Por Marcelo Barros
Nesses dias, as comunidades cristãs
celebram a ressurreição de Jesus, como o eixo fundante da fé e garantia de vida
nova para todas as pessoas que creem. O apóstolo Paulo afirmou: “Se Cristo não
ressuscitou, a nossa fé é inútil e vazia. Além disso, nós (que cremos nisso)
seríamos de todas as pessoas, as mais dignas de lástima” (1 Cor 15, 18- 19). No
entanto, a fé de que Jesus ressuscitou não diz respeito somente a ele. Afirma
que ele, Jesus, é o primeiro fruto de uma humanidade nova e início de um
universo transformado.
Através de todas as filosofias,
culturas e religiões, a humanidade sempre se debateu diante da morte como um
enigma e sobretudo como um escândalo. De tal forma, as pessoas aspiram à vida e
a uma vida plena, que a ideia de uma vida que vence a morte está incrustrada no
mais profundo do coração humano. Em todas as culturas e religiões, de algum
modo, persiste um horizonte de esperança. A tradição judaica assume essa
tradição quando ensina que, no final da história, o amor divino realizará uma
transformação radical e absoluta do mundo e da vida. No primeiro testamento, o
termo ressurreição aparece como parábola do ressurgimento do povo de Israel
como povo livre e altaneiro, “de pé” e congregado pelo Espírito (Ver Ezequiel
36 e 37). No Novo Testamento, as cartas paulinas e os evangelhos afirmam que a
ressurreição de Jesus é o inicio de um mundo novo e de uma humanidade renovada.
A ressurreição de Jesus revela que, apesar de todo o poder do mal no mundo,
quem venceu não foi o opressor e sim o oprimido. A vítima triunfou sobre o seu
verdugo e nessa vitória, todos os povos, comunidades e pessoas podem ter
esperança de justiça e libertação.
Na América Latina, para a maioria
das pessoas a realidade atual ainda é mais de cruz do que de ressurreição. Por
isso, talvez, até hoje, os ritos que lembram a morte de Jesus têm mais
popularidade do que a celebração da ressurreição. No entanto, é preciso que
vejamos na própria cruz o sinal da vitória e possamos celebrar a cruz na
esperança e na alegria antecipada da ressurreição já presente como força de
resistência e profecia de justiça. Nas últimas décadas, diversos países
latino-americanos vivem um processo social e político novo no qual os mais
pobres vivem sua caminhada de libertação.
Muitas pessoas ainda têm medo do
termo revolução. Essa palavra parece ser sinônimo de violência. Ao contrário, Paulo Freire definia revolução
como todo processo transformador que vai até a raiz dos problemas, atinge toda
a estrutura social e política e tem como efeito a paz e a liberdade para todos.
Marcelo
Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e
assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades
eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da
ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45
livros publicados no Brasil e em outros países.
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