por Juracy
Andrade
A pauta é o Sínodo, tão
básico na tradição apostólica e tão relegado desde que o papa virou imperador
de Roma (Francisco á apenas bispo de Roma, como ele mesmo fala) e se criou uma
corte cardinalícia de aproveitadores sem compromisso com a Igreja de Cristo e
que usurparam o lugar dos sucessores dos apóstolos. Tirei o título destas reflexões
das palavras de Jesus Cristo no Evangelho de Mateus, capítulo. 9, versículo 13,
tradução da Vulgata de São Jerônimo. Tirado do esquecimento pelo Concílio dos
anos 1960, o Sínodo dos Bispos foi relegado, como não poderia deixar de ser,
pelos papas Wojtyla e Ratzinger (João Paulo 2º e Bento 16). As conclusões e
decisões de qualquer reunião de bispos só tinham valor depois de passar pelo
crivo da Cúria Romana, que se reservava o direito de censurar os bispos. Como
na reunião do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), em Aparecida, que
contou com a participação do cardeal Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires
e hoje o revolucionário papa Francisco. Este revigorou a instituição do Sínodo
e foi voto vencido em algumas questões ali abordadas. Ouviu e valorizou os
sucessores dos apóstolos. Não impôs sua vontade imperial.
Na abertura, exortou os
participantes ao diálogo aberto, sem hipocrisia, sem orgulho e sem temor. Na
contramão do conformismo e de outras doenças que afetam o mundo político e o
religioso. Muito diferente do dogmatismo do Santo Ofício de Ratzinger e das
imposições imperiais de Wojtyla.. Este Sínodo especial (o ordinário será no ano
que vem e terá conclusões e diretrizes) foi preparado durante mais de um ano,
através da busca de respostas a um questionário elaborado pelo papa Francisco.
Junto com o próximo Sínodo, ele é de suma importância para a implantação das
reformas que o bispo de Roma deseja. Temas complexos e historicamente ignorados
pela Cúria Romana, como uniões de fato, uniões de gays, exclusão da mulher,
métodos contraceptivos, celibato dos padres, participação de divorciados na
eucaristia fizeram parte das deliberações sinodais.
Vamos esperar o Sínodo
ordinário, no próximo ano, mas o que acaba de se encerrar foi uma prova muito
importante para Francisco testar a receptividade à revolução que propõe. Ele
ainda não pode acabar totalmente com os poderes que se atribui a Cúria Romana.
Basta lembrar que ainda está aí firme o cardeal alemão Gerhard Müller, prefeito
da Congregação para a Doutrina da Fé, um êmulo do papa alemão. E também que o
secretário particular de Ratzinger já expôs seu pensamento de que Francisco
está desmoralizando a instituição papal. Nada mais disse nem lhe foi
perguntado, mas isso basta.
A verdade, como lembra o
monge Marcelo Barros (colaborador deste Porta-Voz), é que muitos bispos se
dizem de acordo com as propostas do papa de renovação eclesial, mas formam seus
seminaristas, futuros padres, dentro de uma linha contrária a qualquer mudança.
Ele também propõe que o Sínodo seja uma instituição permanente. O que talvez
levasse de fato ao desmantelamento da Cúria Romana. Lembra afinal uma palavra
de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia: “A Igreja não
pode ser apenas uma democracia. Ela tem de ser muito mais. Deve ser e se
mostrar como comunhão”.
PS – Muito bom o blogue de
Rejane misturadeletras.blogspot.com.br Também a edição mais recente do Jornal
Igreja Nova, baluarte da resistência contra os desmandos de Dom Dedé, seguido
de perto hoje, e talvez até ultrapassado, por Dom Aldo Pagotto, arcebispo da
Paraíba.
Juracy Andrade é
jornalista com formação em filosofia e teologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário