por Marcelo
Barros
No final
dessa semana, muitas pessoas aproveitam os três dias de feriado para passear,
ou para visitar parentes ou mesmo para simplesmente descansar. Em alguns
lugares, grupos encenam a paixão de Jesus Cristo. Nas Igrejas de tradição antiga,
as comunidades celebram o fato mais importante de sua fé: a festa da Páscoa.
A Páscoa
surgiu como uma celebração da primavera no hemisfério norte. E de acordo com a
tradição judaica, foi por ocasião de uma celebração da Páscoa que um grupo de
escravos no Egito (do clã dos hebreus) sentiu-se chamado por uma energia divina
para sair da escravidão e caminhar para uma terra livre. Até hoje, em todas as
sinagogas do mundo, a cada ano, as comunidades judaicas comemoram a Páscoa para
recordar a libertação do Êxodo. Ao fazerem isso, elas atualizam a mensagem de que toda pessoa humana tem a
vocação da liberdade e de sempre caminhar para um mundo novo e mais feliz.
Para as
Igrejas cristãs, foi durante uma Páscoa, em Jerusalém, que Jesus de Nazaré foi
morto e Deus lhe deu uma vida nova. Essa vida nova, Jesus, reparte com todas as
pessoas que aceitem segui-lo, na missão de testemunhar no mundo o projeto
divino de paz e justiça.
São esses
fatos que, a cada ano, as Igrejas históricas celebram na Semana Santa. O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios:
“Este é o tempo da graça, hoje é o dia da salvação” (2 Cor 5). Então, todo dia
é dia de graça e toda semana é santa. Mas, as comunidades cristãs gostam de
dedicar uma semana do ano e especificamente um tríduo para atualizar a memória
desses acontecimentos mais centrais da fé. Durante muitos séculos e até hoje, em muitas
comunidades do interior, as pessoas simples fazem ritos que recordam a morte e
o sepultamento de Jesus. Em alguns lugares da América Latina, as procissões do
Senhor morto reúnem multidões.
Na Igreja
Católica, a renovação das celebrações pascais, iniciada na década anterior, foi
completada pelo papa João XXIII, há cinquenta anos. E o papa Francisco, ao
falar da alegria do Evangelho (Evangelii
Gaudium), escreveu que os cristãos não podem ficar em uma Quaresma sem
Páscoa. O mais importante é que mesmo no meio da dor e das lutas da vida,
celebremos a resistência e a esperança da vitória já alcançada, ao menos, como
promessa. Um dos antigos cristãos dizia que, para quem vive a fé, as
celebrações pascais que fazemos cada ano fazem da vida da gente, mesmo no meio
das dores e das lutas, uma festa
permanente. Ao celebrar a ressurreição
de Jesus, os cristãos celebram a vida nova que ele nos dá. Para significar isso, a Igreja batiza os
cristãos adultos na grande celebração pascal. E durante os 50 dias do tempo
pascal, os cristãos antigos oravam de pé, sem nunca se ajoelhar, para sinalizar
a atitude de quem, diante da vida, se coloca altaneiro e resistente.
Todos esses
símbolos e crenças pertencem a grupos cristãos. Atualmente, no plano cultural e
religioso, o mundo é diversificado e pluralista. Uma cultura não deve se impor
sobre outra e menos ainda tem sentido uma religião civil, como se fosse a
ideologia religiosa da sociedade dominante.
Não se trata de fazer como alguns países da Europa que, sob pretexto da
laicidade, ocultam racismo contra os muçulmanos e proíbem as mulheres de usar
véu. Nem é questão, no Brasil, de vetar o uso de tambores ou de sacrifícios de
animais em terreiros afro. Nesses casos, são sempre grupos minoritários e
pobres que são visados. Trata-se sim de dar a todos os segmentos a mesma
liberdade e de ajudar cada grupo a se abrir aos outros.
Embora em
datas diversas, a Páscoa é uma festa comum a duas religiões (o Judaísmo e o
Cristianismo). Entre as Igrejas cristãs, todas as Igrejas antigas a celebram.
Assim mesmo, para que a Páscoa tenha um sentido para toda a sociedade, é
importante que, sem perder o sentido próprio que ela tem para as Igrejas, juntos
com toda a humanidade, os cristãos possam recuperar a sua dimensão ecológica.
Assim, cuidaremos melhor da natureza para celebrar sua renovação como sinal do
amor divino pelo universo. Paulo escreveu aos gálatas: “O importante é que se
manifeste a criação renovada. Essa é a obra de Deus”
Marcelo
Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e
assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades
eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da
ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45
livros publicados no Brasil e em outros países.
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