por Frei Betto
O
Vaticano acaba de reconhecer o Estado Palestino. Soma-se, assim, aos 137 países
que já fizeram o mesmo. EUA e Israel insistem em se posicionar contra.
No
último dia 16, o papa Francisco recebeu, em Roma, Mahmoud Abbas, presidente da
Autoridade Nacional Palestina. Qualificou-o de “anjo da paz”. O gesto carrega o
significado simbólico de explicitar o apoio da Igreja Católica à causa
palestina.
O
objetivo do encontro foi debater o combate ao terrorismo. Em países como Síria,
Iraque e Líbia, cristãos têm sido martirizados pelo Exército Islâmico. Abbas,
como líder muçulmano, se opõe ao grupo terrorista que, como o Taliban, é fruto
da política equivocada dos EUA no Afeganistão e no Iraque.
As
negociações para o Vaticano reconhecer o Estado Palestino tiveram início em
1994, quando a Santa Sé, sob o pontificado de João Paulo II, estabeleceu
relações com a OLP (Organização para a Libertação da Palestina).
Hoje,
Francisco defende o direito de coexistirem os Estados da Palestina e de Israel,
o que não é aceito por este último. Israel sabe que, como Estado soberano e
independente, os palestinos terão direito de constituir forças armadas
regulares e manter arsenal bélico.
Netanyahu,
primeiro-ministro de Israel, teme ainda que o Estado Palestino apele à Corte
Internacional de Haia quanto à invasão de seu território por colonos sionistas.
Em
junho de 2014, Francisco recebeu, no Vaticano, o presidente de Israel, Shimon
Peres, e o presidente Abbas. Juntos, oraram pela paz no Oriente Médio com
preces judaicas, cristãs e muçulmanas.
Na
ocasião, o papa afirmou que “para fazer a paz é preciso coragem, muito mais do
que para fazer a guerra. É preciso coragem para dizer sim ao encontro, e não
aos enfrentamentos; sim ao diálogo, e não à violência; sim às negociações, e
não às hostilidades.”
No
último domingo, na presença de Abbas, Francisco canonizou as religiosas
palestinas Maria Danil Ghattas e Maria Baouardy, do século XIX. A primeira
fundou a Congregação das Irmãs do Rosário de Jerusalém e a segunda era monja
carmelita.
Francisco
desenvolve uma política exterior ousada, visando a estabelecer relações
diplomáticas da Igreja Católica com todos os governos. Ao contrário de João
Paulo II, não confunde capitalismo com democracia. E, na contramão de Bento
XVI, não atribui natureza violenta ao islamismo.
Sua
mais complexa missão diplomática é reatar os vínculos com a China comunista,
onde persistem duas Igrejas católicas, a Patriótica, admitida pelo Estado e não
reconhecida por Roma, e a clandestina, em regime de catacumbas, que se mantém
fiel ao papa.
Essa
a razão pela qual o Francisco evitou, recentemente, encontrar-se com o Dalai
Lama. Não quer passar ao governo chinês a impressão de que existe um pacto
antirreligioso contra a nação comunista. Além disso, as motivações do Dalai
Lama e de Francisco não coincidem. O primeiro quer resgatar a independência do
Tibete, hoje anexado à China. O segundo busca apenas liberdade religiosa.
A
União Europeia se deu conta, nos últimos tempos, de que no conflito
Israel-Estado Palestino reside o foco da escalada de violência no Oriente Médio
(Iraque, Síria, Líbia, Iêmen e Arábia Saudita).
Espera-se
que, em breve, a União Europeia defenda, no Conselho de Segurança da ONU, a
proposta abraçada por Francisco para a paz no Oriente Médio: a coexistência de
dois Estados, o palestino e o israelense.
Isso,
entretanto, seria apenas um importante passo rumo a um atribulado caminho
regido por duas lógicas conflitantes: a de Israel, teocrática, de que Javé
reservou aquelas terras como propriedade privada dos judeus, e a laica, dos
palestinos islâmicos e cristãos, de que muito antes de Moisés aquelas já eram
as terras de seus antepassados e de suas raízes.
Frei Betto é escritor,
autor, em parceria com Leonardo Boff, de “Mística e espiritualidade” (Vozes),
entre outros livros.
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twitter:@freibetto.
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