por
J u r a c y A n d r a d e
Talvez
eu esteja insistindo muito neste tema, mas o nosso papa Francisco continua surpreendendo
e a gente tem de escutá-lo, seguir os caminhos que ele aponta e apoiá-lo em sua
peleja pela restauração da igrejinha da Porciúncula (Assis), símbolo da limpeza
que São Francisco pretendeu fazer na Igreja de Cristo. Começo estranhando que
ele tenha convocado um consistório para a promoção de mais uma leva de
cardeais. Cardeal? O que é isso? Uma excrescência imperial para promoção de
cortesãos e, paralelamente, podagem no poder dos bispos, alheia à tradição
apostólica da Igreja. Mas talvez ele sinta que não pode de repente rasgar tanta
púrpura e prestigiar mais o Sínodo dos Bispos. Deve pensar assim: devagar com o
andor que o santo é de barro ... Já mexeu com muita gente de peso, como Cúria
Romana, máfia, capitalismo selvagem (Evangelii
gaudium).
Recentemente,
no Jornal do Commercio, lembrei a
advertência de um promotor italiano que disse que a máfia já está de olho nesse
teimoso argentino que decidiu acabar com a lavanderia de dinheiro sujo que é o
IOR (Banco do Vaticano). O certo é que precavidamente e lembrado do que
aconteceu com João Paulo 1º, que morreu misteriosamente um mês depois de
eleito, Francisco que não foi morar no Palácio Apostólico (moravam os apóstolos
em palácios?), preferindo a mais moderna e sem ciladas medievais Casa Santa Marta.
Encantam-nos suas palavras humanas e misericordiosas para com os pecadores e
sua condenação de uma economia de exclusão, no documento Evangelii gaudium, o que logo lhe valeu as iras dos donos do mundo.
A essa economia que domina o mundo, do deus Mercado, do consumismo, da exclusão
e coisificação das pessoas “devemos dizer não” [...] “porque essa economia
mata”, escreveu Francisco. Gente, é o resgate da Teologia da Libertação com sua
opção preferencial pelos pobres.
Outro
resgate dessa era, digamos assim, franciscana é o das comunidades eclesiais de base
(CEBs), tão malvistas e perseguidas pelos papas que se seguiram à súbita e
misteriosa morte de João Paulo 1º. Francisco enviou um texto de apoio ao 13º
Encontro Intereclesial das CEBs, iniciado no dia 7 de janeiro em Juazeiro do
Norte (CE). Em artigo neste Porta-Voz,
o teólogo e historiador Eduardo Hoornaert fala sobre isso e conta como surgiram
as CEBs, nos anos 1970 (vejam o texto). Ele faz uma observação a respeito do
conselho papal no sentido de que as CEBs “se integrem de bom grado na pastoral
orgânica da Igreja”. Esclarece Hoornaert que essa pastoral é programada pelo
clero, o que poderia embotar a iniciativa leiga característica dessa notável
experiência. Competente historiador da Igreja e de suas origens nos dois
primeiros séculos, o autor adverte que essa “clericalização” pode prejudicar “um
projeto que só pode dar resultados se os leigos ocupam efetivamente postos
independentes de mando”. Não obstante, a simpática mensagem do papa às CEBs
significa uma reviravolta no posicionamento dos ultraconservadores papas
Wojtyla e Ratzinger.
Juracy
Andrade é jornalista com formação em teologia
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