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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Mais Cardeais? Para Quê? O que é um Cardeal?



por   J u r a c y   A n d r a d e


     Talvez eu esteja insistindo muito neste tema, mas o nosso papa Francisco continua surpreendendo e a gente tem de escutá-lo, seguir os caminhos que ele aponta e apoiá-lo em sua peleja pela restauração da igrejinha da Porciúncula (Assis), símbolo da limpeza que São Francisco pretendeu fazer na Igreja de Cristo. Começo estranhando que ele tenha convocado um consistório para a promoção de mais uma leva de cardeais. Cardeal? O que é isso? Uma excrescência imperial para promoção de cortesãos e, paralelamente, podagem no poder dos bispos, alheia à tradição apostólica da Igreja. Mas talvez ele sinta que não pode de repente rasgar tanta púrpura e prestigiar mais o Sínodo dos Bispos. Deve pensar assim: devagar com o andor que o santo é de barro ... Já mexeu com muita gente de peso, como Cúria Romana, máfia, capitalismo selvagem (Evangelii gaudium). 

     Recentemente, no Jornal do Commercio, lembrei a advertência de um promotor italiano que disse que a máfia já está de olho nesse teimoso argentino que decidiu acabar com a lavanderia de dinheiro sujo que é o IOR (Banco do Vaticano). O certo é que precavidamente e lembrado do que aconteceu com João Paulo 1º, que morreu misteriosamente um mês depois de eleito, Francisco que não foi morar no Palácio Apostólico (moravam os apóstolos em palácios?), preferindo a mais moderna e sem ciladas medievais Casa Santa Marta. Encantam-nos suas palavras humanas e misericordiosas para com os pecadores e sua condenação de uma economia de exclusão, no documento Evangelii gaudium, o que logo lhe valeu as iras dos donos do mundo. A essa economia que domina o mundo, do deus Mercado, do consumismo, da exclusão e coisificação das pessoas “devemos dizer não” [...] “porque essa economia mata”, escreveu Francisco. Gente, é o resgate da Teologia da Libertação com sua opção preferencial pelos pobres.
 
     Outro resgate dessa era, digamos assim, franciscana é o das comunidades eclesiais de base (CEBs), tão malvistas e perseguidas pelos papas que se seguiram à súbita e misteriosa morte de João Paulo 1º. Francisco enviou um texto de apoio ao 13º Encontro Intereclesial das CEBs, iniciado no dia 7 de janeiro em Juazeiro do Norte (CE). Em artigo neste Porta-Voz, o teólogo e historiador Eduardo Hoornaert fala sobre isso e conta como surgiram as CEBs, nos anos 1970 (vejam o texto). Ele faz uma observação a respeito do conselho papal no sentido de que as CEBs “se integrem de bom grado na pastoral orgânica da Igreja”. Esclarece Hoornaert que essa pastoral é programada pelo clero, o que poderia embotar a iniciativa leiga característica dessa notável experiência. Competente historiador da Igreja e de suas origens nos dois primeiros séculos, o autor adverte que essa “clericalização” pode prejudicar “um projeto que só pode dar resultados se os leigos ocupam efetivamente postos independentes de mando”. Não obstante, a simpática mensagem do papa às CEBs significa uma reviravolta no posicionamento dos ultraconservadores papas Wojtyla e Ratzinger.


Juracy Andrade é jornalista com formação em teologia

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