Por Leonardo Boff
Algo inaudito está
acontecendo com a Igreja Católica sob a direção do Papa Francisco. Uma coisa é
falar dos pobres e dos excluídos e denunciar a violência praticada contra eles.
E deixá-los lá longe com suas penas. A Igreja assumia, normalmente, uma função
tribunícia: se propunha representar, como um tribuno, os pobres. Agora
com esse Papa, na linha da tradição latino-americana, os pobres e excluídos são
considerados sujeitos autônomos.
Como tais são
convocados a Roma, junto à Sé Apostólica, para falarem por si mesmos. Ouvir a
versão das vitimas e não apenas ouvir os analistas científicos das causas que
os tornam o que são, excluídos e explorados. O Papa empenhou a Academia
Pontificia de Ciências para estudar as causas desta perversão.
O tema fala por
si: “A emergência dos Exluidos“. Isso nos remete a um tema central da Teologia
da Libertação ainda nos seus primórdio:”A emergência dos pobres“. Lá
estava João Pedro Stédile do Movimento dos Sem Terra- Via Campensina, Juan
Grabois do Movimento do Trabalhadores Excluidos e ainda os Trabalhadores
da Economia Popular entre outros que falaram no seu próprio dialeto de
movimentos de base. Grabois foi posteriormente recebido pessoalmente pelo Papa.
Uma coisa é ver o
Brasil a partir das caravelas dos colonizadores: a paisagem é uma. Outra coisa
é ver o Brasil a partir da praia: uma paisagem diria paradisíaca composta de índios
inocentes, nus e hospitaleiros. É um outro Brasil. Algo semelhante ocorre aqui.
Agora podemos ouvir como as vítimas denunciam elas mesmas os causadores de sua
desgraça e da guerra total que se move contra a Mãe-Terrra. Como vão se
justificar os “donos” do mundo, do dinheiro, dos rumos que impõem com força e
violência aos outros?
Terão que vir a
público e todos poderemos ver as suas desrazões e a crueldade e impiedade
que praticam contra o sistema-vida, sistema-Humanidade e sistema-Terra. Por que
a grande mídia não deu relevância nenhuma a este fato? É porque essa “gente”
não conta para o sistema. Somente atrapalham “o crescimento”. Mas algo do
Spirtus Creator, chamado de “Pater pauperum” pela liturgia da festa do Espírito
Santo, o “Pai dos Pobres” está irrompendo na Humanidade pelos caminhos da
Igreja franciscana de Francisco de Roma, seguidor de Francisco de Assis. Poderá
ser o começo de uma nova vontade de reinventar a Humanidade par que não seja
tão malvada e inimiga da vida.
Leonardo Boff escreveu Cuidar da Terra, proteger a vida: como
evitar o fim do mundo, Record, Rio 2010.
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