não fez isto na vida? Mas legitimar
o comportamento transviado e equivocado do ídolo já é outra coisa.
Já
dizia a Bíblia que os ídolos não são nada. São menores que nós, pois
fabricados por nós mesmos ou por algum ourives, artesão que lhes põe ouro,
pedras preciosas e outros adereços que o façam atrativo. No caso de
Justin Bieber, a mídia e a publicidade o adereçaram bastante. Mas seu
comportamento o mostra tal qual ele é. Tão transviado que faz James Dean
parecer um inocente garoto de subúrbio americano.
Maria Clara Bingemer é professora do
departamento de teologia da PUC-Rio. A teóloga é autora de “Ser
cristão hoje" (Editora Ave Maria).
Copyright 2013 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é
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