Por Marcelo Barros
Baseados na
visão sócio-política da realidade, estudiosos tentam descortinar algo sobre o
futuro da sociedade. Em geral, essa análise é mais conflitiva do que as
previsões religiosas ou místicas. Economistas julgam que a crise econômica
mundial vai continuar e até se aprofundar em 2014, já que os governos mais
responsáveis pela crise querem resolvê-la sem rever em nada o sistema capitalista
que causou todo o mal. É como se um médico quisesse curar o doente tratando-o com
o próprio veneno que provocou a enfermidade. No plano ecológico, também as
perspectivas não são otimistas. Em diversas regiões do planeta, esse ano começa
com inundações devastadoras e secas destruidoras. Invernos mais rigorosos e
verões escaldantes parecem ser resultado do aquecimento global. Ao mesmo tempo,
a população da terra se torna mais urbana. Isso cria mais necessidade de água,
a cada dia, mais escassa. E a destruição ecológica está intimamente ligada à
desigualdade social e à injustiça que, infelizmente, ainda vigoram no mundo em
alguns continentes se agravam e aumentam.
De quatro em
quatro anos, no início de cada novo mandato presidencial nos Estados Unidos, o National Intelligence Council (NIC),
departamento de análise e antecipação geopolítica e econômica da CIA (Central Intelligence Agency), publica um
relatório. Apesar de pertencer à CIA norte-americana e, portanto, apresentar
uma visão do mundo a partir dos interesses do governo dos Estados Unidos, esse
documento é feito a partir de uma ampla consulta a cientistas e estudiosos
independentes de várias universidades e centros de pesquisa de todo o mundo.
Por isso, o relatório norte-americano contém elementos e análises que
interessam à sociedade internacional [1].
O relatório mais
recente é do começo de 2013, quando o presidente Obama iria começar o seu
segundo mandato. Os dados pretendem falar do mundo desses próximos anos. No
entanto, são questões que já aparecem em 2014 e, por isso, podem entrar em uma
análise de perspectiva para esse ano.
Uma constatação
do relatório é a de que, cada vez mais, as maiores coletividades do mundo
passam a ser não mais países e sim comunidades virtuais, congregadas pela
internet. Nesse início de 2014, calcula-se que um bilhão de pessoas no mundo
já esteja ligado através do Facebook, Twiter e outras redes sociais. No norte
da África e em outras regiões, várias manifestações políticas têm sido
convocadas e coordenadas através da internet. A previsão é de que, graças ao
acesso à rede e ao uso de novas ferramentas digitais, as estruturas de poder
social e político no mundo comecem a mudar. O relatório adverte que, para
evitar isso, a CIA e os órgãos de segurança deverão usar a internet para,
através dela, exercer “uma capacidade sem precedentes de vigiar os cidadãos”. Como
se o papel dos governos fosse controlar os cidadãos e impedir que a sociedade
civil consiga se articular de forma mais horizontal e democrática.
Outra constatação do relatório é prevista para
os próximos anos: o “declínio do Ocidente”. Trata-se do fim da hegemonia
política e militar dos países que durante os últimos séculos mandaram no mundo.
“Caminhamos para um mundo multipolar, no qual novos atores, como a China, a
Índia e outros países começam a construir novos polos continentais sólidos e a
disputar a supremacia internacional que antes era dos EUA, Alemanha, Reino
Unido e França”. A crise econômica e a integração do mundo dos pobres
conseguiram o que a Al Qaeda não conseguiu: enfraquecer o império.
No Brasil, 2014
será ano de eleições presidenciais e estaduais. Até junho, os meios de
comunicação se ocuparão da Copa do mundo. Depois, farão da campanha eleitoral o
seu show. Tomara que candidatos e partidos possam discutir projetos políticos
para o país e não apenas promessas eleitorais. Para quem é cristão, é
importante discernir qual o projeto político mais justo. Ao servir melhor à
maioria do povo, esse projeto se torna sinal e instrumento da realização do
projeto divino de paz e justiça para o mundo.
[1] Cf.
IGNACIO RAMONET, O mundo em 2030, in
Fato
e Razão, 83, setembro 2013, p. 26.
MARCELO BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 45
livros publicados, entre os quais “O Amor fecunda o Universo (Ecologia e
Espiritualidade) com co-autoria de Frei Betto. Ed Agir, 2009.
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