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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Igreja terra prometida após caminhada no deserto



Por  Juracy Andrade


A Igreja de Cristo, a meu ver, e também na visão de muita gente mais autorizada que eu, pelo saber teológico e posição no contexto eclesial, caminha, com a celeridade possível, no rumo de uma profunda reforma. Não uma reforma como outras por que passou, com alguns concílios, com papas como Gregório Magno. Mas algo muito mais estrutural e também aprofundado nas comunidades e na pessoa de cada cristão, no caminho de uma retomada do grande concílio dos anos 1960, solapado e descafeinado por papas posteriores ao grande João 23 e, principalmente, pela temível máfia da Cúria Romana. Uma reforma no sentido de uma retomada da fé e das práticas da Igreja dos primeiros séculos, antes de ela cair nos braços do Império Romano, no século 4º.

Felizmente, depois de tanto tempo de caminhada no deserto, temos um bispo de Roma que não pretende ser o dono da Igreja e proprietário das almas dos crentes. Ele quer ouvir os outros componentes do Colégio Apostólico para saber o que pensam e querem os cristãos das mais diversas regiões do mundo. Pela primeira vez na história do papado, ele criou um conselho permanente de oito cardeais representando regiões. E enviou um amplo questionário sobre temas como divórcio, união homossexual, uso de anticoncepcionais para os bispos levarem aos fiéis de todo o mundo antes do Sínodo dos Bispos marcado para outubro. Além disso, apeou do poder o cardeal Tarcisio Bertone, que comandava a seu talante a Secretaria de Estado. E anunciou um superministério com a espinhosa missão de dar transparência às nebulosas finanças do Vaticano, o que inclui o IOR (Banco do Vaticano), acusado de tenebrosas transações como a lavagem de dinheiro das máfias. Não esqueceu o triste e constrangedor abuso de crianças por parte de padres e religiosos em busca de uma escapatória para o voto de castidade (tipo: ter mulher não pode; mas escandalizar crianças pode).

Outra marca do Hermano Francisco é a sua espontaneidade e antiformalismo. Saúda os fiéis com um popular “bom dia” ou “boa noite”. Telefona pessoalmente para quem lhe envia cartas. Na Semana Santa de 2013, lavou os pés (liturgia) de menores infratores, incluindo uma menina (que horror! para a hipocrisia vigente) e um muçulmano. No dia do seu aniversário, comemorou com três moradores de rua com quem tomou capuccino e comeu croissants; e mais um cachorro vira-lata. Seu despojamento o levou a descartar a luxuosa estola estabelecida para posses papais, e vestes e sapatos como os que os seus predecessores usavam, além de ir morar numa hospedaria vaticana; nada de Palácio Apostólico. Uma batina branca simples é sua vestimenta e não se senta em trono. Ele é contra o luxo, qualquer forma de ostentação e chegou a afastar um bispo alemão amigo de grandes gastos, igrejas e palácios suntuosos.

Frases inesperadas marcaram seu primeiro ano de papado. “Se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” “Eu me sinto mal quando vejo um padre ou uma feira com um carro de último modelo. Assim não dá!” “Quando o amor fracassa, e fracassa muita vezes, devemos sentir a dor desse fracasso. Não devemos condenar [os divorciados]. É preciso caminhar com eles”. “No centro da atual globalização não está a pessoa humana, apenas o dinheiro.” Outro ponto a assinalar é a aproximação dele a líderes do judaísmo e do protestantismo, num promissor indício de abertura.

A crítica ao capitalismo e à globalização desumana, principalmente na exortação apostólica Evangelii Gaudium, destoa de toda a mais do que secular pregação da chamada doutrina social da Igreja. Para Leão 13 (encíclica Rerum Novarum) e outros papas, o socialismo era mesmo que um satanás e o máximo que os patrões capitalistas deviam fazer era tratar bem seus operários, dar-lhes moradia. Daí que, inspirados na Rerum Novarum, os pioneiros pernambucanos da indústria têxtil, no início do século 20, ciaram vilas populares ao redor de suas fábricas, como a TSAP, Torre, Camaragibe etc. Já para Francisco, “Não há esperança social sem trabalho decente para todos [...]. Neste sistema sem ética, no centro há um ídolo, e o mundo tornou-se idólatra desse deus dinheiro. É o dinheiro que manda”. É o que ele disse a mineiros da Sardenha, em visita que lhes fez. Para o jornalista italiano Claudio Bernabucci, o papa fala as palavras de paz e amor do santo de Assis, mas age com os métodos e a audácia de Inácio de Loyola, o fundador da ordem dos jesuítas, a que Francisco pertence.


Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia

Um comentário:

  1. O REBANHO DE DEUS
    Hoje em dia, cada congregação local é um rebanho de ovelhas de Deus. Os presbíteros são aqueles que estão encarregados: "Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes tornando-vos modelos do rebanho" (1 Pedro 5:2-3)
    É freqüente demais o quadro que temos de presbíteros "dois ou três homens de pé num canto tomando decisões pela igreja" ou sentados em volta de uma mesa entrevistando um candidato a pregador ou trabalhando num orçamento. Muitas das nossas orações pedem que eles presidam bem (1 Timóteo 5:17), mas isto não é sua função maior. Os pastores tomam certas decisões e supervisionam o rebanho, mas a maior parte do seu tempo é gasto com as ovelhas, provendo suas necessidades e cuidando delas individualmente.
    O "Supremo Pastor" tem todo direito a esperar que os pastores das igrejas locais reflitam Seu próprio amor e cuidado pelas ovelhas. Eles, também, precisam defender o rebanho (Tito 1:9-11); eles precisam alimentar as ovelhas labutando "na palavra e no ensino"(1 Timóteo 5:17); e precisam conduzir sendo exemplos para o rebanho (1 Pedro 5:3). Para cumprir tudo isto, eles precisam conhecer o rebanho, fazendo um esforço para conhecer cada ovelha pelo nome e ser conhecido por elas. Eles precisam contar o rebanho, não por orgulho, mas para saber exatamente quantas ovelhas estão sob sua responsabilidade. Se uma estiver faltando (não apenas à assembléia, mas à fidelidade diária), eles precisam estar prontos a ir e encontrá-la para que possam admoestar os insubmissos, consolar os desanimados, amparar os fracos, e ser longânimes para com todos (1 Tessalonicenses 5:14). Eles deverão estar dispostos a sacrificar até suas vidas.
    Os pastores de um rebanho local têm que dar conta de cada ovelha (Hebreus 13:17).
    PB. CLAUMIR GOMES

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