Por Frei Betto
Sabe-se
que a colonização da América Latina por países europeus, em especial Espanha e
Portugal, foi profundamente marcada por roubos, saques, extermínio dos povos
originários, escravidão e ampla corrupção daqueles que, no Novo Mundo,
gerenciavam os interesses dos colonizadores.
Na
América Latina, a corrupção é um legado de nossa herança colonial. Somos
herdeiros de uma tradição escravocrata, que deixou profundas sequelas em nossas
estruturas e em nossos hábitos. Para sobreviverem ou alcançarem funções de
poder, muitos recorriam a subornos, ao peculato e ao nepotismo.
Na
tradição política da América Latina, os recursos públicos têm sido apropriados
em função de interesses privados. A lógica do sistema capitalista favorece esse
caldo de cultura ao considerar que os privilégios do capital devem estar acima
dos interesses do trabalho. Prática que se estende à “corrupção” da natureza
através da devastação ambiental.
Há,
pois, em todo o mundo, e especialmente na América Latina, uma verdadeira
oligarquia cleptocrática, para a qual a corrupção é um mecanismo intrínseco ao
sistema de contratos, acordos, negócios e transações, principalmente na relação
com o poder público. A cleptocracia é tanto mais facilitada quanto menos se
conta com mecanismos de controle social do Estado e da administração pública.
Essa
corrupção inerente ao nosso sistema político latino-americano corrobora para
desacreditar as instituições políticas e viciar sempre mais os processos
eleitorais. No Brasil, as empresas não votam mas ganham eleições...
Pesquisa
da ONG Transparência Internacional, com sede em Berlim, divulgada em dezembro
de 2013, apontou que Somália, Coreia do Norte e Afeganistão são os países onde
há mais corrupção, enquanto Dinamarca e Nova Zelândia, seguidos de Luxemburgo,
Canadá, Austrália, Holanda e Suíça se destacam como os países onde há mais
transparência nas contas públicas.
Entre
177 países pesquisados, o Brasil figura em 72º lugar. Na América Latina,
aparece como mais vulnerável à corrupção que Chile, Uruguai, Costa Rica e Cuba,
entre outros. E menos que Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador.
Dos
países avaliados, em 70% há fortes indícios de que funcionários públicos são
maleáveis a subornos.
A
Venezuela aparece na lista como um dos países onde há mais corrupção (160º
lugar), enquanto os mais transparentes são o Uruguai (19º) e o Chile (22º).
Finn Heinrich, coordenador da pesquisa, admite que a corrupção atinge, em
primeiro lugar, os mais pobres: “Se você observa os últimos países da lista, os
cidadãos mais pobres são os mais prejudicados. Iraque, Síria, Líbia, Sudão e
Sudão do Sul, Chade, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Haiti, Turcomenistão,
Uzbequistão e Iêmen figuram entre os países nos quais grassa mais corrupção na
administração pública e nas empresas privadas. A corrupção está muito
relacionada a países em decomposição, como Líbia e Síria.” É o caso também do
Afeganistão.
Frei Betto é escritor, autor de
“Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.
http://www.freibetto.org/>
twitter:@freibetto.
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